Pega Monstro - Casa de Cima
As Pega Monstro são tudo de bom. Algures na internet existem duas páginas de Google Docs cheias de potenciais inícios para este texto – quase todos mais inspirados e chistosos do que este – e mesmo assim optou-se por escrever que “as Pega Monstro são tudo de bom”. Por três motivos: a) é verdade; b) o leitor fica logo a saber ao que vem; c) não desvia as atenções do mais importante, a celebração honesta e crucial da música do duo lisboeta que acaba de editar o surpreendente Casa de Cima.
Ao contrário do álbum de estreia e do seu sucessor, o superlativo Alfarroba, o novo disco não é uma progressão natural daquilo que a dupla vinha a fazer desde o primeiro EP. É um passo ao lado, sem ser em falso; é uma gloriosa troca de voltas a quem ouviu o single “Partir a Loiça” e pensou que sabia o que o esperava (não sabíamos, e ainda bem); é Fernando Pessoa de mãos dadas com velhinhas das Beiras numa dança eterna e descompassada; é música popular portuguesa feita por um duo de garage-rock que, hoje, é a mais concisa unidade de produção de canções do país. É do caraças.
Abre de mansinho, com “Ó Miguel”, lamento de guitarra melosa e bateria tensa. Segue-se o garage-punk politizado de “Partir a Loiça”, onde se anuncia que “tá na hora de espancar / a cabecinha dos betinhos / bora partir”. E depois vem o “Fado da Estrela do Ouro”, sonho fadista que é um hino à Lisboa que resiste. “Cachupa” é o amor cantado em português no ano de graça de 2017. “Pouca Terra” é o rock’n’roll se o rock’n’roll tivesse sido inventado deste lado do Atlântico. “Sensação” é slowcore do interior de Portugal forjado a fogo lento por duas mulheres das Avenidas Novas. E ainda há “Odemira”, a “Amêndoa Amarga” deste disco, no sentido em que é uma canção maior do que qualquer CD, mas encaixa aqui na perfeição. Um malhão indie rock perfeito e intemporal. São só sete canções, mas não é preciso ouvir mais nada este ano. Luís Filipe Rodrigues