Adriana Fontelas
© Valéria MartinsAdriana Fontelas trabalha na Padaria Águas Furtadas
© Valéria Martins

Quatro ilustradores independentes do Porto que tem de conhecer

(Sobre)viver da arte é com eles. Nesta lista estão quatro ilustradores independentes do Porto que tem de conhecer

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Este quatro jovens portuenses criam, divulgam e vendem as suas obras de forma independente, trabalhando em lojas ou galerias para sustentar a sua produção artística. São, no fundo, artistas self-made que sabem como (sobre)viver da arte. Passam o tempo entre os materiais de desenho que lhes servem de ponto de partida para as criações, mas também entre contactos para dar resposta às encomendas ou para definir sítios onde podem expôr e vender. São criadores, assessores e vendedores das próprias criações. Fique a conhecê-los. 

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Quatro ilustradores independentes do Porto que tem de conhecer

Adriana Fontelas

Num dia de pouco movimento, encontramos Adriana Fontelas na Padaria Águas Furtadas, espaço de arte e ilustração na zona da Vitória, de iPad na mão, a rabiscar enquanto espera. A partir de uma paleta de tons pastel, começa por desenhar o nariz e, inevitavelmente, aparece no ecrã uma qualquer figura conhecida, sempre de lado. “Desenho pessoas por quem sinto curiosidade ou uma ligação”, conta a artista, que já fez ilustrações de Frida Kahlo, Fernando Pessoa, Freddie Mercury ou António Variações.

Os tempos mortos são raros, mas trabalhar como  funcionária nas duas lojas das Águas Furtadas serve-lhe de autopromoção: ali vende os seus autocolantes, pins e ilustrações, entre os 2€ e os 12€. “Gosto de abordar as pessoas que estão a ver e dizer que fui eu que fiz”, diz Adriana. Os seus trabalhos podem ser comprados também em feiras e mercados de arte como a Sábado-Feira, no Maus Hábitos, ou o Abelha, no Centro Comercial Cedofeita. Não tanto para ganhar dinheiro, mas “para divulgar o trabalho e conhecer outros artistas”.

É quando chega a casa, ao fim do dia, que faz esticar as horas para embalar as ilustrações, gerir as encomendas, actualizar as redes sociais e pensar no que vai fazer a seguir. “O mais difícil é ter tempo para criar.”

Mariana Malhão

Manobrar o tempo é essencial na vida destes artistas, também produtores, agentes, gestores ou assessores. “Pode ser difícil gerir o trabalho, a galeria, a feira e as comissões”, reconhece Mariana Malhão, ilustradora, co-fundadora da galeria Senhora Presidenta e co-organizadora da Sábado-Feira, descrevendo o seu registo como um “misto de fofo, assustador e surrealista”.

É do ateliê nas traseiras da Senhora Presidenta que faz o malabarismo necessário para viver. Durante o processo criativo gosta de “ocupar a folha toda, de modo quase bruto, com cores e formas fortes”. Mas este não é um processo propriamente solitário, já que partilha o projecto com outros dois artistas, Dylan Silva e Luís Cepa. “Queríamos ter um espaço com coisas nossas para poder pagar a renda enquanto trabalhamos.”

Contudo, a galeria, que abriu em 2018 quando os três se juntaram à designer Célia Esteves, ainda é pouco rentável. “Às vezes tira mais do que dá”, confessa Mariana, mas, também há aqueles momentos em “aparece alguém que quer ver outros trabalhos” e o fôlego renova-se. Em 2017, Mariana Malhão criou, com Dylan Silva, a Sábado-Feira, que abre as portas a 30 artistas no Maus Hábitos. “Foi uma forma de motivarmos os outros como nos motivamos a nós próprios."

Mariana vende postais, prints, autocolantes e originais que vão de 1€ a 300€, mas o grosso do seu lucro vem do trabalho comissariado. “É preciso gerir bem, porque quando há um trabalho bem pago nunca se sabe quando haverá outro.”

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Francisco Fonseca

E por falar nisso, Francisco Fonseca dá-se bem com a adrenalina de acordar sem planos, embora tenha “sempre um pé de meia”. O ilustrador inspira-se nas paisagens para criar imagens “realistas que valorizam muito a técnica” e que mostram sítios emblemáticos como a Baixa do Porto ou o Douro vinhateiro, ou lugares com casas pitorescas no meio da natureza.

“O meu trabalho é mais vendível por integrar paisagens como o Douro”, nota Francisco, que começou a vender em plataformas online quando ainda era estudante. Apesar de tudo, é a capacidade de se adaptar a vários registos, da paisagem ao retrato, passando pelos murais (antes da ilustração fazia arte urbana), que lhe dá uma folga financeira. E mesmo vivendo das vendas online e das comissões, não descura o “sentido de comunidade” das feiras.

“No final compramos trabalhos uns aos outros para nos apoiarmos”, conta o artista, cujos postais, prints, totes e originais vão de 2€ a 500€.

Teresa Rego

Já Teresa Rego tem particular orgulho no tapete pendurado no estúdio que abriu recentemente perto do Carolina Michaelis. É uma peça original, 100% lã, feita em Portugal e custa 1250€. “Não sei se alguma vez vou vendê-lo, mas gera outras encomendas”, diz.

A ilustradora e designer formou-se no Reino Unido, onde trabalhou em design de montras, de interiores, de menus de restaurantes e em murais. Foi por lá que desenvolveu uma linha focada “no espaço natural e no espaço construído”, feita de texturas, padrões e cores vivas. Em 2018 voltou para Portugal com vontade de explorar vários formatos.

É essa experimentação que mostra no seu ateliê, showroom e oficina, onde dá workshops de ilustração e colagem (25€) ou de serigrafia em têxtil (45€), cujas receitas “servem para manter o espaço”. No futuro quer acolher exposições, workshops e conversas com artistas portugueses e estrangeiros para pôr o espaço a mexer, bem como para gerar mais público para o trabalho comissariado e para os seus prints e serigrafias (entre 15€ e 150€).

Teresa já participou em exposições colectivas e, tal como os seus três pares, não descarta a possibilidade de voos maiores, dentro ou fora do país, desde que os seus trabalhos se enquadrem nos espaços expositivos. “Não quero que o meu trabalho seja intocável.”

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