É preciso tocar à campainha para, finalmente, matar a curiosidade. Lá em cima, num segundo andar com vista para o Mercado do Bolhão, não vai encontrar uma concept store de marcas de luxo, nem um spa de acesso exclusivo. Em vez disso, a Casa Fúria é um espaço partilhado onde todos trabalham em prol de um único ideal: a beleza. Natacha Cutler e Isadora Borges foram as primeiras a juntar-se. “Já tínhamos muitos clientes em comum, pessoas que já cortavam o cabelo com a Natacha e faziam as unhas comigo, mas depois bateu a pandemia e ficámos fechados em casa. Então aí foi mandar uma DM no Instagram: hey girl, queres ser minha partner?”, revela a segunda. Só que a primeira morada era bem mais pequena, algures na Rua do Rosário, e, ao fim de um ano e meio, a Casa Fúria instalou-se aqui, com as duas talentosas fundadoras e espaço para acolher mais criativos.
“Estava a ser muito difícil para mim encontrar um espaço que estivesse aberto a coisas diferentes e a um tipo de serviço diferente também – mais personalizado, algo com mais tempo. E sabia que a Natacha também sentia que tínhamos de trabalhar por conta própria.” A dupla aproveitou para alicerçar o novo projecto em conceitos como o de inclusão. A casa é hoje um safe space as comunidades queer, mas também para as migrantes, além de se pautar pelo lema do slow work – cada cliente é atendido com marcação prévia, sem interferências e no recato deste segundo andar no centro do Porto –, afastando-se da imagem do salão tradicional. “Até porque as coisas que fazemos a nível criativo levam muito mais tempo. A nailart, as colorações. São coisas muito mais alternativas”, sugere Isadora.
Luis Gonzalez veio à boleia da mudança e chegou para ser o primeiro tatuador residente. O estúdio onde trabalha fica no andar de cima, uma extensão da casa onde as agulhas são postas a funcionar, as que aqui moram (já são quatro, no total) e as convidadas. O quarteto fica completo com Alicia Medeiros, a aprendiz de nailart que acabou por ganhar a sua própria carteira de clientes.
Os limites são o da criatividade de quem idealizou a Casa Fúria. Na sala da entrada, há sex toys à venda, mas também uma selecção de peças de roupa vintage. As exposições também são recorrentes, até porque não faltam clientes talentosos. “A maioria dos nossos clientes é de áreas criativas. Temos muitos fotógrafos, ilustradores, pessoas que fazem coisas que admiramos. Então, de certa forma, queremos receber o trabalho deles aqui também”, afirma Natacha. Ideias como esta têm feito crescer uma comunidade em torno do projecto, de locais e de novos portuenses. “Fazemos os eventos, as pessoas vêm e sentem que este espaço é delas”, remata. A última exposição resultou de uma open call e chegou às paredes das escadas. Entre arte, cabelos, unhas e tatuagens, um dia esta casa ainda toma conta do prédio inteiro.