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Da Weasel: "Isto não é um concerto que a gente pegue de ânimo leve"

Os Da Weasel vão encher de amor, saudade e muito hip-hop, o recinto do MEO Marés Vivas, no Parque de Campismo da Madalena, em Vila Nova de Gaia, a 14 de Julho do próximo ano. É oficial: a Doninha está de volta. Mais madura e cheia de pica.

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Vocês transpiram felicidade. O que é que estão a sentir com este regresso?
Virgul: É especial, porque depois da longa paragem que tivemos e da forma como fomos recebidos, foi com uma enorme alegria que aceitámos o convite do MEO Marés Vivas para estar aqui. Estamos todos super felizes por poder chegar a mais fãs, que se viram impossibilitados de estar lá em baixo, em Lisboa [no concerto que a banda deu em Julho no NOS Alive]. 

Estavam com saudades de estarem reunidos, como banda?
Jay-Jay: Eu confesso que na subida [para a conferência de imprensa em Vila Nova de Gaia], todos na carrinha, todos a conversar uns com os outros, a falar sobre tudo isto, trouxe-me muita coisa à memória. Nós não fazíamos uma viagem tão longa, juntos, para um evento, há séculos. Foi uma sensação incrível. 

De que falaram?
Jay-Jay: De parvoíces, de coisas boas [risos], palhaçadas, sobre o evento, claro…
Virgul: Sobre o antes e depois de vários concertos aqui pelo Norte. Há coisas que são segredo e que não podemos revelar [risos]. Ficam só para as nossas memórias. As pessoas aqui do Norte são muito efusivas e têm uma forma especial de receber. 
Dj Glue: Vínhamos também a falar do concerto dos The Prodigy [Marés Vivas 2008], que nos recordámos todos de estar a ver…
Jay-Jay: E quando eles apareceram no lounge do Porto Palácio? Parecíamos umas crianças, umas groupies à volta deles. 

Além deste concerto no MEO Marés Vivas, 2023 é também o ano em que se comemoram os 30 anos da formação da banda. Onde é que vocês ensaiavam? O que é que vêem quando olham para trás?
Jay-Jay: Começámos por ensaiar nos quartos, não é? Em frente ao espelho com uma vassoura [risos]. Mas, depois, deu-se o processo normal de crescimento. Primeiro em garagens, depois para estúdios e, finalmente, para o nosso próprio estúdio. Tivemos tempo para tudo, para crescer, para fazer disparates, mas também para desfrutar.
Dj Glue: …e maturar.
Jay-Jay: Maturar, que bem!
Carlão: Tivemos uma coisa muito boa: não havia redes [sociais] na altura. Hoje é quase impossível não seres influenciado. E nós, apesar dos prémios e do sucesso que nos estava a acontecer com os Da Weasel, chegávamos a casa e desligávamos. E isso para nós foi muito bom, porque acho que é muito fácil hoje em dia deixares-te deslumbrar e ficares um bocado refém – faz parte, tens de alimentar também essa cena toda. Na altura ganhámos os Óscares, como diz a vizinha lá do prédio [risos], que são os Globos de Ouro; e ganhámos também os MTV Awards. E o sucesso que tínhamos era uma coisa que acontecia muito no momento, mas dava para desligar. Vivemos da maneira certa, a aproveitar o momento sem estarmos muito reféns disso e acho que foi uma das razões que tornou esse processo mais fácil porque o sucesso não são só coisas boas.
Guillaz: Um sucesso que não foi repentino, foi gradual…
Carlão: Esta coisa de maturação foi fixe, não foi overnight. Fizemos muita estrada, muitos concertos manhosos, fomos aprendendo. Somos privilegiados, porque as coisas foram acontecendo a seu tempo e deu para ir fluindo e aproveitando. Acho que hoje em dia não teríamos conseguido aproveitar tão bem esses anos que foram bons. 

Vão regressar como banda?
Jay-Jay: Já estamos aqui. O nosso foco agora é o MEO Marés Vivas e até vamos comer a relva [risos].
Quaresma: A areia neste caso [risos].
Dj Glue: Assim que se começa a ensaiar e a preparar um concerto é sinal que uma banda está de volta.
Guillaz: Agora é incontornável.

Com este regresso querem chamar a atenção das novas gerações?
Carlão: Nós gostávamos, acho eu, não é? É muito fixe ver que as músicas resistem a esse teste do tempo, que não foi uma coisa passageira. Podemos dizer que temos canções que tanto faziam sentido na década de 90 ou na década de 2000, como fazem agora na década de 2020.
Jay-Jay: E um sinal disso mesmo é a quantidade de discotecas e clubes que agora passam a nossa música. 
Guillaz: E os pais, que na altura não o eram e o são neste momento, também passam, naturalmente, este legado. Existe uma passagem natural do pai para o filho. 
Dj Glue: E os nossos próprios filhos que não faziam a mínima ideia [quem éramos] até ter acontecido o concerto [risos]?

E agora? Vão para estúdio? Planeiam um novo disco para breve?
Jay-Jay: MEO Marés Vivas, MEO Marés Vivas, MEO Marés Vivas, MEO Marés Vivas. 
Carlão: Eu acho que as pessoas não terão (naturalmente não podem ter) noção daquilo que implicou para nós fazer, em termos de foco e de dedicação, o concerto que fizemos este ano e o que vai implicar o do MEO Marés Vivas. Porque isto é algo muito intenso. Nós temos uma história grande e fizemos muita estrada, mas a verdade é que estivemos parados mais de dez anos, então, o que nós pusemos de nós neste concerto e o que vamos pôr agora no MEO Marés Vivas já é tanto que nos deixa com pouco espaço para pensar em algo mais. O bom disto é que depois, em cima do palco, passamos essa entrega e essa dedicação. Isto não é um concerto que a gente pegue de ânimo leve.
Jay-Jay: Tomou muito de nós este retorno. Exigiu tanto que não deixa mesmo espaço para pensar em mais nada.

De que é feita essa exigência?
Jay-Jay: É o palco, a própria energia que temos de ter, o rever processos, como é que a gente interagia, as letras, as músicas… são centenas de acordes. Enfim, é muita coisa.
Carlão: É uma carga mental muito grande porque há essa responsabilidade. Encontrei um amigo no autocarro que tinha uma namorada com quem ia a muitos concertos. Entretanto ele foi pai com outra mulher e ela também tem a vida dela e acontece, a dado momento no concerto [em Julho], de estarmos a tocar um tema, e eles mandarem uma mensagem um ao outro, sem os dois se falarem há anos, a dizer: “eles estão a tocar a nossa música”.
Jay-Jay: Estou todo arrepiado.
Carlão: São muitas histórias vividas. Quando falo desta entrega e desta dedicação, há esta carga mental de não defraudarmos aquilo que é um legado, que é uma grande responsabilidade.
Jay-Jay: O que eu mais recordo desse concerto foi o carinho e o amor no ar. Não foi a nossa performance, não foi o espectáculo em si ou as luzes, que foram brutais, não é isso. Foi sentir esse carinho, ver pessoas a chorar. É indescritível. E isto é mesmo muito forte, não vos passa pela cabeça.

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Coberta num manto melancólico, a música de Tiago Ferreira é pessimista, mas expressiva, capaz de encontrar beleza num caudal de tristeza. Ilha Digital, o novo registo que assina como Cavalheiro, é um disco sobre desolação, escrito dos pontos de vista de diferentes seres humanos que habitam o mundo atomizados. “Eu estava a tentar não me aborrecer a mim mesmo com os meus eternos pontos de vista, para isto não ser uma coisa fechada. Eu sinto-me numa ilha digital, mas há muitas ilhas digitais e eu tentei encontrar outras por aí. Cada canção fala sobre um ponto de vista diferente”, conta. “Andrajoso” é talvez o tema mais pessoal, sobre “alguém que tem receio de ser perseguido como um parvo ou um tonto, é um complexo de inferioridade”. Há também canções como “Mete Medo”, sobre a obsessão com a imagem, ou “Erra”, inspirado em 1984 de George Orwell, sobre mulheres que amargam por não encontrar o amor.

E depois há um tema chamado “Viagem ao Fim da Net”, que “demorou mais tempo a fazer do que alguns discos”. “É inspirado no livro Viagem ao Fim da Noite de Louis-Ferdinand Céline, sobre um homem que só olha para o mundo através dos seus próprios olhos. Como é um pessimista, só vê fealdade, tristeza e traição. Inspirou-me a pensar como seria se de repente acordássemos e não houvesse Internet e percebêssemos que o mundo é muito mais sinistro, que na verdade não conseguimos estar ligados a ninguém, que não temos a relevância que pensamos ter.” Mas por que é que demorou tanto tempo a ficar pronto? “Demorei muito a escrever a letra e depois, quando mudei de casa, perdi-a. E quando percebi que a tinha perdido – isto pode parecer um bocado dramático –, pensei que não ia ter capacidade para voltar a trabalhar nisto. Mas eventualmente encontrei-a no fundo de um casaco.”

Na verdade, todo o disco foi um processo demorado. Em finais de 2018, depois das apresentações ao vivo do disco Falsa Fé, começou de imediato a querer trabalhar em algo novo. Com Vítor Barros (Equations) na produção, o processo foi totalmente diferente. “Impus-me que não usaria a guitarra para compor. Utilizaria o piano e o sintetizador, sendo que eu não sei tocar piano nem sintetizador. A coisa era muito mais exploratória e retirou-me da zona de conforto, fui conseguindo construir canções que eram rudimentares em casa e depois no estúdio o Vítor ajudava a desembrulhar e a transformar em coisas mais completas e complexas. Entretanto, aconteceu a pandemia, depois tive um problema de perda de audição – que não foi uma coisa muito agradável –, mas depois conseguimos reatar e terminámos o disco.”

Há duas grandes inspirações em Ilha Digital. “Há uma musical, que é o Vítor. Ele impregnou-me de muitas coisas na maneira dele ouvir música. Na verdade, aquilo que ando a ouvir não tem nada a ver com o que ando a fazer, porque eu ouço Cartola, sambas e Nirvana. Na parte lírica, a inspiração é o que ando a ler. Neste disco eu tento abordar a contemporaneidade – estou a ser mais petulante do que devia – e eu gosto muito pouco de literatura contemporânea, mas vou buscar as ideias, o léxico. Isto é uma maneira muito pomposa de dizer que vou copiar coisas, vou buscar palavras e ideias de que gosto e depois espero que ninguém consiga perceber onde é que eu fui roubar aquilo.” Deixa lá, já tudo foi inventado. “E se não foi, não sou eu que vou inventar [risos]. Não tenho essa pretensão. Para mim a música é uma espécie de comichão, ou tenho ou não tenho. Posso passar um ano sem ter qualquer tipo de interesse em fazer música e depois numa semana escrever duas ou três canções. Sou um ser recolector em termos musicais, não sou propriamente um trabalhador. Às vezes não consigo, não tenho ideias.”

Um dos temas centrais do disco é a vertigem das novas tecnologias, a forma como estamos tão ligados mas cada vez mais desligados uns dos outros. “Eu tento, falhando, mas tento ser um homem do meu tempo. Tenho um computador, um telemóvel e uma televisão. Mas a questão nem é usar mais ou menos, é que o poder disto é absolutamente demolidor. Eu não estou aqui como um paladino, a dizer para deixarmos de usar o Instagram. Devemos viver na nossa época. O mais importante nisto, independentemente do meio, é a desumanização, é as pessoas empatizarem muito com tudo, mas de forma superficial. Na verdade, as pessoas não querem saber umas das outras, querem é consumir e aparecer e projectar felicidade. Tive um filho há pouco tempo e às vezes olho para ele e fico com receio. Os tempos estão a mudar tão depressa que acho que quando ele for um ser humano com personalidade, lá para os 17-20 anos, não vou ter nada em comum com ele. E isso assusta-me.”

“O Paul McCartney tem um disco chamado Memory Almost Full e eu às vezes sinto-me assim em relação à música. Não sou um melómano, não tenho disponibilidade mental para estar a ouvir música nova. E também não gosto particularmente de ir a concertos, não gosto de grandes aglomerados de pessoas. Sou bastante sociável, mas em doses pequenas. Sob pena de parecer um taberneiro, as artes performativas não são das coisas que mais me interessam.” Mas gostas de dar concertos? É que parece que vais ter um concerto a 6 de Novembro em Braga. “Sim, eu sei que é das coisas mais egoístas que se podem dizer. Eu gosto de dar concertos porque gosto de tocar a minha música, e gosto de a tocar alto. E sinto-me muito grato a quem está disposto a despender o seu tempo e dinheiro para me ver a fazer figuras tristes em cima de um palco.” ■

Concerto: Gnration (Braga). Sáb 6 de Novembro, 18.00. Bilhetes: 5€

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O novo álbum de JP Simões, o segundo que assina como Bloom, é totalmente diferente do que já fez a solo. Longe da brisa brasileira dos discos em nome próprio e distante da melancolia bucólica da estreia de Bloom, o novo Drafty Moon é mais a rasgar, com energia rock e espírito punk, mas também com uma carga ambiental muito forte. Numa discografia que já o levou em várias aventuras a solo e em colectivos como os Belle Chase Hotel, Quinteto Tati ou Pop Dell'Arte, ele não tem vontade de se repetir. “Estou sempre a tentar coisas diferentes para não morrer de tédio e não matar os outros de tédio também”, começa por dizer JP Simões, do outro lado da linha.

O álbum é inspirado na “trilogia de Berlim” de David Bowie, os discos gravados entre 1977 e 1979 em colaboração com Brian Eno e Tony Visconti. “Aquilo estava tudo cheio de ambientes, atmosferas e maquinetas, essa trilogia ainda hoje soa incrível. O nosso trabalho neste disco foi pegar num rock'n'roll mais directo e depois trabalhar com o Miguel Nicolau [Memória de Peixe], que acabou por ser o meu Brian Eno e Tony Visconti ao mesmo tempo. Foi um trabalho intenso e bom. Hoje em dia praticamente não se vendem discos, o que é pena, mas gosto muito de trabalhar nisto. Para aquela parte de vender o peixe é que já não tenho muito jeito. [risos]”


Drafty Moon é um JP Simões em excelente forma, com muitas matizes emocionais enquanto autor, músico e intérprete. A nível sónico, há um trabalho de sonoplastia que traz mais beleza a estas canções, por entre as outonais tonalidades das guitarras, que parecem pertencer a outra dimensão. “Foi feito com corpo e alma, foram dois anos aqui às voltas. A base foi quase sempre feita por mim, a guitarra e voz. Depois o Miguel ficava sozinho com as músicas – durante várias horas seguidas, aparecia com umas olheiras até aos joelhos – e aquilo estava noutro mundo. Houve muita minúcia, ele está sempre a investir em bancos de sons, vai buscar coisas incríveis. Quando se ouve bem, nota-se essa profusão de cores e de ambientes.”

O disco, que vê a luz do dia a 22 de Outubro, começou a ser escrito em 2019, quando o mundo já era um lugar estranho. “Foi um disco que nasceu de situações como ir à rua pôr o lixo e olhar para o que tinha no saco e começar a entrar numa ansiedade tremenda a multiplicar aquilo por sete mil milhões [de pessoas no planeta]. A questão dos movimentos ecologistas, o estado de ruptura em que nos encontramos, a corrupção que há no mundo, estas decadências bizarras que vão cativando o ódio nas pessoas, as câmaras de eco que levam as pessoas a votar em Trump ou Bolsonaro. Tudo isso andava a moer-me a cabeça, comecei a dar muita atenção às notícias e de repente tudo me criava ansiedade. O disco começou aí e agora estamos a voltar ao que passávamos antes. Esta descompressão já está a criar desequilíbrios, mais violência, mais tensão e impaciência em relação a tudo, as pessoas ficaram ali muito tempo presas e tensas.”

O disco suga essa energia toda, essa miscelânea de sentimentos e preocupações. Canções como “Bad For Business” ou “There's Something About Tomorrow” são exorcismos da tensão que foi sentindo. “Como sou assim um pouco neurótico, a princípio achei que finalmente o mundo estava todo na minha frequência de onda. Paranóico, com o medo da morte. Nunca tinha sentido o mundo humano, os terráqueos tão juntos. Infelizmente não foi à volta de uma coisa boa, mas senti uma comunhão como nunca tinha sentido no meu planeta, com os meus semelhantes. Mas depois tudo transformou-se numa lengalenga aterradora. Tive covid-19 e o que fiz foi ver séries e desligar, porque se ligasse ao pânico geral, a esse ruído de fundo intenso, aos números diários, aos relatórios, morte, morte, morte... É tanta campanha de medo. Fiquei bem, felizmente, mas sei que muita gente não ficou. Consegui não gastar tanto dinheiro porque costumava jantar fora e estar com os amigos, e pagar-lhes mais uma garrafa de vinho – mas na verdade sou eu que a acabo por beber toda...”

“Quando estávamos todos presos em casa, havia algumas ideias meio new age, de nos sentirmos todos no mesmo barco e estarmos unidos pelo combate a uma mesma coisa, tipo Guerra dos Mundos. Mas pá, o que é a vida das pessoas? Não é um montão de habitantes no planeta que são mais ou menos trabalhados pela estatística, não. São vidas individuais cheias de ansiedades e tensões e necessidades. E, caramba, às vezes penso que devia era tomar um comprimido para dormir e não pensar tanto nestas coisas, porque eu não posso fazer nada. Especulo, falo, mas que soluções é que eu tenho? Não sei. Não há um comprimido mágico para acabar com a corrupção e a violência. O discurso do ódio vale muito dinheiro porque consegue congregar muita gente com aquela ansiedade de solução final. Quanto mais complicado está o mundo, mais as pessoas o tentam simplificar, e essa simplificação muitas vezes é perigosa. Não esquecer como é que o chanceler do bigodinho apareceu na Alemanha... Aquilo deve ter dado jeito a alguém, especialmente à indústria da guerra.”

“Depois vem um gajo tipo borboleta vociferar umas indignações numas músicas meio punk-rock e é assim a vida, acho que não é mais nem menos que isso.” Mas alguém tem que o fazer, JP Simões. Não podemos ficar calados. “Claro, claro. Eu tento fazer coisas que gosto de ouvir, é o princípio básico. Depois tento dizer coisas que poderia subdividir entre Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, coisas que um poderia dizer ao outro e vice-versa. Mas de resto não sinto que a música hoje tenha a verdadeira força social que teve. Existem músicos com espírito aberto e uma inteligência fantástica e generosa, a própria indústria é que transformou a música numa espécie de papel de parede. Dou por mim a sentir uma profunda irrelevância, mas pronto, faço a música que gosto, isso é verdade.”

Estes dois anos, com confinamentos pelo meio, deram-lhe tempo para gravar dois discos. O próximo deverá sair na Primavera, também como Bloom, mas totalmente diferente deste. “São canções de confinamento, canções simples, de guitarra e voz. É um disco que tem aquele lado agridoce de chegar a Março de 2020 e os grilos estarem a cantar às duas da tarde, que é uma coisa muito estranha, e o mundo parou, o céu está mais azul, o mar está mais turquesa, há uma sensação de paz no ar e de repente o medo. Fui fazendo canções à volta desse feeling. Estive a ler uma biografia do Leonard Cohen e então estive um bocado under the influence naquela toada de simplificar as melodias ao máximo e contar histórias simples. Tenho canções que são recordações da infância e da adolescência, da alvorada da vida social e sexual. São pequenas coisas assim.”

Se podia assinar estes discos com o seu nome próprio? Nem por isso. “São compartimentos diferentes. Bloom dá-me gozo, liberta de um certo peso pessoal. Na verdade, a minha carreira – se é que isto se pode chamar carreira – é uma confusão, sempre com gente diferente, e depois gente que já morreu, são coisas irrepetíveis. Os discos foram feitos quase nunca com as mesmas pessoas, seguramente nunca com o mesmo estilo. Não sou daquelas pessoas que vá tocar uma música de um disco dos anos 90 e depois outra de 2016, não faz muito sentido. As coisas tiveram o seu tempo e não tenho vontade de repetir. Bloom aconteceu como uma espécie de segunda personalidade libertadora. Mas um dia destes recupero o JP Simões, tenho vontade de escrever um disco em português.” 

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Conversámos com um dos nomes maiores do hip-hop nacional enquanto bebia um chá na Champanheria do Largo. Ainda disponibilizou uma fita métrica para servir do suporte do gravador. Slow J é um artesão sem medidas fixas.

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