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Na mesma década em que o movimento da bossa nova nascia no Rio de Janeiro, um lisboeta do Bairro Alto chegava ao Brasil para uma vida nova com a família. Estávamos nos anos 50 do século passado. Chico Mascarenhas tornar-se-ia fotógrafo e, depois, teria o seu restaurante na cidade carioca, na zona da Gávea, a partir de 1981: o Guimas.
Mais de quarenta anos de história passados, o Guimas ganhou um irmão mais novo do outro lado do oceano. Abriu em Cascais em Outubro de 2023, para testes e num regime de soft-opening, e começou a funcionar à séria no último mês do ano passado. É um projecto da filha mais velha de Chico, Domingas, que vive em Cascais há cinco anos. “Tinha tantas saudades do Guimas que decidi fazer um para mim. Não vim com essa ideia na cabeça, mas é algo que está no meu sangue”, conta à Time Out.
A ideia foi replicar ao máximo o restaurante brasileiro. A carta é praticamente igual, a decoração também – desde as colagens nos tectos das casas de banho ao chão de xadrez, passando pelos quadros que enchem as paredes das duas salas de refeições. Muitos homenageiam Rex, uma figura criada pelo artista Ângelo de Aquino, que se tornou uma espécie de mascote não oficial do Guimas.
A banda sonora também é idêntica: não passa nada sem ser jazz. Os clientes têm acesso a lápis de cera para desenharem nas toalhas de papel — e se forem verdadeiros artistas, talvez tenham a sorte de ver a sua obra exposta numa parede. Os empregados, vestidos de forma elegante, usam gravatas divertidas. O espírito é descontraído, ao estilo botequim, mesmo que o espaço tenha uma aura mais clássica. Em Cascais, o espaço é ligeiramente maior do que no Rio de Janeiro, com capacidade para 60 pessoas, uma cozinha aberta e um imponente bar junto da entrada envidraçada.
Portugal e Brasil à mesa
No novo Guimas servem-se os grandes clássicos do homónimo brasileiro. “Já são património cultural”, defende Domingas, que trabalhou vários anos no restaurante original. A moqueca de peixe, camarões e lulas, servida com arroz de coentros e farofa de dendê (23,50€), é um deles. Outro é o filé do bêbado (28€), lombo grelhado com molho de cogumelos, vinho tinto, bacon, chalotas e batata gratinada.
Prove ainda o pato da fazenda (23€), em modo magret, grelhado e confitado, com molho agridoce e arroz de pêras; ou o camarão oriental (24€), servido com chutney de manga, abacaxi e arroz de passas. Entre outros lombos, filés e o peixe do dia, servem um cheeseburger artesanal (18€) com alface, tomate, molho béarnaise e chips caseiras. E vale a pena testar os pastéis de camarão ou queijo brie (quatro por 12€), ou as lulas fritas em maionese de wasabi (16€). Para acompanhar, o bar serve cocktails, entre os quais o Bullshot, preparado com caldo de carne de vaca, vodka e sumo de limão.
Não saia sem experimentar uma sobremesa – onde também não falta tradição familiar. O pudim Guimas é de chocolate com creme (7€); a mousse de chocolate é receita da irmã Lulu (6€); o toucinho do céu é originário da tia Nocas (6,50€).
A ligação da família à cozinha vem desde Portugal, quando no Bairro Alto, na Rua dos Caetanos, preparavam grandes almoços aos fins de semana. Quando se mudaram para o Brasil, porque o pai de Chico Mascarenhas, Domingos, ia trabalhar como adido cultural, levaram na bagagem um caderno de receitas apontadas à mão pela bisavó. A paixão familiar pela culinária manteve-se, ainda que muitas das receitas tenham sido moldadas e tenham evoluindo desde então. Quando abriu o restaurante no Rio de Janeiro, Mascarenhas juntou-se a uma família amiga, os Guimarães — daí o nome Guimas, que representa a união dos dois clãs.
Para acompanhar as obras do novo Guimas, Chico Mascarenhas voltou ao seu país — onde sempre manteve família, nomeadamente na zona de Cascais — para se certificar de que tudo estava como era suposto, nesta nova aventura liderada pela filha em conjunto com três sócios, incluindo a tia Cláudia Mascarenhas. O Guimas continua o seu legado, agora em Portugal.
Rua Freitas Reis, 24, Cascais