Oriente-Ocidente-Oriente
As tensões entre tradição e identidade, de um lado, e modernidade e globalização, do outro, produzem resultados imprevisíveis. Quando as estampas japonesas começaram a ter difusão na Europa no final do século XIX, exerceram influência determinante nos círculos da pintura avant-garde, nomeadamente em Manet, Degas, Gauguin, Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Whistler ou Cassat – alguns chegaram mesmo a copiá-las. Ironicamente, por essa altura, o Japão, após séculos de isolamento, atirara-se de cabeça para a corrida pela modernização e esta passava por imitar tudo o que fosse europeu. As velhas tradições foram desprezadas e o ukiyo-e passou a ser visto como arcaico, pelo que a sua popularidade declinou acentuadamente nos últimos anos do século XIX. Só ao perceber o impacto do ukiyo-e na arte ocidental, o meio artístico japonês voltou a valorizá-las.
A figura decisiva do revivalismo da estampa japonesa foi Shozaburo Watanabe (1885- 1962), um negociante de arte e editor de estampas que começou a encomendar trabalhos a novos artistas por volta de 1915, dando origem ao movimento shin-hanga (“novas estampas”). Este novo desenvolvimento teve aspectos paradoxais: não só entre os primeiros artistas contratados por Watanabe para renovar a estampa japonesa estavam o austríaco Fritz Capelari e os britânicos Charles W. Bartlett e Elizabeth Keith, como os artistas japoneses da nova geração assimilaram as técnicas, estéticas e temas ocidentais.