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Conversa afinada - MEO
D.R.

“Este é o meu destino, foi o fado que me escolheu”

No Clube dos Amigos do Fado (CLAF), Sara Correia fala-nos sobre o destino que sempre a escolheu, em mais uma Conversa Afinada.

Time Out em associação com MEO
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Considerada uma das novas grandes vozes do fado, Sara Correia abre as portas – literais e metafóricas – do sítio que a viu nascer como fadista. No Clube dos Amigos do Fado
(CLAF), fala-nos sobre o destino que sempre a escolheu, em mais uma Conversa Afinada.

Porque é que escolheste o CLAF?

Este espaço é muito importante para mim. É a minha igreja, o sítio onde venho buscar a
minha luz e as minhas forças para aquilo que a vida me tem dado ao longo do caminho, que
são esses espectáculos, os concertos. Aqui, é onde eu me sinto 100% eu.

Achas que se escolhe o fado ou o fado é que nos escolhe?

Nós não escolhemos nada. Quantos mais anos ando a cantar, quanto mais descubro o que é o fado, quanto mais me sinto ligada a ele, tenho mais a certeza que o fado é que nos escolhe. E fado significa destino, por algum motivo é. Portanto, este é o meu destino, e foi ele que me escolheu.

Dentro deste lado mais duro do fado, mais cru, sentes que trazes uma leveza ao género?

Acho que tento. Tento passar a forma como vejo a vida, como sinto as coisas. Canto muito o amor, o desamor, a tristeza - o fado são todas essas emoções. Mas fui buscar um sítio que é meu e que as pessoas possam olhar para mim e dizer “eu gosto deste fado, eu gosto do fado da Sara Correia. E isso é meio caminho andado para me sentir uma artista realizada.

Como é que decidiste lançar o teu primeiro álbum?

O fado leva muito tempo para ganhar maturidade, para sentir que tenho realmente
alguma coisa para dizer. Tive de crescer, passar por algumas desilusões, passar por
coisas que todos nós passamos. Quando me senti capaz de dizer alguma coisa, decidi falar
com o meu produtor musical – que ainda hoje o é, o Diogo Clemente – e disse: eu quero gravar. Passados dois meses estávamos a gravar o disco.

Nos teus álbuns tens grandes nomes que não são ligados tanto ao fado. Isto prova que o fado é mais universal do que aquilo que as pessoas pensam?

Completamente. Se algum dia achei que não, a partir do meu primeiro disco, o Sara Correia, tive a certeza que o fado tem uma capacidade enorme de entrar em qualquer estilo de música. Com o passar do tempo, vê- se o fado com o hip hop, com o pop, em todo o lado.

Não sendo tu a escrever, como é que interiorizas uma canção?

Tenho de me identificar com a letra. Não gravo nada que não faça sentido, não vou cantar algo vazio. O facto de o Diogo Clemente ser meu amigo desde os três anos, faz com que conheça bem a minha vida; a Carolina [Deslandes] conhece muito bem a minha vida, hoje o Pedro [Abrunhosa] conhece-me muito bem. Portanto acaba por ser fácil as pessoas escreverem para mim e eu gostar. Porque me conhecem e sabem o que é que eu quero dizer. No caso do “Chelas”, foi um grande tema. E eu sempre disse à Carolina, “eu tenho de falar sobre o meu bairro, eu gostava muito de lhes mostrar que estou aqui, que vou estar sempre aqui. Independentemente de não viver em Chelas neste momento, sou daqui, destas
pessoas, sou feita destas pessoas”. E portanto, para a Carolina foi super fácil.

A propósito deste tema, dizes “ser da rua é sempre nobre”. Sentes que ainda há muito preconceito?

Já houve mais. As pessoas estão mais instruídas, porque ninguém escolhe onde nasce. Nós, que crescemos nos bairros, é que decidimos para onde queremos ir e que rumo queremos para a nossa vida.

Este tema e outro fazem parte do álbum Liberdade. Porquê este título? O que é que este álbum encerra de diferente?

Eu precisava de me sentir livre destas amarras que eu própria me pus em relação ao fado. De sentir que não tenho medo de me mostrar às pessoas, ou receio do que as pessoas vão dizer sobre mim, de me desligar dessa negatividade que há à nossa volta. Chama-se Liberdade porque esta é uma nova Sara, mais solta, mais livre, sem qualquer preconceito, sem qualquer problema em ser eu. E isso é maravilhoso. A capa, o ter as mãos no pescoço, é o contrário dessa liberdade, é o sentir-me presa muito tempo. Mas quero que toda a gente saiba que agora sou livre.

Qual é que foi a melhor coisa que já disseram sobre as tuas canções.

Acho que é sobre as minhas canções, sobre a minha postura. Já disseram coisas muito profundas: que nunca tinham sentido estas emoções, que não sabiam que existiam. Pessoas que às vezes nem percebem o que eu estou a dizer.

Esgotaste coliseus. Qual é a sensação?

Ainda hoje penso nisso. É o trabalho árduo que fazemos durante muito tempo, que as
pessoas não vêem e que não sabem, e que é um caminho muito difícil. É preciso trabalhar
muito, ter muito foco, acreditar muito nas coisas, não desistir, não baixar os braços. Nós
não somos de ferro – eu também tenho os meus downs –, mas acreditei sempre até ao
fim que ia conseguir chegar aos coliseus. E, para mim, chegar aos coliseus é começar outra
vida, a partir de agora. É mesmo.

Qual é a lição mais importante que todas as pessoas deveriam saber?

Vivam. Mas não sobrevivam.

Quem é O artista português que toda a gente deveria conhecer?

Carolina Deslandes.

Qual foi a última música que ouviste no Spotify?

Ah... “Menina pequena”, Roberto Carlos.

E aquela que anda sempre em repeat?

Ai tenho muitas... neste momento “TATA”, do Slow J.

Qual foi o concerto da tua vida?

O concerto que fui ver, que mais gostei, foi na praia de Copacabana, do Roberto Carlos.

E aquele que mais queres ver?

Neste momento, Mayra Andrade ou Slow J.

Se pudesses fazer um dueto com qualquer pessoa, quem escolhias?

Do passado, Amália Rodrigues. Do presente, dois: Sam The Kid ou Slow J.

Que música gostavas de ter sido tu a pôr no mundo?

“Back to Black”.

Quem gostavas que tivesse o teu waiting ring?

A minha mãe.

Se tivesses de escolher um waiting ring para o resto da vida, qual escolhias?

Fado português, da Amália Rodriges.

Como é que podemos ter o waiting ring “Chelas”?

Basta ligar para o 12251 para o activar. Ou carregar aqui!

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