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Foi em Maio de 2023 que um antigo palacete no centro de Cascais, edifício datado de 1899, abriu ao público como hotel boutique de cinco estrelas. O Artsy, assim se chama, tem esse ar acolhedor e arrumado de casa senhorial — mas também uma abordagem contemporânea e irreverente, que se nota nas peças artísticas instaladas nas paredes ou na intervenção que Vhils fez na fachada da parte nova do complexo, que foi construída para albergar mais quartos.
À mesa, no restaurante Art, a linha não é muito diferente. Trabalham-se produtos tradicionais, portugueses ou de outras origens, com experimentação e criatividade, sob uma visão moderna idealizada pelo chef David Casaca, que assumiu o controlo da cozinha faz agora um ano, depois de ter entrado para o projecto como subchefe.
A ideia é que ninguém se habitue muito aos menus. Trabalha-se com a sazonalidade dos produtos e com a vontade de explorar o diferente, alterando a carta de poucos em poucos meses. Nas últimas semanas foi implementada uma nova carta aos jantares, com diversas opções para partilhar. Tudo é caseiro e preparado ali mesmo: não há congelados na cozinha.
Fun dining
É fine dining, que não haja dúvidas — mas com uma experiência descontraída, divertida e personalizada. Chamam-lhe “fun dining”. Os visitantes, hóspedes ou não, podem pedir à carta ou confiar nas mãos do chef. Por 75€, têm direito à The Art Experience, um menu de degustação de cinco pratos escolhidos por David Casaca, consoante as preferências dos clientes. É servido de forma contínua, sem divisões rígidas entre entradas, pratos principais e sobremesas. E também se pode pedir a harmonização de vinhos à parte (preço variável).
Com uma carta muito baseada no fumo e nos grelhados, não há como não começar com a bola de Berlim de camarão (8€), entrada particularmente original que é tão surpreendente como parece. Apesar de inusitada, falamos de comida do mar — ou não fossem as bolas de Berlim uma das maiores especialidades das praias portuguesas no geral – e de Cascais em particular.
A focaccia com tártaro de novilho (7€), a massa tenra de cogumelos (6€) ou o croquete de bochecha de porco (5€) são outras das opções para iniciar um jantar no Art. Mas não passe à frente o couvert (6€) de pão de massa mãe com manteiga noisette que vai ao forno e café de cebola.
Em relação aos pratos mais compostos, dê uma oportunidade ao gnocchi de caril verde e grão frito (22€); à couve chinesa com cebola e amendoim (21€); ao peixe do dia com xerém e bivalves (32€); ou ao scarpinocc de novilho com nata queimada e parmesão (29€). Para evocar as suas raízes alentejanas, David Casaca tem também no menu as suas versões de presa de porco preto com migas e laranja (31€); e a raia com alho e amêndoa (29€).
Remate a noite com figos grelhados e caramelizados acompanhados de gelado de crème brûlée (11€) ou com uma versão especial das tradicionais nozes de Cascais (13€). O Art conta também com uma selecção cuidada de vinhos portugueses fora da caixa que condizem com a comida.
Com uma sala para cerca de 20 pessoas, também se pode comer num dos dez lugares do balcão, onde o contacto com o chef e a equipa da cozinha é mais próximo — e bem-vindo — e onde se pode assistir à finalização do empratamento da maior parte dos pratos. Tal como o próprio hotel, o restaurante Art é familiar e acolhedor, elegante e cuidado, mas não demasiado formal. Afinal, se é arte tem de provocar.
Avenida Dom Carlos I, 246, Cascais