Roteiro da arte urbana no Porto

Surgiu no final de 2013 e foi o primeiro mural legal não comissionado do Porto, numa altura em que a arte urbana começava a ganhar terreno na cidade. A iniciativa foi coordenada pela Circus Network, galeria, agência criativa e espaço de coworking dedicado à ilustração e arte urbana, e juntou Mesk, Fedor e Mots numa lateral de prédio com 130 metros quadrados. Os três artistas imortalizaram as clássicas personagens de Cervantes em tons de castanho e com um toque contemporâneo – basta olhar Rocinante, o cavalo de Dom Quixote, que mais parece saído de um filme de ficção científica.

Rua Miguel Bombarda/Rua de Diogo Brandão

Quem passa junto ao parque de estacionamento da Trindade fica com a cabeça colada às costas graças ao imponente mural de Hazul Luzah e Mr. Dheo. Inaugurado em 2014 no âmbito do programa municipal Primeira Parede Livre, foi a primeira de várias intervenções artísticas encomendadas pela Câmara do Porto e marcou uma viragem na política camarária, que não distinguia tags de arte urbana. A parede de 250 m2 tem, de um lado, uma das figuras sem rosto e de traço redondo de Hazul e, do outro, o traço hiper-realista de Mr. Dheo, que desenhou o seu pai com o Porto na mão.

Rua do Alferes Malheiro/Parque de Estacionamento da Trindade

Este é um exemplo bem ilustrativo dos stencils de grande escala e pormenor que caracterizam o registo de Daniel Eime, artista das Caldas da Rainha que vive e trabalha no Porto. A pintura que realizou em Miragaia mostra o rosto expressivo de uma idosa, enquadrado como habitual numa composição abstracta tingida de azul. Não se trata de uma figura em particular, mas de um retrato da população envelhecida desta zona ribeirinha.

Largo de Artur Arcos (Miragaia)

Também em Miragaia está a primeira obra pública de Vhils no Porto, mais precisamente numa fachada histórica do século XIV. Em 2016, a Look At Porto convidou o artista a intervir no edifício então reabilitado para ser uma sala de cinema. O resultado é uma figura que combina elementos humanos e naturais e cujo olhar paira sobre o centro histórico da cidade. A parede está numa rua que abre para um largo e é visível da marginal. 

Rua de Ancira 6-8

Idealizado pelo artista ±MaisMenos±, este trabalho é composto por três mil azulejos e contou com dezenas de participantes, profissionais e amadores. Cada um teve de responder nas peças de cerâmica à pergunta “Quem és Porto?” Esta acção de arte urbana foi desenvolvida pelo projecto Locomotiva. O mural ocupa 135 metros quadrados.

Rua da Madeira (junto à Estação de São Bento)

A hospitalidade faz parte da essência do Porto e está bem representada neste trabalho de Frederico Draw. O artista visual, que trabalha a figura humana com mestria, resolveu retratar o avô a estender a mão quase em jeito de boas-vindas a quem entra na cidade pela Ponte Luís I. Apesar da grande carga pessoal, esta é uma das obras que mais sucesso faz entre portuenses e estrangeiros, que não resistem a apontar-lhe as objectivas.

Avenida Vímara Peres (junto ao tabuleiro superior da Ponte Luís I)

“Este é, provavelmente, o mural mais triste que já fiz. Enquanto o pintava, Elza Uskas e o seu filho aproximaram-se e disseram a palavra ‘obrigado’. Chegaram a Portugal há duas semanas. Ela disse-me que numa hora fizeram as malas e fugiram das bombas”, contou o grafitter MrKas, em Abril de 2022, numa demonstração de pesar, tristeza e solidariedade para com o povo ucraniano em guerra. “Usei o menino da lágrima, porque as crianças são quem mais sofre com as guerras. Está a espreitar através de um muro com o formato da Ucrânia. E fiz questão de incluir a Crimeia, para que as pessoas não se esqueçam de como a Ucrânia era antes”. A obra tem sete metros de comprimento, três de altura e chama-se “Slava Ukraini”.

Junto ao metro da Lapa, em Cedofeita, na Alameda Capitães de Abril

Os animais de grandes dimensões criados por Bordalo II a partir de toneladas de desperdícios estão por todo o mundo. Em 2017, a propósito do festival Gaia Todo Um Mundo, o artista lisboeta deixou a sua marca na fachada de um prédio no cais de Gaia. Como habitual, recolheu lixo das redondezas e esculpiu um coelho, metade colorido e metade acinzentado para mostrar as cores originais dos materiais e alertar para questões como a sustentabilidade, o consumismo e a poluição.

Rua Guilherme Gomes Fernandes, 42 (Cais de Gaia)

Contrariando o estigma e a negatividade associadas aos bairros sociais, e numa procura de acrescentar diversidade à cultura da cidade, a autarquia do Porto deixou nas mãos de Mr. Dheo e Hazul a pintura de fachadas de dois prédios. Mr. Dheo pintou este mural, chamado Modern Religion, no Bairro de Francos, e Hazul expressou-se no Bairro do Carvalhido. 

Bairros de Francos e Carvalhido

"Freedom fighter" ("lutador pela liberdade"), de MrDheo, em Matosinhos, retrata a guerra na Ucrânia. Numa parede da Rua Roberto Ivens, pode ver-se uma figura com as cores da bandeira ucraniana e um símbolo alusivo à paz, rodeado pela destruição da guerra. "Esta é a minha homenagem a todos os que perderam a vida, aos que tiveram de fugir do seu país e sobretudo a quem continua no terreno a desafiar o destino. À união de um povo, à defesa da sua honra e à sua resiliência em prol da bandeira. Um apelo para que os valores humanos falem mais alto e para que a paz prevaleça", disse o autor.

Rua Roberto Ivens (Matosinhos)

Foi um dos primeiros trabalhos de Kilos Graffiti na rua, mas já foi realizado numa altura em que o apoio municipal à arte urbana se ia desvanecendo. A primeira figura a aparecer, em 2017, foi a de Snoop Dogg, por sorte deixada intacta depois de uma limpeza quase total do graffiti que decorava aquela parede. Em 2019, o artista voltou ao local para acrescentar as imagens de Tupac Shakur, 50 Cent, Eminem, Kanye West e Ice Cube, e assim eternizar a influência da cultura do hip-hop na sua vida e obra.

Rua da Restauração

Se é verdade que as caixas da EDP são consideradas uma espécie de mobiliário urbano não muito bonito, caracterizado pela ausência de cor e de vivacidade, há quem não pense assim. Artistas como Hazul, Puro Contraste e Sílvia Peralta, entre outros, decidiram dar-lhes uma nova vida no âmbito do projecto Street Art Porto – Caixas EDP, do Programa de Arte Urbano do Porto. 

Rua das Flores, Rua de Cedofeita,
Rua Miguel Bombarda e Travessa do Carregal

Não é a primeira vez que Alexandre Farto, mais conhecido por Vhils, descasca e escava paredes para cravar nelas os retratos de figuras que quer homenagear. Por isso, o mural na parede exterior do Hospital de São João tem, também, uma carga simbólica particular. Nele estão registados os rostos de médicos, enfermeiros, auxiliares e outros profissionais de saúde encabeçaram o combate à pandemia da Covid-19.

Hospital de São João