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Manuel Lourenço, 45 anos, homem-estátua que não pestaneja
Que tal o negócio? Muito parado?
Manuel Lourenço sorri e manda-nos regressar dentro de uma hora. Trabalho é trabalho e não pode sair da personagem sempre que alguém decide meter conversa. “Às 17.00 faço uma pausa para um cigarro. Voltem por essa altura.”
Natural de Viana do Castelo, há quatro anos que anima, embora estático, a agitada Rua de Santa Catarina, uma das artérias do país onde passa mais gente. Também pára na Rua das Flores e na Ribeira, onde é muito conhecido.
As pessoas são generosas?
“Nem por isso. Os portugueses são mais. Já os turistas, por exemplo, aproveitam-se para tirar fotografias quando alguém dá uma moeda e vão-se embora.” A sua estátua representa um guerreiro da paz, em bronze, sem armas, “mas com muito charme”.
Antes de ser homem-estátua, Manuel fazia a decoração das lojas da Inditex. “A imobilidade treina-se devagarinho. Felizmente percebi cedo que conseguia ficar estático uma ou duas horas, sem pestanejar.”
Apesar de trabalhar apenas três horas por dia, garante que não é pêra doce. “Aquela posição sentada tem uma ajuda. É uma ilusão, claro. Mas há uma outra, à qual eu chamo de avião, que é muito difícil. Estou inclinado para a frente e com o peso todo do meu corpo apoiado sempre na mesma perna. E, ao fim de uma hora sem fechar os olhos, começo a senti-los cheios de água por dentro e a ficarem muito vermelhos. Assim que os fecho, sai água por todo o lado e tenho de ir retocar a pintura. É um mar de lágrimas”, ri.
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