Filme, Cinema, Scarlett Johansson, Rapariga com Brinco de Pérola (2003)
© DR'Rapariga com Brinco de Pérola' de Peter Webber
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Estes filmes sobre pintores e pintura não são um pincel

Os pintores e a pintura têm dado pano para mangas no cinema. Fizemos uma selecção de filmes que davam uma exposição.

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A pintora francesa Marianne, uma das personagens de Retrato de Uma Rapariga em Chamas, de Céline Sciamma, que se estreou no início de 2020 em Portugal, nunca existiu. Ao contrário da italiana Artemisia Gentileschi, que viveu e trabalhou no século XVII com muito sucesso, e é retratada num dos 11 filmes sobre pintores e pinturas que seleccionámos para esta lista. Neles encontramos nomes como Toulouse-Lautrec, Miguel Ângelo, Andrei Roublev, Van Gogh (este, por duas vezes) ou Turner. Bem como artistas ficcionais, caso daquele personificado por Michel Piccoli em A Bela Impertinente, de Jacques Rivette, e que poderia bem ter existido.

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‘Moulin Rouge’, de John Huston (1952)

Conta-se que, para rodar esta biografia de Toulouse-Lautrec, John Huston terá dito ao director de fotografia Oswald Morris que queria que Moulin Rouge parecesse ter sido realizado pelo próprio artista. José Ferrer interpreta Toulouse-Lautrec nesta fita em que Huston combina factos biográficos e liberdades dramáticas, conseguindo ao mesmo tempo dar um expressivo panorama do que era a vida em Paris nesse tempo, inspirando-se abundantemente na obra do artista para o fazer, sobretudo nas sequências de interiores, passadas em sítios como o lendário cabaré do título.

‘A Vida Apaixonada de Van Gogh’, de Vincente Minnelli (1956)

Kirk Douglas perdeu, injustamente, o Óscar de Melhor Actor pela sua arrebatada interpretação de Vincent Van Gogh neste filme de Vincente Minnelli baseado no livro de Irving Stone sobre o pintor, mas Anthony Quinn ganhou o de Actor Secundário pelo seu Gaugin. O filme está algo datado, já que contempla uma série de ideias feitas entretanto ultrapassadas sobre o artista, bem como o estereótipo do “génio torturado”, mas a realização de Minnelli é notável, ao ecoar visualmente a pintura de Van Gogh e manejar o Technicolor para esse efeito de forma exímia.

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‘A Agonia e o Êxtase’, de Carol Reed (1965)

Charlton Heston é Miguel Ângelo e Rex Harrison o Papa Júlio II nesta fita sobre a relação e os conflitos entre ambos, durante a execução, pelo artista, das pinturas da Capela Sistina, no Vaticano. Inteiramente rodado em Itália, A Agonia e o Êxtase foi, tal como A Vida Apaixonada de Van Gogh, baseado num livro de Irving Stone (que desta vez também participa no argumento), e sofre também de algumas simplificações e estereótipos do filme sobre grandes artistas, que são compensados pelas interpretações e por uma impressionante recriação da época em todos os aspectos.

‘Andrei Roublev’, de Andrei Tarkovsky (1966)

Na sua segunda longa-metragem, Andrei Tarkovsky contou a vida do monge e pintor de ícones itinerante do título, que viveu na Rússia dos séculos XIV e XV, uma época de grande violência e marcada por graves conflitos religiosos. Impregnado de misticismo e reflectindo sobre temas como a relação entre a fé e a arte, ou entre o artista e aqueles que lhe encomendam obras, Andrei Roublev acabou inevitavelmente por ser alvo da censura comunista soviética. Em 1969, foi exibido no Festival de Cannes numa cópia amputada de 20 minutos e só seria estreado no Ocidente em 1971.

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‘Van Gogh’, de Maurice Pialat (1991)

Esta fita sobre os últimos 70 dias de vida de Van Gogh é a imagem espelhada daquela realizada por Vincente Minnelli 30 anos antes, uma visão plácida e pormenorizadamente realista do artista, dos seus derradeiros tempos entre Auvers e Paris e do seu processo criativo. Maurice Pialat escolheu Jacques Dutronc para personificar o pintor e este fá-lo num registo que não podia ser mais afastado do febril e atormentado de Kirk Douglas no filme de Minnelli (Dutronc ganhou o César de Melhor Actor). O mesmo podemos dizer do tom da realização de Pialat.

‘A Bela Impertinente’, de Jacques Rivette (1991)

Há quem considere que, nas suas quatro horas de duração, este filme de Jacques Rivette, vencedor do Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes, tenha tempo a mais e se repita muito (o realizador montou, posteriormente, uma versão mais curta, com duas horas). Inegável é que A Bela Impertinente é um dos melhores filmes já feitos sobre o processo físico da pintura, da preparação à execução, e ainda sobre os altos, os baixos e os choques emocionais e psicológicos entre um artista e o seu modelo. Michel Piccoli é o pintor, Emmanuelle Béart a modelo e Jane Birkin a mulher daquele.

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‘Artemisia’, de Agnès Marlet (1998)

A italiana Artemisia Gentileschi (1593-1656), expoente do estilo barroco, foi uma das pintoras mais famosas e bem sucedidas da altura, a primeira mulher pintora a ser reconhecida e considerada no seu tempo de vida, e uma das primeiras ganhar a vida com a sua arte. Esta co-produção franco-italiano-germânica, realizada pela francesa Agnès Marlet, segue Artemisia (muito bem interpretada por Valentina Cervi) durante a juventude e tem o único senão de tomar algumas liberdades, nomeadamente com o episódio da violação da pintora pelo seu professor, Agostino Tassi, que é aqui mostrado como tendo sido vítima de falsas acusações.

‘Embriagado de Mulheres e de Pintura’, de Im Kwon-taek (2003)

Um dos melhores realizadores sul-coreanos, Im Kwon-taek, conta neste filme o período final da vida de um dos mais singulares, truculentos e talentosos artistas do seu país, Jang Seung-up, também conhecido como Owon. Nascido numa família humilde, com um temperamento irascível e amigo da bebida e do belo sexo, Owon teve muita dificuldade em se impor no seu tempo. Kwon-taek mostra como ele encontrou o seu estilo no meio de muitas peripécias e das convulsões políticas e sociais da Coreia de então, e filma colando-se ao estilo da pintura do artista, como se esta ganhasse vida cinematográfica.

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‘Rapariga com Brinco de Pérola’, de Peter Webber (2003)

Este filme é uma ficção romanesca, feita com inteligência, sensibilidade e verosimilhança, em redor de um dos mais conhecidos quadros de Vermeer, do qual só chegaram até nós 39 obras, e baseado no romance homónimo de Tracy Chevalier. Colin Firth é Vermeer e Scarlett Johansson interpreta Griet, uma criada de sua casa que ele toma como assistente e modelo do quadro do título. Na realidade, não se sabe praticamente nada sobre a identidade e a história desta rapariga que ficou imortalizada na tela, mas esta efabulação de Chevalier e Webber, além de cativante e plausível, é muito bom cinema.

‘Mr. Turner’, de Mike Leigh (2014)

Timothy Spall andou dois anos a aprender a pintar para interpretar devidamente o mestre inglês J.M.W. Turner nesta fita de Mike Leigh, tendo ganho o Prémio de Melhor Actor no Festival de Cannes. O realizador, que nos habitou a histórias de ambientes contemporâneos, recuou ao século XIX neste filme biográfico em que acompanha os últimos 15 anos da vida de Turner, mantendo o realismo rigoroso, e sempre curioso de pormenores, do seu olhar. Mike Leigh recria o quotidiano do pintor, revela aspectos da sua vida pessoal e mostra o contexto em que criou alguns dos seus quadros mais belos e importantes.

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'Retrato da Rapariga em Chamas', de Céline Sciamma (2019)

Não era fácil ser mulher e pintora, pelo menos na França de finais do século XVIII, ainda antes da revolução. Uma das restrições académicas impedia as mulheres de desenharem modelos masculinos nus, como conta Marianne (Noémie Merlant), pintora e filha de pintor, a certa altura de Retrato de Uma Rapariga Em Chamas. Neste filme de Céline Sciamma, Marianne foi contratada por uma nobre (Valeria Golino) para pintar o retrato da filha, Héloïse (Adèle Haenel). Esta acabou de sair de um convento e vai casar-se com um aristocrata que não a conhece. O retrato vai servir para que o noivo veja como a noiva é.

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