Entre 1910 e 1913, Stravinsky fez deflagrar em Paris, em rápida sucessão, três explosivos bailados (encomendados pelos Ballets Russes), que deixaram o mundo musical atordoado. Embora tenha vivido até 1971, não voltou a cometer algo tão poderoso e perturbador como estes bailados de ritmos selvagens, cores ácidas e arrebatamentos imprevisíveis. Os restantes compositores reconheceram o carácter inovador do endiabrado russo mas não lhe seguiram as pisadas e só o húngaro Béla Bartók ousou criar uma peça igualmente bárbara e visceral: o bailado O Mandarim Maravilhoso, composto em 1918-9 e estreado apenas em 1926.
Neste programa 100% húngaro pela Orquestra Sinfónica do Porto e o maestro (e compositor) Peter Eötvös, o bailado de Bartók tem a companhia de duas peças do nosso século: a Petite Musique Solennelle (2015), uma homenagem de György Kurtág a Pierre Boulez no seu 90.º aniversário, e o Concerto para violino n.º 2 DoReMi (2012) de Eötvös, obra que fará nesta ocasião a sua estreia nacional e terá como solista a espanhola Leticia Moreno, que grava em exclusivo para a Deutsche Grammophon e toca um violino Gagliano de 1762.