Um disco por dia
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Desafio Time In: Um disco de música portuguesa por dia

A Time In criou uma série de desafios para o ajudar a entreter-se enquanto está fechado em casa. Aqui ouvem-se discos.

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Aproveite os próximos tempos para fazer aquilo que sempre adiou. Ler um livro, ver um filme, ouvir um disco. Qualquer coisa é melhor do que ficar obcecado a ver e a ler notícias sobre o surto de Covid-19. Entretenha os ouvidos com música. Se puder apoiar a música nacional, ainda melhor. Nas últimas semanas, choveram cancelamentos de concertos para os próximos meses. Confinados às suas casas, alguns músicos viraram-se para os ecrãs para continuar a partilhar um pouco da sua arte. Mas ninguém sobrevive com concertos online gratuitos, por isso, nesta altura a melhor forma de os apoiar é comprando música em lojas virtuais. Reserve uma hora por dia para ouvir um disco. Se puder, compre.

Veja aqui todos os Desafios Time In

Um disco de música portuguesa por dia

1. Dia 1: Sunflowers - Endless Voyage

Os Sunflowers são barulhentos e estranhos, e com orgulho absoluto nisso. São uma banda que sabe que o rock deve soar assim, com sujidade e sagacidade. Quando a coisa é bem feita, bem suada e com vontade de encher o mundo de porrada e felicidade, não é preciso mais nada. O álbum mais recente, Endless Voyage, é um passo de gigante de uma banda a crescer com cada vez mais controlo e mais caos. De dopados decibéis e delirante imaginação, é um disco conceptual onde contam a história de uma entidade misteriosa que ceifa as mentes decadentes da humanidade. ⯈ Ouvir e comprar

2. Dia 2: Manel Cruz - Vida Nova

Manel Cruz é um gajo que faz grandes canções mesmo quando as desenha pequenas. Agiganta-as com as palavras e o modo como as respira no sotaque saboroso do Porto. Dedica-se a descobrir a música do mundano, a música que habita nas pessoas. Percorre os labirintos que tem dentro dele e usa a arte como veículo para a violência e a vulnerabilidade. Vida Nova é um testamento do poder artístico da introversão. Sintonizado consigo próprio, descobriu muito para dar aos outros. A sua melancolia alicia, tão sedutora quanto destrutiva. São canções simples, mas que ardem com vida por dentro. ⯈ Ouvir e comprar

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3. Dia 3: Cristina Branco - Eva

Como é que uma voz com tanta leveza tem tanto peso interpretativo? Ela solta-a num fino sopro, encaracolando-a nas melodias, elevando a lírica. Através de autores como Filipe Sambado, Francisca Cortesão, André Henriques, Sara Tavares, Pedro da Silva Martins, Kalaf ou Márcia, Cristina Branco prova outras peles e personagens, vive livremente na intimidade dos outros e torna-a sua. Numa filigrana de melancolia, lava os olhos em lágrimas e saboreia o seu sal. Com a resiliência de quem escolhe respirar em vez de afundar na tristeza, Cristina Branco transforma em beleza o frágil sentido da vida. ⯈ Ouvir e comprar

4. Dia 4: DJ Lycox - Kizas do Ly

A última edição da Príncipe, editora que tem desenhado uma cartografia da música de dança de raízes afrodescendentes com vista para o mundo, chegou com a Primavera e em boa hora. No EP Kizas do Ly, DJ Lycox imagina uma poética do kizomba entre o sonho e a euforia. É música para dançar com o corpo coladinho a outro, para sonharmos com melhores dias, quando as coisas regressarem à normalidade. Enquanto não é editada a versão em vinil pintada à mão, já podemos aceder à edição digital. ⯈ Ouvir e comprar

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5. Dia 5: Angélica Salvi - Phantone

Dificilmente vão encontrar música mais bela do que esta. O álbum de estreia de Angélica Salvi, artista espanhola radicada no Porto, foi gravado no Mosteiro de Rendufe, em Amares. O som ancestral da harpa é moldado por delays, justaposições, ecos e reverberações, levando-o a novas explorações e sensibilidades. Produz um efeito encantatório que toca num canto fundo da condição humana, abrindo espaço para cada pessoa se desenhar a si própria. Através da magia da harpa, criou um espaço livre de expressão. ⯈ Ouvir e comprar

6. Dia 6: Três Tristes Tigres - Guia Espiritual

Enquanto aguardamos o novo disco da banda portuense, vale sempre a pena ouvir o que está para trás. Em 1996, Guia Espiritual, o segundo disco da banda portuense, trouxe um elemento de perturbação a um panorama musical perdido a contemplar o passado e a traduzir o que vinha lá de fora. Ana Deus (ex-Ban) e Alexandre Soares (ex-GNR) cruzaram as palavras de Regina Guimarães com guitarras e electrónica, com um fogo e uma ferocidade que nunca se ouvira. Estavam tão à frente do seu tempo, que hoje continua a ser pertinente revisitar este álbum. ⯈ Ouvir

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7. Dia 7: Mão Morta - No Fim Era o Frio

No Fim Era o Frio é um conto transformado em espectáculo de dança e posteriormente gravado em estúdio num disco conceptual. Louco e lascivo, Adolfo Luxúria Canibal narra um cenário distópico em que o mundo deixou de ser um lugar seguro, os oceanos invadiram a terra e os sobreviventes se esconderam em bunkers. A história culmina num vórtex de vómito, sémen e sangue, quando a salvação surge na forma porno-apocalíptica de insectos gigantes. Só ouvindo. ⯈ Ouvir e comprar

8. Dia 8: Sopa de Pedra - Ao longe já se ouvia

O que acontece neste disco é mágico: dez mulheres a tentar transformar em beleza o frágil sentido das coisas. As Sopa de Pedra unem-se em torno do cancioneiro português de raiz tradicional, dos cânticos mirandeses de Trás-os-Montes ao cante alentejano, de Amélia Muge a José Afonso. Celebram colheitas, amenizam as dores da vida e enfeitiçam a folia, celebrando o mundo, os amores e as amoras. Mas carregam na voz as ânsias e os desejos de mulheres do século XXI, perpetuando o poder da polifonia feminina. Cantando, a espalharão por toda a parte. ⯈ Ouvir e comprar

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9. Dia 9: Baleia Baleia Baleia - Baleia Baleia Baleia

Manuel Molarinho (baixo e voz) e Ricardo Cabral (bateria) entregam-se à adrenalina e ao prazer libertador de tocar a linguagem universal do rock com pancadas punk. As esperanças e frustrações da sua geração são geridas com doses violentas de humor e com malabarismos de melodia e ritmo. Oito canções urgentes e viciantes, que são hinos para uma geração inquieta. ⯈ Ouvir e comprar

10. Dia 10: Cláudia Pascoal - !

Neste álbum de estreia, Cláudia Pascoal canta canções bonitas sobre coisas tristes. Chama músicos e autores como Samuel Úria, Tiago Bettencourt, David Fonseca ou Pedro da Silva Martins, mas é ela a estrela destas canções. Ela tem uma voz leve e livre, que se aconchega num canto cálido do coração. Fala de amor e introspecção, com uma meiguice melódica que embala a melancolia. Este disco é um belo bálsamo para estes tempos. Merece muito mimo. ⯈ Ouvir e comprar

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11. Dia 11: Evols - III

São missionários de um rock'n'roll embriagado pela música psicadélica. Formados em 2008 por Vítor Santos, França Gomes e Carlos Lobo, os Evols incluem agora também na formação Rafael Ferreira (Glockenwise), André Simão (Dear Telephone, Sensible Soccers) e Sérgio Bastos (S. Pedro, Space Ensemble). Após cinco anos de espera, regressaram em 2020 com este disco, onde elevam as suas potencialidades sónicas. ⯈ Ouvir e comprar

12. Dia 12: Sensible Soccers - Aurora

Há poucas bandas assim em Portugal. Que consigam criar canções a partir das quimeras tântricas dos sintetizadores e das guitarras. Que transformem partículas celestiais em melodias que apontam para o infinito. Os Sensible Soccers fazem música de mente aberta. Psicadélica e progressiva, experimental e repetitiva, mas verdadeiramente apaixonada. Para fecundar os ouvidos de felicidade. ⯈ Ouvir e comprar

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13. Dia 13: Solar Corona - Lightning One

O álbum de estreia dos Solar Corona é uma bomba. Com vertigem, velocidade e visceralidade, a banda barcelense move montanhas com o portento do seu som. Num sopro, a sensualidade vulcânica do saxofone abre novas e distorcidas paisagens, luxuriando com os delírios cósmicos dos sintetizadores e o rugido das guitarras. Devolvem o abismo ao rock, com todo o peso e perigo. ⯈ Ouvir e comprar

14. Dia 14: Gisela João - Nua

Enquanto não chega o novo disco da fadista, qualquer desculpa é boa para ouvir a sua discografia. O que Gisela João canta é sempre fado, mesmo quando se descalça para bailar um vira minhoto, quando sai à rua para uma noite picante de São João, quando tem um encontro imediato com um extraterrestre ou quando demonstra uma rara sensibilidade emocional em canções do sambista Cartola. Se ela fugisse do fado, fugiria dela própria. Gisela canta-o da cabeça aos pés. Tem uma voz de caldo verde e tinto encorpado, tem o calor das brasas e doçura de amora madura. Frágil e humana, mas com um coração vulcânico. Uma de nós, mas tão maior que nós. ⯈ Ouvir e comprar

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15. Dia 15: White Haus - Body Electric

Como DJ Kitten ou nos X-Wife, João Vieira ostenta as suas influências com orgulho porque é disso que somos feitos – da música que ouvimos, das pessoas que nos atravessam, dos momentos e memórias. Tudo isso se cruza, contamina e dinamita algo que é só dele. Neste terceiro disco a solo, está mais exposto. Infestado pelo sufoco da ansiedade, mergulha na monótona lengalenga dos dias, na obsessão pela cultura do corpo, numa sobrevivência em contagem decrescente. O álbum flui pela Nova Iorque de 1970-80, os primórdios do hip-hop, o acid house, o funk híbrido, o kraut e o italo-disco, com um lado lúdico mas também emocional. Sem nada a provar e nada a perder, criou um álbum mais livre e mais pessoal, que só poderia ser dele. ⯈ Ouvir e comprar

16. Dia 16: Señoritas - As Saudades Que Eu Não Tenho

Mitó Mendes e Sandra Baptista são dois espíritos em desassossego, duas senhoras que sabem sujar a boca e pegar nas palavras pelos cornos. A guitarra derrete-se em lava, o baixo tudo comanda, as programações servem de suporte, e o acordeão – o mesmo que Sandra tocava nos Sitiados – insinua-se levemente. Com a mais solene e serena assertividade, caminham nos esgotos da vida humana, impregnadas de desejo e demónios. É música magnética, nua e crua, roída até ao osso. ⯈ Ouvir e comprar

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17. Dia 17: Drumming GP, Joana Gama & Luís Fernandes - Textures & Lines

O piano de Joana Gama e os sintetizadores de Luís Fernandes sempre se abriram a diálogos com outros músicos e doutrinas. Este é o novo capítulo da dupla, impulsionado pelo grupo de percussão Drumming. Interligando som acústico e som amplificado, explorando texturas e ambientes, conjuram um universo sonoro singular. É um disco de horizontes infinitos. ⯈ Ouvir e comprar

18. Dia 18: 10 000 Russos - Kompromat

O poder aliciante do ritmo e da repetição é o motor do trio portuense. Para sobreviver à opressão e ao tédio quotidiano, propulsionam o subconsciente para estados de escapismo. Num novelo de instrumentos, transportam a mente e o corpo para uma sensação de libertação dançante. André Couto, João Pimenta e Pedro Pestana seguem ziguezagueando pelas sombras do ruído, na transcendência de um transe. Mais distorcidos e abrasivos, levam a repetição ao extremo, até conseguirem ver para lá do horizonte. ⯈ Ouvir e comprar

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19. Dia 19: S. Pedro - Mais Um

S. Pedro não é apenas mais um cantautor. Sabe saborear as minúcias dos momentos e recortar as vinhetas do quotidiano para o transformar em expressivas e engenhosas canções, belas e charmosas. Canta e compõe de forma enganadoramente simples. A partir de pequenas histórias, desenha grandes canções que não querem ser mais do que isso. São impecáveis peças pop de quem tem a vocação, a cabeça e o coração no sítio certo, com letras que descomplicam a vida e encontram a beleza na banalidade. ⯈ Ouvir e comprar

20. Dia 20: Ermo - Lo​-​Fi Moda

O mundo mudou e com ele os Ermo evoluíram e se reinventaram. Encontraram um lugar estranho e habitaram-no. O álbum Lo-Fi Moda sonha com o futuro enquanto projecta instantes fiéis do presente, da humanidade devorada pela tecnologia, da solidão de uma vida em rede. O digital libertou-os. Pensam menos, sentem mais, mexem mais. É um disco a fritar de ideias, um mosaico fragmentado de uma electrónica saciada de sons suculentos. Com menos palavras e muito mais som, são livres de serpentear no infinito, luxuriando na lava de luminescentes melodias e de beats deliciosamente chunga. ⯈ Ouvir e comprar

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21. Dia 21: Peixe:Avião - Peso Morto

É um disco de artes plásticas, de crocantes texturas, de melífluas melodias, indiferente a cânones e convenções. Onde uma bateria se confunde com um sintetizador, uma voz queima como um riff, uma guitarra se desfaz em poeira sideral. Vive enfeitiçado pela manipulação sonora, por uma sinestesia do som e pelas texturas tacteáveis de cada instrumento. Denso, mas tão humano. ⯈ Ouvir e comprar

22. Dia 22: Pega Monstro - Alfarroba

As manas Reis – Maria na guitarra, Júlia na bateria – recodificam as suas influências num singular novelo de ruído e melodia. É raro ouvir uma banda com tanta fúria de tocar. Sem filtros nem poses, a música das Pega Monstro é uma selvajaria de saliva e suor. Guitarra, vozes e bateria, está tudo nivelado lá em cima, condensado numa massa sonora. Sujam os instrumentos, abrem os corações felpudos e despejam-nos em gloriosas descargas de ruído. Fazem isto parecer tão fácil e ainda bem. O mundo precisa de mais raparigas a fazer barulho. ⯈ Ouvir e comprar

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23. Dia 23: Capicua - Madrepérola

Num meio onde a mulher é resumida a uma função decorativa e coisificada, Capicua colou os cacos e transformou as mais variadas dores em arte. Descobriu a poesia que brota do corpo de uma mulher e a sua sabedoria ancestral. Fez das tripas coração e mostrou que uma mulher ferida é uma fera feroz. Capicua escreve como quem respira, de forma emotiva e engajada. No terceiro disco a solo, influenciado pela maternidade, a luta continua. Reafirma o seu lugar no hip-hop nacional e incentiva outras mulheres para, como ela, serem mais livres. ⯈ Ouvir e comprar

24. Dia 24: Dino D’Santiago - Kriola

Este é um álbum de quem luta para sobreviver e para afirmar a sua identidade. De quem acredita na sua herança e riqueza rítmica, reclamando por um lugar que lhe pertence. Dino D'Santiago canta a Lisboa mestiça e multicultural, supostamente plural, onde o racismo é uma realidade. No seu álbum mais activista, também dança a vida e os momentos íntimos, com canções quentes e húmidas que se colam aos corpos suados. Na libidinosa beleza de um tarraxo, no kizomba, funaná e batuku, a fertilidade rítmica de África é codificada em incandescências electrónicas. É um disco de revolução e emancipação cultural. ⯈ Ouvir e comprar

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25. Dia 25: Sereias - O País a Arder

Está tudo podre. O mundo a arder, o fedor do fascismo, o medo do amanhã, o caos e o apocalipse. Sereias é uma surra surreal de ruído. No centro do furacão está António Pedro Ribeiro. O poeta portuense é um demónio dionisíaco a dançar sobre o abismo. Discorre sobre mulheres e malícias, a castração do capitalismo, a rejeição da submissão, os poderes podres, vedetas televisivas a vender a alma e seres humanos reduzidos a consumidores e contribuintes. Ao tradicional trio de guitarra, baixo e bateria, um sintetizador e um saxofone rugem uma amálgama anárquica de noise-punk e free-jazz. Nos labirintos do ruído, a banda cavalga o caos e incendeia-o de liberdade e libertinagem. ⯈ Ouvir e comprar

26. Dia 26: Luca Argel - Conversa de Fila

Ele desarma o mundo com a sua paz, tacteia com ternura as palavras. O seu samba seduz na doçura e singeleza, sorve o quotidiano e transforma-o. Mas essa simplicidade tem camadas. Através da guitarra e de percussão com objectos de cozinha, desenha um som enxuto para destacar a arte poética das canções. Abocanha e avacalha as palavras, brinca com as rimas e enrola a língua portuguesa em temas esdrúxulos. Corriqueiro à superfície, político nas entrelinhas. Porque mesmo quando o mundo está doente, o melhor é seguir cantando e sorrindo. ⯈ Ouvir e comprar

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27. Dia 27: Stereossauro - Bairro da Ponte

Fado e hip-hop. Bairristas e boémios, são dois géneros que se atraem e repelem. Stereossauro conseguiu, melhor que nunca, imaginá-los juntos. Com acesso aos masters originais de vultos como Amália, abriu um universo infinito de possibilidades. Convocou cantores, rappers, músicos e produtores – todos a colorir fora das linhas, com arrebatamento e arrojo. Há temas emblemáticos desta sinergia, como “Cacilheiro”, com Carlos do Carmo encruzilhado entre a guitarra portuguesa de Ricardo Gordo e a eléctrica de Legendary Tigerman. Ou “Flor de Maracujá”, com Amália a interpretar Ary dos Santos e Camané a cantar Capicua. Bairro da Ponte louva a beleza da lusofonia, os seus sotaques e sabores. ⯈ Ouvir e comprar

28. Dia 28: Lena d'Água - Desalmadamente

Num país que não sabe acarinhar as suas estrelas pop, Lena d'Água não desistiu. Descobriu um novo amanhecer numa banda que inclui Benjamim, Francisca Cortesão e outros músicos dos They're Heading West. Descobriu-se a si própria nas canções compostas por Pedro da Silva Martins (Deolinda). As letras são dele, mas a vida e a alma só podiam ser dela. Ele soube ouvi-la e inspirar-se na sua candura colorida. Descortinou uma insustentável leveza nos labirintos da sua psique e desenhou-a em canções que têm um coração gigante. Desalmadamente é uma lição suprema de como viver a vida em pleno. Transforma fracassos em triunfos, reflecte sobre a sua juventude sem cair na amarga armadilha da nostalgia. Lena é linda e livre como uma flor silvestre. Ela abre as janelas e lembra as coisas belas. ⯈ Ouvir e comprar

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29. Dia 29: X-Wife - X-Wife

Quando surgiram, em 2002, os X-Wife estavam numa rara sincronia nacional com o que estava a acontecer lá fora, mas eram na verdade melhores que muitas das bandas do “novo rock” com quem partilhavam referências e afinidades. Editaram quatro álbuns, e a partir de 2011 as coisas abrandaram. Sete anos depois do último disco, os X-Wife não regressaram iguais. Regressaram agigantados. Convocam a energia dos primórdios e chocalham novas ideias, novos sons e novos instrumentos. Ostentam com orgulho as suas influências e assimilam-nas segundo o princípio do prazer. Ontem como hoje, mas hoje ainda melhor. ⯈ Ouvir e comprar

30. Dia 30: Joana Barra Vaz - Mergulho em Loba

Ela é líquida. Joana Barra Vaz sorve a vida e o mar de forma natural – lambendo o sal, hipnotizada num embalo de ondas, a esfocinhar na maresia. O álbum de estreia da cantora, compositora e realizadora segue a estrutura de um filme repartido em três suítes. Lembra um sonho lindo, quase acordado. Cria canções enlaçadas em fio de seda, com letras marcadas pela procura do papel da mulher, pela austeridade e por um amor a este país. Vai da calma à euforia, com uma voz de plumas na pele. Revela ser um nome valioso da nova geração de escritoras de canções. ⯈ Ouvir e comprar

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31. Dia 31: Conjunto Corona - Cimo de Vila Velvet Cantina

Há bandas que passam uma vida inteira à procura de uma identidade e nunca a encontram. O duo Corona acertou à primeira. No terceiro disco, Corona – personagem criado por David Besteiro (produtor) e Logos (rapper) – abriu um estabelecimento nocturno em Cimo de Vila, rua portuense afamada pelas casas de alterne. O álbum, editado em formato VHS, arranca com um sample do camionista porno-pimba Amílcar Alho e a partir daí é sempre a descambar. Anões e strippers, gemidos e chouriços, jactos de fluidos corporais e mamonas assassinas, juntos num enredo com polpa kitsch, funk e rock psicadélico. O hip-hop nacional não estava preparado para isto. Nunca se ouviu nada assim. ⯈ Ouvir e comprar

32. Dia 32: NBC - Toda a Gente Pode Ser Tudo

O terceiro disco de Timóteo Santos abre-se a muitas ramificações (soul, hip-hop, funk, jazz), mas está vinculado a uma portugalidade. Traz vozes como Dino D'Santiago e Virgul (Da Weasel), rimas de Sir Scratch, beats de Slow J e a bateria de José Salgueiro (Trovante). A voz tem textura de tinto maduro e uma elasticidade entre a palavra cantada, falada e rappada. Ilumina-se com melodias e move-se com a sabedoria instintiva do ritmo, através de letras que derrubam muros e lhe desnudam a alma. ⯈ Ouvir e comprar

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33. Dia 33: Ana Bacalhau - Nome Próprio

No primeiro álbum a solo, a voz dos Deolinda não foge da música tradicional portuguesa, mas põe a canção popular a conversar com a música anglo-saxónica. Cavaquinhos convivem com contrabaixo e guitarra eléctrica, em canções que vão da alegria garrida à melancolia em cinzas, da colorida gaiata à dama de negro, da menina que ainda vive nela à mulher a livrar-se da carapaça. Canta letras de nomes como Miguel Araújo, Jorge Cruz, Capicua, Samuel Úria, Nuno Prata e Carlos Guerreiro, mas o disco vive do magnetismo de Ana Bacalhau, uma intérprete de malabarismos melódicos, capaz de colorir as letras dos outros com uma caligrafia muito própria. Este é um disco de desassossego, uma declaração de independência de uma mulher sintonizada em si própria, à descoberta de si mesma. ⯈ Ouvir e comprar

34. Dia 34: HMB - Melodramático

A soul em português tem outro sabor. A língua de Camões, Caetano e Chico pode ser quente e lenta, sensual e sedosa, desmaiar nas nuvens, subir aos céus ou cheirar a terra. A soul portuguesa encontrou nos HMB um dos seus maiores expoentes criativos. A banda de Héber Marques chega ao quarto disco sintonizada com a intemporalidade da soul analógica e com os avanços tecnológicos do r&b digital. Grooves polposos borbulham em sinapses de funk pélvico e nos ritmos da sua ancestralidade africana. Este foi um disco criado no meio de crises pessoais e que é editado agora, em momento de crise global, para lembrar que a vida continua, tem de continuar. Entre a espiritualidade e o hedonismo, os momentos a dois e a celebração colectiva, Héber Marques canta as relações humanas no que têm de mais belo e frágil, no que nos une e separa. Canta para provar a dor e a delícia de estar vivo. ⯈ Ouvir e comprar

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35. Dia 35: Clã - Corrente

Enquanto aguardamos o novo disco dos Clã, é uma boa altura para lembrar o último registo de estúdio, editado em 2014, mais um capítulo numa das mais imaculadas discografias da música nacional. Corrente é um álbum que consegue ser agressivo e eléctrico, mas também doce e tranquilo, e que é atravessado por uma intensidade primitiva. Tem canções de peito cheio, de alma redonda, com o condão de serem complexas mas soarem simples. Manuela Azevedo, intensa e expressiva, é uma voz que se alimenta triunfantemente das suas imperfeições, malogrando a técnica para perceber que a maior riqueza dos poemas está na forma como se apropria deles. Ninguém canta com tanta ternura e languidez na voz. Só ela. ⯈ Ouvir e comprar

36. Dia 36: Luís Severo - Luís Severo

A fazer cócegas ao coração, Luís Severo estampa instantes fotográficos em versos, canta o adeus à mocidade e a sobrevivência como adulto na bela e gentrificada Lisboa. Tem tacto nas palavras, melodias eternas, refrões que valem por discos inteiros, coros a cair em cascata e um romantismo sem medo do ridículo dos apaixonados. Procurou esperança na cidade e encontrou-a nos lábios carnudos do amor. Quão raro é ouvir um homem tão humano, a escancarar o coração e a derramar tanta sensibilidade. E capaz de dar a vida por um refrão. ⯈ Ouvir e comprar

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37. Dia 37: Black Bombaim - Black Bombaim w/ Jonathan Saldanha, Luís Fernandes & Pedro Augusto

Pesada e psicadélica, a música dos Black Bombaim cedo se abriu à criatividade cósmica de outros músicos. São uma banda que prospera nas colaborações, dispostos a destruir e desconstruir o seu som. Este disco foi concebido em três residências artísticas com três produtores, cada um com a sua linguagem exploratória. Jonathan Saldanha (HHY & The Macumbas) fechou a banda numa câmara de reverberação. O efeito avassalador do espaço dilatou cada toque no tempo. Numa sábia gestão entre som e silêncio, conjurou um fogo que arde sem se ver. Em malabarismos de ritmo e repetição, Pedro Augusto (Ghuna X) deixou o grupo fluir hipnoticamente, projectando-o para o infinito. Luís Fernandes (peixe:avião) proporcionou os momentos de maior desbunda. Inspirado nas metodologias da electroacústica, arrancou a ferrugem e a gravilha dos instrumentos para desmontar o triângulo de uma banda rock. É um disco onde os Black Bombaim se descobrem no seu desconforto. Nos labirintos da guitarra, baixo e bateria, o trio barcelense encontrou uma nova liberdade, alienígena e alucinante. ⯈ Ouvir e comprar

38. Dia 38: Dealema - Alvorada da Alma

É um talento raro, este: saber sujar-se na podridão da vida, encontrar a luz e a beleza e transformá-la num manifesto artístico. Neste disco, os Dealema renascem das trevas e encontram na soul uma nova alma, bebendo dos sons que alimentam as raízes do hip-hop clássico e da era dourada do vinil. As palavras são balázios, os MCs são esgrimistas, as canções são manuais de sobrevivência urbana. Os Dealema continuam famintos, escrevem das entranhas, tatuam-se em cada música. Continuam a evoluir, mas permanecem iguais a eles próprios. ⯈ Ouvir e comprar

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39. Dia 39: Octa Push - Oito

Os Octa Push são uma máquina de costura de geografias e géneros musicais, tão perfeitamente integrados uns nos outros que parecem pertencer ao mesmo código genético. Servem-se do balanço do UK garage encaracolado com o aparato percussivo do afrobeat, a riqueza da herança africana e o vasto espectro da electrónica, criando uma infinitamente maleável massa de ritmos quebrados e ossadas tribais, com complexos rendilhados rítmicos e melodias bem nutridas. O resultado é uma caldeirada muito portuguesa, em todo o esplendor sónico da sua multiculturalidade. ⯈ Ouvir e comprar

40. Dia 40: Marta Ren - Stop, Look, Listen

A voz de Marta Ren é um maravilhoso instrumento. Eleva-se ao céu, chocalha o chão, agarra as canções pelos cornos, morde e arranha. Tem uma voz de chicotada firme, de timbre citrino, de incansável energia, com total controlo sobre si mesma. Capaz de a domar, de a adaptar a novos ritmos e insinuar-lhe novas curvas. O álbum olha para a antiguidade dourada da soul e do funk de 1960-70, mas esta música não é um simulacro do passado. É uma celebração de um som intemporal. ⯈ Ouvir e comprar

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41. Dia 41: Medeiros/Lucas - Mar Aberto

O mestre Carlos Medeiros (O Cantar Na M’Incomoda) e o discípulo Pedro Lucas (O Experimentar Na M’Incomoda) encontraram-se para uma quimera açoriana, iluminando a poesia do arquipélago com alquimia electrónica. De memórias antigas criam novas memórias, do património edificado erguem novo património. O espírito colectivo da tradição açoriana é transportado para coordenadas entre o Atlântico e o Mediterrâneo, ao compasso das guitarras , da ondulação marinha da percussão, de uma electrónica caleidoscópica e do abraço da pop. É um disco de mística marítima, tocante e transcendental, de imenso poder imersivo. ⯈ Ouvir e comprar

42. Dia 42: D’Alva - #batequebate

Alex D’Alva Teixeira e Ben Monteiro são dois rebentos da Internet que se alimentam das várias sinapses do mundo digital e que encaram o conceito de "guilty pleasure" como idiota e ultrapassado.Tudo cabe neste caldeirão cultural: pop descarada, trap, soul aquática, rock, ritmos africanos, pós-punk, chillwave, latin freestyle, pós-dubstep, baile funk e a febre sintética dos 80s. Mas o importante é que demonstram uma sensibilidade própria para processar esta parafernália. Conseguiram fazer um álbum estupidamente alegre e verdadeiramente livre, leve e solto. ⯈ Ouvir e comprar

Mais Desafios Time In

  • Filmes

Aproveite estes dias para fazer coisas que sempre quis fazer. Por exemplo, ver ou rever aqueles filmes fundamentais que há muito lhe despertam a curiosidade ou de que tem saudades, mas que normalmente não tem tempo para ver – ninguém o está a julgar; sabemos que o tempo não chega para tudo, e todas as semanas havia filmes novos a estrearem-se e mais séries para ver na Netflix, na HBO, na Amazon, e mais restaurantes para conhecer e mais uma vida para viver. 

  • Filmes

Há de tudo um pouco: drama, comédia, terror, animação e imagem real, documentário ou ficção. Só não vai poder ver tudo de uma assentada só. Todos os dias acrescentamos uma obra cinematográfica de curta duração para o ajudar a passar melhor o tempo em casa. 

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