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Chama-se The Rocket Man Experience e é o espectáculo de tributo a Elton John que vai passar pelo Casino Estoril a 29 de Dezembro. Ainda há bilhetes à venda, entre os 30€ e os 40€, e será uma das últimas performances a passarem este ano pelo Salão Preto e Prata.
Quem interpreta Elton John neste concerto que irá percorrer os maiores êxitos da carreira do cantor britânico é Tom Cridland, luso-descendente de 33 anos. Filho de mãe portuguesa e de pai inglês, foi durante a pandemia, depois de deixar a adição por bebidas alcoólicas, que se agarrou à música. Em 2022, começava a apresentar este espectáculo que tem sido um sucesso internacional, com longas tours pelos Estados Unidos da América.
Tudo começou quando Tom Cridland fez amizade com um dos seus heróis na música, o baterista Nigel Olsson, da banda de Elton John. Conheceu-o em 2014, através da empresa de roupa que abrira nesse mesmo ano, que se tornou conhecida por vender artigos com 30 anos de garantia, com o objectivo de ter peças sustentáveis. O que começou como uma startup tornou-se numa enorme marca, tendo já vestido actores como Leonardo DiCaprio, Hugh Grant ou Daniel Craig.
Numa videochamada feita entre os EUA e Portugal, Cridland antecipa The Rocket Man Experience numa entrevista com a Time Out Cascais que também passa pelos seus outros projectos e a ligação íntima que mantém com Portugal — e, em particular, com o Estoril, onde vive a sua família materna.
Sei que foi através da sua amizade com o Nigel Olsson que começou a interessar-se mais pela música de Elton John. Mas como é que passou daí para a ideia de começar este espectáculo de tributo?
Eu de facto interessei-me pela música ao tornar-me amigo do Nigel, e pela minha curiosidade com o resto da banda: o Davey Johnstone na guitarra, o Dee Murray que faleceu em 1992 no baixo, e claro, o próprio Elton. O tipo que fica com todos os louros é o Elton, mas, na verdade, eles são uma banda. As canções costumavam ser compostas com voz e piano, e depois o Elton saía, ia às compras ou o que fosse, e deixava estes músicos a terminar os discos. Estas pessoas não têm tido o devido valor na música popular. Um dos aspectos para querer fazer o meu próprio espectáculo é tentar espalhar a palavra sobre o Nigel, o Davey e o Dee Murray... E outra lenda chamada Ray Cooper, da percussão. Eu acho que eles merecem ser distinguidos no Rock & Roll Hall of Fame. Outro factor é que comecei a tocar música quando deixei o álcool.
Como assim?
Tentei substituir uma adição por outra coisa. E, como em tudo aquilo que faço, queria torná-lo num negócio de sucesso. E a forma como o Spotify, a Apple Music e outros serviços de streaming remuneram a música dos artistas... Digamos que não é uma escolha de negócio muito sábia tentares fazer a tua própria música original. Por isso, sabia que a minha música original seria apenas um hobby. Do ponto de vista de negócios, sabia que uma banda de covers seria boa. E sou muito apaixonado pela música do Elton — então prefiro tocar a música dele do que qualquer outra coisa que eu pudesse compor.
Quanto ao espectáculo de Portugal, não é certamente uma decisão de negócios — é uma celebração de tudo o que fizemos na América. Sem ofensa para a América, estou cá neste momento e adoro-a, mas amo muito mais Portugal. É o país que mais amo. É o paraíso. É o país da minha mãe, de onde vem todo esse meu lado da família, e por isso quero fazer um bom espectáculo aí.
Mas como é que se tornou tão interessado por música depois de deixar de beber?
Eu sempre fui obcecado por música, o que aconteceu foi que me inclinei para uma obsessão que eu já tinha. E eu já era amigo do Nigel, já tinha visto muitos espetáculos do Elton, para aí uns cinquenta. Foi quando tinha o álcool e podia beber um copo com os meus amigos... Quando decidi deixar isso tudo, tentei virar-me para as outras coisas que faziam com que eu sentisse que valia a pena viver. Foi esse o contexto. Agora, cheguei a um ponto de sobriedade em que não sinto que precise de substituir o álcool pela música, mas, na altura, quando comecei — e isto foi durante o confinamento da pandemia, quando aprendi a tocar piano —, foi particularmente útil. Porque durante os confinamentos pensava: se calhar poderia beber um copo.
E como é que conheceu o Nigel Olsson?
Foi através da minha empresa de roupa. Porque era uma startup, eu não tinha contactos nem dinheiro para influenciadores... E pensei: quem são as pessoas que eu admiro e que poderiam estar interessadas em ter alguma roupa de borla ou fazer uma colaboração? Não pensei em pessoas como o David Beckham ou a Kim Kardashian, em que terias de ter milhões de euros para conseguires fazer uma parceria com eles. Pensei em pessoas que eu genuinamente respeitava e que poderiam ser influentes, mas que não fossem aqueles influenciadores que simplesmente recebem coisas de graça e publicam-nas na Internet. Queria pessoas que, de facto, tivessem criado algo artístico. Por isso, o Nigel foi uma escolha óbvia.
Mesmo antes de aprender a tocar piano, comprei uma bateria e fui baterista durante um ano. Literalmente tentei primeiro ser o Nigel, em vez do Elton. Só mudei para o piano porque em termos de negócio faz mais sentido. E ao longo dos anos tornámo-nos amigos, depois de começarmos a colaborar no lado empresarial da linha de roupa.
E como é que tem sido apresentar este espectáculo nos EUA?
Tem sido incrível. Um dos melhores concertos que já fiz foi este ano, no McCallan Canyon Amphitheatre no Texas. É um lindo anfiteatro ao ar livre em que estás rodeado de natureza, com um céu muito bonito, e acho que estavam lá umas 1500 pessoas só para nos ver tocar as músicas do Elton. E no próximo ano temos mais 100 concertos nos EUA, entre Março e Agosto. Acho que, depois, pode ser o momento de fazer uma pausa, mas tem sido fantástico.
O Tom tem sempre muito presente esta ideia dos negócios, mas obviamente a música é algo artístico e alguém só o consegue fazer se realmente gostar. De que é que gosta mais nesta área? É quando está em palco a tocar e a criar uma ligação com o público?
Sim, depois de um tempo isso é a única coisa que faz com que valha a pena. Obviamente que, no início, é fixe aprender a tocar piano ou poder cantar, e é excitante só por poderes estar a tocar — e nos primeiros espectáculos que fiz tocámos em sítios pequenos, para poucas pessoas —, mas houve um grande progresso e diria que, sim, a música não é o passo natural a seguires se fores um homem de negócios. Consegues enriquecer, claro, e ter um negócio de sucesso, mas não é algo natural. Mas eu nunca me queixo porque adoro tocar e é um privilégio poder fazê-lo e as pessoas virem ver-nos tocar, é uma experiência maravilhosa. Mas não é para todos. Lembro-me das palavras sábias do David Crosby — de Crosby, Stills, Nash & Young — que antes de falecer veio ao meu podcast e disse: “Não te metas na música a não ser que absolutamente tenhas de o fazer”. E é um tipo que foi músico durante 60 ou 70 anos. Toda a gente quer ser a pessoa que está no palco, mas tudo o que está por trás, é como teres o pior trabalho de sempre de escritório: os detalhes técnicos, os contratos, os acordos... As pessoas na indústria ficam frustradas, mas faz parte.
Como disse, a sua mãe é portuguesa e o Tom adora Portugal. Costumava passar férias aqui?
Sim, tem sido o meu sítio feliz a vida inteira. Vim sempre, pelo menos, umas três vezes por ano, desde que nasci. A minha avó morreu quando eu tinha três anos, mas costumávamos passar o Natal na casa dela no Estoril, e ficávamos sempre lá até eu fazer, sei lá, uns 10 anos. Passava tempo com os meus primos e os meus tios que também vivem ali e que têm sido uns segundos pais para mim. E todos os aspectos da vida portuguesa... Claro que há sempre um grande foco na comida, nos cafés e pastelarias... Estou a fazer esta entrevista de um país onde há um Starbucks em cada esquina. As tascas, enfim, toda a comida em Portugal é fantástica. E tenho viajado pelo resto do país. Fui a Beja, a Serpa...
O meu português infelizmente ainda não é muito fluente, mas eu estudei a língua na universidade em Bristol, e até tive uma boa nota. Eu e a minha mulher, Debra, conhecemo-nos na universidade e ficámos lá a aprender português quando tínhamos 18 ou 19 anos. Por isso, além da minha família e amigos, nessa altura conhecemos imensos novos amigos que ainda estão connosco e fizemos viagens fantásticas. Um desses amigos tem uma casa em Arraiolos e foi fantástico ir visitá-la. Todos os Verões vou com a minha família para Portimão. Também já fomos ao Norte, uma vez toquei num casamento de um amigo meu na Figueira da Foz, e até levei a minha banda e o guitarrista dos Simply Red, o Kenji Suzuki. Para ensaiarmos para o casamento ficámos uns dias numa casa no Douro. Tenho imensas memórias, tem sido uma vida inteira a amar este país. E penso sempre que talvez nos devêssemos mudar para Portugal... Mas parte de mim também pensa que fazer uma pausa de algo que adoras e depois voltar não é fácil.
E sei que a sua empresa de roupa tem instalações em Portugal.
Sim, produzíamos os nossos primeiros materiais na Serra da Estrela, e também alguns na Amadora. Mas agora também produzimos no Reino Unido e em Itália, obtemos coisas diferentes de sítios diferentes. Por exemplo, todos os fatos que o Nigel Olsson usou na Farewell Yellow Brick Road Tour com o Elton John foram feitos na Amadora. E também produzimos t-shirts, sweatshirts e chinos em Portugal. E fazemos fatos personalizados, como os que o Nigel usou.
E como é que uma startup iniciada em 2014 se tornou uma empresa grande que veste celebridades como Daniel Craig ou Leonardo DiCaprio?
Foi um processo fantástico, embora por vezes tenha sido bastante stressante. O selo dos 30 anos de garantia deu-nos uma grande ajuda. Isto foi antes de as grandes marcas começarem a fazer coisas na área da sustentabilidade. Mas não foi necessário um grande investimento inicial. Eu comecei tudo com uma linha de financiamento do governo para startups, de 6 mil libras [6,9 mil euros]. No início, pensava: "como é que vamos conseguir que comprem as nossas roupas?" Só vendíamos calções, depois mudámos para as camisolas que duram 30 anos e isso mudou tudo e levou-nos a ter destaque na imprensa. Foi uma altura incrível, eu não conseguia acreditar na minha sorte. Porque foi sorte que tenha sido uma boa ideia. Foi sorte que eu a tenha tido. Eu era uma pessoa caótica, que bebia muito, mas tinha de fazer com que resultasse porque tinha desistido do meu emprego como contabilista depois de seis semanas de trabalho. Era a minha única maneira de pagar a renda e as contas.
E como é que pensou na ideia da garantia dos 30 anos? É uma premissa que vem no sentido contrário da chamada fast fashion.
Eu andava a ler muito sobre os tipos de negócios que andavam a correr bem, e os assuntos que os jornais estavam interessados em cobrir — porque queria que fôssemos destacados, mas não tinha nenhuma pessoa a ajudar-me na comunicação. Tínhamos de ter aqui uma história que atraísse, se não ninguém nos iria descobrir. E tornou-se evidente que os media estavam a cobrir muitos assuntos relacionados com sustentabilidade, queriam escrever sobre negócios sustentáveis, e nós não tínhamos nenhum mega laboratório onde pudéssemos fabricar camisolas recicladas com, sei lá, algas ou algo do género. Só poderíamos tentar com que as camisolas durassem o máximo de tempo possível, que fosse algo apelativo, e foi assim que chegámos aos 30 anos. Falámos com fornecedores, percebemos quanto tempo os materiais duram, e chegámos a essa garantia.
Além do podcast que apresenta e da agência de marketing e relações públicas que também gere, em que outros projectos gostaria de estar envolvido nos próximos anos?
Tenho sempre os meus olhos no futuro. Gostaria de me envolver na área do investimento imobiliário — é uma ambição minha de há muito tempo — mas, por agora, entre a linha de roupa e o trabalho de consultoria de marketing, mais o podcast e os espectáculos, acho que tenho de me focar. Assim que esta tour norte-americana terminar, quero focar-me em começar uma família e ter uma vida idílica suburbana algures — uma vida aborrecida, se tudo correr bem. Passámos por muita coisa entusiasmante, mas apetece-me definitivamente assentar. Mas vamos continuar a viajar e a fazer coisas. Sinto que tenho demasiadas ideias e preciso de melhorar a executá-las.
E há algum projecto que gostasse de concretizar em Portugal?
Bem, estou sempre a pensar em coisas para Portugal. Acho que a parte do investimento imobiliário também seria para Portugal. E a comida portuguesa é das melhores do mundo, mas vais a cidades de topo e não há restaurantes portugueses suficientes. Há toda uma zona em Londres, mas acho que existe uma lacuna no mercado para um restaurante português à moda antiga que possa existir num mercado internacional, como em Nova Iorque ou em Los Angeles. Se for feito da maneira certa, gostaria de exportar alguma da beleza da cultura portuguesa, enquanto me mantinha verdadeiro em relação a ela. Porque sempre que se tenta fazer algo do género, é um sítio simpático e moderno onde vendem pastéis de nata — e acreditam que encapsularam toda a cultura portuguesa, o que mostra que não fizeram necessariamente um grande trabalho. Quando esta tour acabar, vou fazer algo de novo. Porque não me parece que me vá vestir de Elton John para o resto da minha vida. Tem sido um projecto muito bonito e adoro a música, e tenho a certeza de que farei mais uma ou duas coisas nesta área, mas o objectivo disto nunca foi que se tornasse um espectáculo de tributo para a vida. Era para aprender esta música, homenagear os meus heróis e depois ir fazer outra coisa. E tenho a certeza de que Portugal estará envolvido porque estou sempre a pensar em Portugal.
Casino Estoril, Avenida Dr. Stanley Ho, Estoril. Sex, 29 Dez, 20.00. 30€-40€