“Tributo à miscigenação” é o subtítulo da elaborada peça Sertões Veredas, que ocupa todo o CD1 do duplo álbum Saudações, de Egberto Gismonti, e poderia também servir para resumir a carreira do músico brasileiro. A sua música é uma prodigiosa e original recombinação de material genético proveniente de frevo, forró, batuque, samba e música dos índios da Amazónia, de 15 anos de estudos de piano clássico, seguidos de aulas de orquestração em Paris com Nadia Boulanger e Jean Barraqué, e do seu fascínio por Villa-Lobos, Ravel, Leo Brouwer e Jimi Hendrix.
Saudações, que quebrou um silêncio discográfico de 14 anos e é o álbum mais recente de Gismonti, foi lançado há nove anos – a verdade é que, após ter construído discografia substancial nas décadas de 1970-90, Gismonti parece ter-se desinteressado do registo sonoro – Mágico: Carta de Amor, editado em 2012, recupera gravações de 1981, com Garbarek e Haden, e outros discos seus surgidos no século XXI são também repescagens de gravações antigas. Resta aproveitar as oportunidades de ouvi-lo ao vivo, circunstância em que tem vindo a favorecer o formato solo, desdobrando-se pela guitarra e pelo piano – é o caso deste concerto no Porto.