[title]
Depois de quatro anos de sucesso na Casa da Guia, em Cascais, o eco-lounge brasileiro Palaphita chegou a São Pedro do Estoril. Chama-se Palaphita Deli & Market e é o novo vizinho do lado do Fauna & Flora, mesmo em frente da Marginal. Ao contrário do espaço aberto e envolto na natureza que existe em Cascais, este irmão mais novo fica numa loja convencional, mas com um conceito distinto – é uma concept store e uma delicatessen, um sítio onde dá para fazer uma refeição leve e comprar mercearias para casa ou uma série de outras coisas.
“Queríamos um espaço coberto, mais seguro, com o qual conseguíssemos trabalhar durante todo o ano”, explica a chef Natacha Fink, uma das responsáveis pelo Palaphita. “Isto fortalece a nossa marca e é algo que já temos no Brasil.”
O novo Palaphita abriu no dia 8 de Agosto, mas só será inaugurado oficialmente a 5 de Setembro, Dia da Amazónia, com uma carta totalmente diferente. “Na Casa da Guia temos a cozinha numa roulote, não conseguimos fazer 70% das coisas que podemos preparar aqui.”
São muitas as opções para almoçar. No campo das saladas, experimente a do Fink (10,90€), de batata com flores de rosbife, verdes da horta, vinagrete de mostarda e mel, picles de cebola roxa, mix de sementes tostadas com curcuma e poeira de castanhas amazónicas; a do Chumbo (9,90€), de peito de peru ao champagne, verdes da horta, batata doce tostada, ratatouille, pesto amazónico, croutons e mix de sementes; ou as de camarão salteado (12,90€) ou salmão fumado (13,90€). Pode adicionar ainda qualquer item do balcão ao prato e paga ao peso.
Caso esteja mais numa de sandes, não há como não destacar a favorita do fundador Mário de Andrade, de pastrami da casa, curgete com damasco e picles de cebola no pão de batata da casa (15,90€); embora também possa atirar-se a um hot dog com salsicha alemã gratinado com queijo dos Açores (9,90€).
Pode ainda pedir o Nosso Atum (15,90€), um tataki de atum com pimenta sichuan, patê de abóbora, verdes da horta, sardela, couscous temperado, curgete com damasco e chutney amazónico; ou o Veggie (14,90€), de tofu fumado com sésamo e geleia de caju, cogumelo espiritual, salada grega, tapenade, tabule de quinoa, mix de folhas e beringela à Adelaide com crocante de castanha-do-pará. Dê ainda uma oportunidade ao sanduíche americano (13,90€) combinado com uma salada à escolha, muito popular no Norte do Brasil; ou às batatas recheadas à carioca, que é como quem diz uma batata inglesa ou doce recheada com creme de cogumelos (12,90€), creme de bacalhau (13,90€) ou strogonoff do Fink (15,90€), sempre com um mix de sementes. Por mais 1€, pode acrescentar batata palha ou cebola frita.
Para tudo escorregar melhor, tem kombuchas (6,50€); sumos de vários sabores, tamanhos e preços; limonadas de diferentes frutas; cafés e derivados; smoothies (6€); e uma carta de cocktails que merece atenção. A caipirinha São Pedro, por exemplo, é feita com tangerina, mas também pode pedir a de maracujá ou a caipivara, com mix de frutas da estação. O daiquiri de caju, o mojito com xarope de rosas ou o Sofia (vodka com graviola amazónica e gotas de rosas de Jerusalém) são outras bebidas que saltam à vista. Quase todas são servidos numa versão mais pequena e outra maior, com os preços a oscilar cerca de 2€.
“É uma fusão das nossas raízes amazónicas, da nossa ascendência polaca ou peruana, e também daquilo que já absorvemos nestes anos em Portugal. Dá para tudo: para pegar e levar para a praia, para levar para casa depois da praia ou para comer e se divertir aqui depois de um dia de praia”, acrescenta Natacha Fink.
O local é uma antiga loja de surf de 200 metros quadrados que sofreu um profundo “trabalho de cenografia”. As palhas e verdes que remetem para a Amazónia estão em todo o lado – é a selva do Palaphita em formato indoor. Uma vez que se trata de uma zona residencial, houve também uma intervenção de “revestimento acústico” para isolar o som da música ou das pessoas no interior.
Há 30 lugares na sala e uma pequena esplanada cheia de flores que foi projectada para promover uma convivência informal. E não dá para ignorar a casa de banho, que entra directamente para o ranking das mais originais de Lisboa e arredores, com um verdadeiro trono construído em torno das sanitas — com direito a coroa ou tiara e tudo!
À mesa ou para a despensa lá e casa
A grande novidade deste Palaphita é a componente de delicatessen. Enchidos, saladas, doces, picles, vinagres, azeites, sobremesas, legumes, frutas ou os vinhos da marca Palaphita são alguns dos produtos que pode comprar ao balcão. São os próprios quem produz grande parte das especialidades, da charcutaria às saladas. Além disso, aliaram-se a pequenos produtores regionais, portugueses ou brasileiros, para terem cubos de marmelada ou compotas, entre tantos outros produtos disponíveis. “Não temos nada industrializado.”
A par da mercearia, há pranchas de surf à venda – um piscar de olho ao filho Lucas Fink, um atleta de skimboard –, peças de swimwear ou roupa de praia, cosméticos naturais, plantas e artesanato indígena. “Mais do que o lado comercial, queremos ter aqui estas peças indígenas para que as possamos divulgar. Estas comunidades estão a começar a exportar e é um dos principais rendimentos que têm para se manterem nas suas terras.”
Tudo parece caber no novo Palaphita, desde que esteja alinhado com os ideais que orientam a filosofia do projecto. “Queremos tentar passar um pouco do nosso lifestyle. Pode estar aqui qualquer coisa desde que faça sentido com a nossa visão, com a origem do Palaphita na Amazónia, com produtos que respeitem a natureza ou que dialoguem com a ideia de poluir menos. A ideia é daqui a seis meses não haver nem um espacinho livre nestas prateleiras. Queremos ter muito mais à venda.”
O novo conceito tem tudo a ver com a história do Palaphita e do seu criador, Mário de Andrade, que foi criado em Manaus, no Norte do Brasil. Ali era tão difícil obter os produtos fabricados no sudeste do território — onde está concentrada grande parte da economia e da indústria do país — que se criou uma “zona franca”, através da qual os produtos internacionais passaram a estar isentos de impostos, para que aquelas populações conseguissem ter maior acesso a uma série de bens.
“Era mais fácil termos as coisas que vinham de barco, pelos rios, da Europa ou do Oriente. Então, sem termos de pagar os impostos, tornámo-nos privilegiados. Em Manaus e no Norte do Brasil só se comem chocolates suíços ou produtos norte-americanos. Quando me mudei para o Rio de Janeiro com 16 anos para estudar, fiquei chocado: mas onde é que estão as minhas coisas todas? Aqui não tem?”, recorda Mário de Andrade.
Foi inspirado nessa lacuna de mercado, uma vez que na cidade carioca e noutras se consumiam muitos mais produtos locais, que Mário abriu a primeira delicatessen do Rio de Janeiro a 1 de Maio de 1983, com destaque para uma série de produtos internacionais que eram raros por ali. “Fomos os primeiros a importar batatas fritas da Pringles ou Coca-Cola Diet”, relembra. Por coincidência, o primeiro cliente a entrar na Casa dos Sabores – assim se chamava esse primeiro projecto – foi nada mais nada menos do que Chico Buarque. Era um prenúncio da prosperidade que o negócio viria a ter.
Rua Sacadura Cabral, 40, Estoril. Seg 11.00-22.00; Qua-Qui-Dom 12.00-22.00; Sex-Sáb 12.00-23.00. 21 467 6075