horta urbana
Fotografia: Curro Mali/ Unsplash
Fotografia: Curro Mali/ Unsplash

Como ter uma horta em casa: o bê-á-bá da agricultura urbana

Viver na cidade não é sinónimo de renunciar às potencialidades da agricultura. Descubra como ter uma horta em casa

Raquel Dias da Silva
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Prepare-se para arregaçar as mangas e pôr as mãos na terra. Já não é preciso sair da cidade para ter a sua própria horta: a agricultura urbana está ao alcance de todos. Basta aprender o bê-á-bá da arte de cultivar plantas em casa. Desde o espaço perfeito para as suas primeiras sementes ou plântulas aos materiais e ferramentas necessários, os especialistas ensinam-lhe como ter uma horta em casa, com um orçamento simpático e sem um terreno à sua disposição. Com um pouco de imaginação e bricolage, verá como é possível poupar dinheiro nas compras do supermercado e ter ao mesmo tempo um estilo de vida mais amigo do ambiente. As dicas são da engenheira agrónoma e comunicadora de ciência Maria João Horta Parreira, uma apaixonada por horticultura e jardinagem, e de Tiago Lucena, que não só tem formação em agricultura biológica e design de permacultura, como é co-fundador do projecto sustentável A Senhora do Monte, um livro, blogue e canal de Youtube onde também pode aprender mais sobre hortas e jardins.

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Como ter uma horta em casa

1. Escolher o espaço

Na cidade, há muitas formas de criar hortas urbanas: em jardins, terraços, varandas ou mesmo na cozinha de casa, de preferência através de soluções verticais – se o espaço for pouco, esta é mesmo a melhor opção.  

“O ideal para arrancar é definir bem o espaço disponível”, recomenda Tiago Lucena. “Mas há muita coisa possível de fazer em casa, mesmo num apartamento, sobretudo se aproveitarmos espaços verticais, através de vasos de parede ou floreiras, por exemplo.” Já para quem tem um quintal, um terraço ou mesmo uma varanda mais generosa, Tiago recomenda canteiros, vasos ou floreiras com 40 a 50 centímetros de altura e muito espaço. 

“Mesmo numa varanda de 3x2m, é possível produzir muitos produtos hortícolas como tomates, pimentos, alfaces, berinjela e rúcula, por exemplo. Produções de batata, feijão ou abóbora requerem terrenos, mas meia dúzia de tomateiros podem alimentar um Verão inteiro”, acrescenta, ressalvando a importância de haver circulação de ar (basta uma janela aberta de vez em quando) e incidência solar directa durante o dia (de preferência a sul, nascente ou poente). Apesar de haver ervas aromáticas, como a salsa e o cebolinho, resistentes à sombra, a maior parte das hortículas precisa de pelo menos cinco horas de sol diárias.

2. Escolher as sementes

“Deve escolher sempre em função do espaço disponível”, alerta Tiago. “Se aproveitar as paredes, é possível fazer crescer trepadeiras como maracujá numa estrutura de fios ou madeira para suporte”, sugere.

O principal critério a ter em conta é o tamanho da raiz. Para simplificar, a maior parte das pessoas opta por ervas aromáticas, como orégãos, hortelã, salsa, alecrim e tomilho. Mas malaguetas e morangos também são espécies de raiz curta, perfeitas para cultivar numa horta vertical. Caso tenha um espaço maior à disposição, como um terraço ou uma varanda, ouse plantar frutas ou hortículas, como espinafres, cenouras, beterrabas ou pepinos.

Como em qualquer jardim, é importante ainda saber como agrupar as plantas. No caso de ervas aromáticas, por exemplo, deve escolher variedades com características e cuidados semelhantes. Há espécies, como o manjericão e o alecrim, ou a salsa e o cebolinho, que podem partilhar o mesmo recipiente. 

“A forma mais eficiente de proteger uma horta, por mais pequena que seja, é usar a biodiversidade. Normalmente, aproveita-se e plantam-se também flores, como calêndulas ou capuchinhas, que são comestíveis mas também atraem animais como joaninhas e libelinhas, que são óptimos aliados de qualquer horta”, esclarece Tiago, adepto da variedade. “Quando fazemos um canteiro só com uma espécie de vegetal potenciamos a respectiva praga. Ao misturarmos plantas tanto geramos equilíbrio, como aproveitamos melhor o espaço: algumas plantas crescem ao alto e outras crescem de forma rasteira.” 

Mas, atenção, a origem das sementes (ou plântulas, se optar por plantas recém-nascidas) é de importância vital. “Hoje em dia já existem várias fontes onde se podem comprar esses produtos com qualidade certificada”, afirma Maria João. “Recomendo bio e nacionais, da marca Sementes Vivas ou Grow It, por exemplo”, acrescenta Tiago.

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3. Reunir os materiais necessários

Os materiais necessários vão depender do espaço escolhido e da complexidade da horta. Mas não se preocupe: mesmo sem um terreno à sua disposição, é possível transformar os seus sonhos em realidade.

SUPORTE

O básico é recorrer a vasos ou outros suportes de cultivo tradicionais, como floreiras. Mas, se preferir, pode ser criativo e usar canecas e chávenas velhas ou ainda mais amigo do ambiente e reciclar garrafas de plástico ou pacotes de leite. “Um factor vital é que os vasos, canteiros ou outros suportes devem ter um fundo de pelo menos 20 a 30 cm para permitir o bom desenvolvimento das raízes. Nas lojas comerciais, há uma variedade de vasos, quanto ao formato e tamanho, que podem ser adaptados a cada caso. Por exemplo, já existem vasos comerciais adaptados para a batateira”, explica Maria João.

UTENSÍLIOS DE JARDINAGEM

Para a criação e manutenção da sua horta, é importante ter pelo menos as ferramentas básicas. “No início não serão precisos muitos materiais, mas recomendo um kit básico, de uso exclusivo para a horta e sujeito às boas práticas de limpeza e higiene entre utilizações”, aconselha Maria João. “De um modo geral, um kit para manutenção deverá conter uma colher, um garfo, uma tesoura e um canivete de podar, uma pinça, luvas, etiquetas, lápis, canetas, caderno de apoio para registo, regador, borrifador e corda de sisal. Para cada situação específica poderá ser necessário adaptar ou acrescentar medidores de pH e humidade por exemplo, numa fase mais avançada.”

4. Como plantar

Escolhidos os recipientes, comece por preenchê-los com cerca de dois centímetros de pedras, seixos ou, de preferência, argila expandida, para garantir uma boa retenção de água. Depois cubra com terra rica em matéria orgânica e de pH neutro até dois terços da altura do recipiente (é suposto ficar com cerca de três centímetros livres). Também é aconselhável que a mistura de terra já inclua fertilizante. Dessa forma a manutenção da planta será menor.

Quando estiver a encher o vaso, vá achatando a terra com os dedos, mas sem comprimir ou apertar em demasia. Antes de encher o vaso todo, faça um buraco para acomodar a base da plântula, planta recém-nascida. Se usar sementes, os passos são os mesmos, mas as sementes devem ser colocadas mais à superfície. “Um dos erros mais comuns a evitar é enterrar muito as sementes”, alerta Maria João. “De um modo geral, quanto menor é a semente mais à superfície deve ficar.”

De resto, Tiago Lucena recomenda investimento em formação, mas relembra: “Hoje temos o Youtube, que é uma fonte de conhecimento grátis incrível e onde podemos aprender tudo com a pesquisa certa, seja sobre hortas em varandas ou sobre cuidados com plantas específicas. É uma forma de fazer passar o tempo e ganhar novas skills, que vão sempre fazer-nos poupar alguma coisa na carteira.” Se quiser ajuda de quem já tem experiência, também se pode juntar ao grupo de Facebook Horta Biológica em Casa.

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5. Cuidar diariamente da sua horta

Dentro de casa, a horta é necessariamente menos complexa, mas é necessário regá-la na mesma. Como a rega excessiva favorece o apodrecimento, especialmente se não houver um bom sistema de drenagem, o segredo é verificar primeiro se a terra está húmida.

No caso da horta vertical, uma forma simples de se organizar é certificar-se que as plantas que exigem menos rega estão menos acessíveis, nas filas superiores. Nos meses de Verão, além de ter cuidado com a água, terá de arranjar maneira de proteger as suas plantas de exposição solar e calor excessivo. No meio é que está a virtude, já dizia o provérbio.

“Realizar todos os registos das acções é um bom princípio para a gestão e melhoria contínua da horta”, recomenda Maria João. “Ainda quanto à rega, será útil criar rotinas, como por exemplo regar de manhã bem cedo, ao final da tarde ou à noite, dependendo das necessidades de cada espécie e altura do ano.”

Tiago acrescenta outra dica: “Uma zona de compostagem é fundamental quando há espaço – pode ser com minhocas californianas. Um composto de resíduos orgânicos permite criar fertilizante e reduzir lixo, criando um sistema em ciclo fechado sem necessidade de fertilizantes.”

6. É um serial killer de plantas? Há soluções só para si

Caso queira mesmo ter uma horta em casa, mas tenha zero jeito para plantas, há vasos inteligentes, que permitem cultivar de forma fácil, sem esforço e durante todo o ano diferentes variedades de ervas aromáticas e hortículas, como manjericão doce, salsa frisada, cebolinho ou tomate cherry. Para soluções mais ecológicas e amigas da carteira, pode optar pela marca portuguesa Life in a Bag, que alia a natureza ao design para provar que é possível criar hortas de ervas aromáticas, flores comestíveis e microvegetais biológicos dentro de casa só com recurso a um cubo de cortiça ou a um saco impermeável e reutilizável. Se for fã de árvores de fruto, a marca portuguesa Citrina vende plantas cítricas em miniatura, perfeitas para ter em qualquer casa, mesmo que pequena.

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