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Durante décadas, a Galera foi uma referência nas modas de Cascais. Era visitada pela elite da região, que ali encontrava peças das melhores marcas internacionais. E foram muitos os ilustres que por lá passaram ao longo dos anos, do antigo presidente da União Soviética Mikhail Gorbatchov ao Presidente da República Portuguesa Costa Gomes, de Eusébio a Ayrton Senna, de Nicolau Breyner a Phil Collins. A lista continua: Jorge Amado, Carlos Queiroz, Luís Figo, Rod Stewart, Stanley Ho, Rui Nabeiro, o último rei de Itália, Humberto II e, claro, o cascaense Marcelo Rebelo de Sousa.
O legado foi interrompido no ano em que a Galera iria celebrar o seu 50.º aniversário. Inaugurada a 6 de Agosto de 1974, não chegou a cumprir meio século aberta ao público, uma vez que fechou portas no início do ano, a 14 de Janeiro. Foi uma decisão tomada pelo filho do fundador, João Aguiar, que desde os 14 anos trabalhava na loja da família. Hoje tem 62.
“Nos Verões, os meus amigos iam para o Algarve, eu ia para a Galera. E depois comecei a ganhar o gosto.” Sucedeu ao pai, Joaquim Aguiar, e continuou o legado. Mas nos últimos anos percebeu que não havia condições para manter a concept store aberta, face à dominância dos grandes centros comerciais e ao comércio de rua que estava a descaracterizar o centro da vila de Cascais.
“Especialmente nos últimos cinco anos, a rua foi ocupada por negócios de souvenirs, como ímans de frigoríficos e coisas desse género, e foi perdendo a sua identidade. Isso mudou a zona onde estávamos inseridos. Para termos uma boa loja e uma boa marca, temos de ter uma vizinhança mais ou menos ao nosso nível, isso é fundamental. E as marcas que tínhamos, como a Armani ou a Paul & Shark, diziam-nos o mesmo.”
À medida que se aproximava o 50.º aniversário, foi também pensando na ideia de publicar um livro que contasse a história da Galera. Editado no mês do cinquentenário, Galera Modas: Loja com História - Comemoração dos 50 anos relata como a loja foi construída e se tornou uma referência ao longo dos anos, mas também reflecte sobre o contexto geral, sobre aquilo que mudou na moda de Cascais – e não só – depois da Galera.
“Falar apenas sobre a loja seria um bocado aborrecido, assim fez-se um enquadramento geral. A ideia é explicar um pouco o panorama antes e depois da abertura da Galera, porque faz parte da história”, diz João, que trabalhou no projecto com José d’Encarnação.
O livro, que também integra uma série de fotografias e elementos gráficos, inclui ainda testemunhos de clientes regulares – incluindo do actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa –, recortes de imprensa e um texto do especialista em moda Paulo Morais-Alexandre.
À Time Out, João Aguiar adianta que está a planear a abertura de uma nova loja – ainda sem certezas sobre se irá manter o nome Galera. “Este meio século de história acabou. Há-de surgir uma nova loja, mas será diferente, para os tempos actuais.” O objectivo passa por ser um espaço “multimarca abrangente”, também no centro de Cascais, com abertura prevista para daqui a um ano e meio ou dois. “Apostamos sempre num comércio tradicional, porque faz toda a diferença. Existe uma diferenciação entre um shopping, onde as pessoas não se conhecem e é um atendimento muito frio e impessoal; e o centro das vilas, onde pode existir uma simpatia, um atendimento e um glamour, onde as preferências são partilhadas e vividas de uma maneira completamente diferente. E existe uma grande clientela que gosta de ser atendida de uma forma diferente.”
O livro não está à venda – foi feita uma edição de oferta que está disponível em algumas bibliotecas municipais para quem a quiser ler e consultar.