“Queremos enaltecer o poder feminino porque temos orgulho em sermos mulheres.” Quem o diz é Denise Machado, que em conjunto com Inah Santos fundou a Tanto Bate Até que Samba, uma roda de samba protagonizada por mulheres – os senhores que estão na fotografia têm apenas papéis temporários (sem ofensa), já que o objectivo de Denise e Inah é que, em breve, duas instrumentistas os substituam.
Actualmente, o grupo conta com oito músicos portugueses e brasileiros. Além das fundadoras, ambas vocalistas, fazem parte Lizz Marchi (tantan), Gabi Biscotto (pandeiro), Inês Guerra (caixa), Letícia Malvares (flauta transversal), Fabinho do Cavaco (cavaquinho) e Ilen Monteiro (violão). Apostam num repertório variado, que vai desde o samba de raiz ao mais actual, incluindo também música popular brasileira que depois é adaptada para samba. Cartola, Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Djavan, Gabrielzinho do Irajá, Maria Bethânia e Elis Regina são alguns dos músicos e compositores de eleição. “Como há muitos grupos de samba cá, temos o cuidado de não tocar o mesmo que os outros”, explica a carioca Inah Santos, que actua com outras rodas de samba.
Mesmo depois de terem criado o colectivo, não conseguiram ficar quietas. Continuaram a desenvolver o conceito das Tanto Bate Até que Samba com a finalidade de serem mais do que uma roda de samba: o projecto tem vindo a transformar-se num evento mais alargado que, além dos concertos, integra mulheres de outras áreas artísticas como as artes plásticas, a dança e a poesia. “Começámos a pensar em juntar mais pessoas que, além de artistas, são mães, filhas e mulheres que lutam todos os dias pelo seu espacinho ao sol”, conta Inah. Já receberam uma performance do Grupo de Dança Kajal Ratanji, um set da DJ Patisol e uma exposição da ilustradora Janina Brandão, entre outras.
Quando estão a organizar estes eventos, que já passaram pelo Ateneu Comercial do Porto, Denise e Inah pensam em tudo ao detalhe e em consonância com a mensagem que querem passar – por isso não é de estranhar que toda a equipa envolvida, desde a porteira até à fotógrafa, também sejam mulheres. Há toda uma política de sororidade. “Só não contratamos mulheres quando não temos outra opção”, sublinha Denise Machado.
Depois do sucesso destas apresentações, surgiu uma parceria com a Sambapinto, uma loja online brasileira que vende artigos para escolas de samba, carnaval e festas. O resultado é uma linha de t-shirts estampadas com adaptações de ditados portugueses, como “antes samba do que mal acompanhada” ou “diz-me a que samba é que vais e dir-te-ei quem és” (mesmo o nome do grupo é uma remistura da expressão popular “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”). É possível encomendar as t-shirts na página de Facebook do colectivo.
Além de organizarem os seus próprios eventos e concertos, as Tanto Bate Até que Samba também são convidadas para tocar ao vivo: a próxima actuação acontece no bar Rua, sábado 29. Vão apresentar-se com uma formação mais pequena, mas mesmo assim querem ser fiéis ao seu modus operandi e convidar outras artistas para se juntarem a elas.
No que toca aos planos para o futuro, em breve as Tanto Bate Até que Samba vão entrar em estúdio para começar a gravar as primeiras canções originais. O primeiro tema foi escrito pelo compositor e intérprete brasileiro Serginho Meriti, padrinho musical de Inah Santos, e será lançado ainda este ano. Dar concertos lá fora é outra das ideias em cima da mesa, mas por agora as Tanto Bate Até que Samba vão andar por cá a mostrar o que valem as mulheres no samba – e em todo o lado.