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Três obras de dança contemporânea num só espectáculo. Step Forward é o que a Companhia Paulo Ribeiro apresenta esta sexta-feira e sábado, 23 e 24 de Fevereiro, no Auditório Carlos Avilez, na Academia de Artes do Estoril, onde são uma das estruturas residentes.
O coreógrafo Paulo Ribeiro mergulha no passado para recuperar dois trabalhos. Encantados de Servi-lo, de 1991, foi originalmente coreografada para a companhia Nederlands Dans Theater e mais tarde interpretada pelo Ballet Gulbenkian. Só quatro anos depois é que Paulo Ribeiro fundaria a sua própria companhia.
A segunda é Comédia Off, uma peça de 1996 que foi interpretada pelo Ballet Gulbenkian e que se passa nos “interstícios de uma comédia musical”. Voltam agora a palco em modo tríptico, juntando-se a uma nova obra, Summer’s Almost Gone, “uma ideia divertida” inspirada pelo paredão que liga São João do Estoril a Cascais e na sua “fauna humana”, como descreve Paulo Ribeiro em declarações à Time Out, ele que cresceu ali mesmo.
“O repertório das companhias é importante, o trabalho que está para trás”, explica, sobre a relevância de repôr espectáculos antigos como forma de preservar a memória e o legado. “Normalmente estamos sempre a pensar no novo.”
Assim, permite reflectir-se sobre estas peças que mantêm uma pertinência muito própria. “É bom poder olhar para as coisas que foram sendo feitas e que deram corpo a esta nova dança portuguesa. Defendo que o repertório seja revisitado e revisto, já fiz estas incursões com outras duas peças que fiz, e é muito interessante ver como, apesar de terem 20 ou quase 30 anos, mantêm uma actualidade. Temos que saber olhar para trás, com algo palpável, para percebermos melhor o presente e para nos projectarmos para a frente. E foi por isso que surgiu a terceira peça. Se temos duas peças distintas, de tempos diferentes, faltava pegar nesta que tem a ver com o momento presente. Acho que há aqui muitos olhares que se podem cruzar e que podem ser muito interessantes para o público.”
O novo espectáculo, Summer’s Almost Gone, pede emprestado o título a uma canção dos The Doors, que acompanharam a adolescência de Paulo Ribeiro e fazem parte da banda sonora — bem como os Supertramp. “É uma criação desapegada, descomprometida, no sentido em que me apetecia brincar um pouco com estas dinâmicas, estas personagens todas que habitam e desfilam constantemente neste paredão com uma intensidade enorme, seja Verão ou Inverno.”
Embora a escolha musical na qual se baseia a performance não seja propriamente contemporânea, a narrativa está relacionada com a actualidade. “Gosto de ter sempre uma pequena acutilância política, um pequeno olhar em relação à realidade. E isso tem muito a ver com o presente, porque no fundo estamos assoberbados por um presente que não é dos mais felizes. Estamos aqui a falar de duas coisas que se confrontam, é quase um tempo feliz que passou e um presente que infelizmente... Mas este paredão continua suspenso, como se estivesse fora do tempo.”
As três peças, sintetiza, reúnem “muita vida”. Paulo Ribeiro destaca a exigência e complexidade para os seis jovens intérpretes que têm de transitar ao longo de três narrativas durante o espectáculo. “Na dança somos sacudidos por sensações e emoções, é muito sensorial. Esta dinâmica toda leva-nos para algo que é celebratório, dinâmico, que é contagiante no sentido da vontade do fazer, do estar presente... São peças que contagiam com uma alegria de viver e de estar aqui.”
Academia de Artes do Estoril (antigo Edifício Cruzeiro). Avenida das Acácias, 2, Estoril. 23 de Fevereiro 21.00; 24 de Fevereiro 19.00. 10€