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Tim Bernardes: “Vejo o ‘Mil Coisas Invisíveis’ como um livro de ensaios”

O cantor, compositor e produtor brasileiro Tim Bernardes, também de O Terno, está de regresso a Portugal para cantar ‘Mil Coisas Invisíveis’. Falámos antes dos concertos.

Luís Filipe Rodrigues
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Como tantas vezes acontece, ao fim de um bocado e à boleia de uns versos de “Meus 26” (“Vai chegar 2020/ Como chegou o 2000/ Qual história se repete?/ Qual a gente nunca viu?/ Mostrar o Brasil pro mundo/ Ou o mundo pro Brasil?”), acabamos a falar de política. O tema do momento são as eleições presidenciais brasileiras. A segunda volta, que opõe o antigo Presidente Lula da Silva ao actual, Jair Bolsonaro, disputa-se a 30 de Outubro e Tim Bernardes, que tem andado a tocar por Portugal (termina a tour na Casa da Música, na segunda-feira), está “inevitavelmente preocupado”. 

“É difícil fugir do assunto”, concorda. “A tensão, pelo menos para quem é mais progressista, deve-se à sensação de que o Lula tem mais chances de ganhar, mas o Bolsonaro está a ensaiar a não aceitação dos resultados, um pouco como aconteceu nos Estados Unidos. Há uma apreensão nesse sentido.” Ele não é o único que está apreensivo. “A gente torce para que [Bolsonaro] chame os militares e não dê em nada, mas não se sabe quanto apoio ele tem. É uma situação muito esquisita. As eleições foram ficando cada vez mais polarizadas. Em 2014 já estava uma situação meio esquisita, em 2016 teve o golpe… E a gente vê isso um pouco por todo o mundo. Mas temos de manter a calma e dar um passo de cada vez.”

É sempre um bom conselho. Por agora, concentremo-nos no concerto que vai dar no Porto. É para isso que nos pagam. “Vou apresentar [as músicas] ao vivo como elas surgiram e como acho que são mais potentes”, começa a explicar. “Quando fiz as canções do Mil Coisas Invisíveis, cheguei a cogitar se devia gravar o disco todo sozinho, porque depois de fazer os shows do Recomeçar comecei a gostar desta coisa meio de trovador, só com a voz e o instrumento, seja o piano ou o violão. Isso tem uma certa força. Quando começo a colocar outros instrumentos ganho timbres, sonoridades, cores, só que perde-se alguma liberdade e uma crueza. Mas acabei por decidir não fazer tudo sozinho.”

Não se arrepende da decisão, apesar de reconhecer o prazer que lhe dá apresentar as canções assim, menos ornamentadas. O seu mais recente álbum, Mil Coisas Invisíveis, já é, de resto, mais despojado do que o anterior registo a solo, Recomeçar. “Queria fazer algum contraste com esta linguagem mais pianística ou de câmara que o Recomeçar tinha. Então, na minha cabeça, se o Recomeçar era um disco com bastante piano, este tinha de ter mais violão, uma coisa quase de cantor e compositor de mpb. Algumas canções têm menos arranjos, são mais cruas. Outras têm mais pormenores”, observa, mas há uma leveza que atravessa o álbum. “Dizia que o Recomeçar era como um filme. Este agora vejo mais como um livro de ensaios, de reflexões sobre coisas que me ocorreram nos últimos dois, três, quatro anos.”

Calma… Quatro anos? “Sim”, responde. Pelos vistos, algumas das canções do segundo disco a solo do brasileiro começaram a ser escritas logo em 2017, antes sequer de começar a compor atrás/além. O anterior álbum de O Terno, a banda de rock psicadélico da qual também é o principal cantor e compositor, foi composto “todo de uma vez”. Este não. Foi feito com tempo e calma, à medida que novas ideias surgiam, ligadas por um elo invisível.

Mas o que distingue então as cantigas de Tim Bernardes e de O Terno – se é que algo as distingue? “A escolha do repertório é um processo curioso. Porque às vezes componho uma música e ela na minha cabeça já é para um projecto ou para o outro. Mas muitas canções ficam numa área cinzenta e acho que se fosse altura de fazer um disco de O Terno elas ganhariam uma roupagem, e se fosse época de fazer a solo ganhariam outra”, confessa. Ao vivo, porém, tudo se mistura. Afinal, as canções de O Terno também são de Tim Bernardes, e partilham das mesmas influências e coordenadas estéticas: as canções docemente psicadélicas feitas entre o Brasil, os Estados Unidos e as ilhas britânicas nos anos 60 e 70. O seu grande mérito é fazer algo actual, talvez intemporal, a partir desta matéria-prima. 

Casa da Música. Seg 21.30. 22€-27€

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