“La Mer”, de Charles Trenet
Décadas de hegemonia do pop-rock anglo-saxónico têm feito esquecer que, em meados do século passado, a canção francesa deu cartas. Um dos seus nomes mais notáveis foi Charles Trenet (1913-2001), que teve o seu auge de popularidade entre as décadas de 1930 e 1950 e teve em “La Mer” um dos seus maiores êxitos.
Segundo Trenet, a letra foi escrita aos 16 anos, mas foram precisos mais 14 para que fosse musicada e ainda mais três para que Trenet decidisse gravá-la. Quando a cantou, no próprio dia em que a escreveu, em 1943, o público não manifestou grande entusiasmo e Trenet entendeu que ela não teria potencial para se tornar num êxito. A guerra mundial em curso e a ocupação alemã da França também não eram propícias e só em 1945 a canção foi orquestrada e gravada, pela voz de Roland Gerbeau. Trenet gravaria a sua versão no ano seguinte e foi esta que ganhou popularidade planetária, embora existam cerca de quatro centenas de registos por outros cantores.
A canção tem um balanço tão hipnótico como o dos “reflexos de prata” sobre a sua superfície e ganha intensidade a cada nova estrofe. Há que reconhecer que na última estrofe ganha um arrebatamento descabido e que destoa da atmosfera tão habilmente construída no início, mas nem por isso deixa de ser uma das melhores canções marítimas de sempre, daquelas que “embala o nosso coração pela vida fora”.