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A Musa é como uma daquelas divas que chegam propositadamente atrasadas à festa para fazerem uma entrada apoteótica, obrigando todas as cabeças a rodar na sua direcção e a admirar o seu esplendor. Quem a vê agora, tão bem arranjada – com o seu néon vermelho vibrante pendurado na parede, as torneiras cheias de cerveja fresca e os balcões de inox polidos – não imagina as dores de cabeça, os cabelos brancos e as lutas que deu. E também houve vitórias, felizmente. A marca de cerveja lisboeta com mais "rock'n'gole", como gostam de dizer, anunciou a sua chegada ao Porto em 2019. Mas só este fim-de-semana, quase dois anos depois, é que abre as portas no Passeio das Virtudes, mesmo de frente para o Douro.
“Houve vários elementos que atrasaram o processo. Um foi a covid-19 e o outro o facto de se inserir numa zona que é Património da UNESCO”, explica Bárbara Simões, directora de comunicação da marca. Por causa disto, “tudo tem mais escrutínio, os processos são mais lentos e a maior parte da obra foi acompanhada por um arqueólogo. Não se partiu uma pedra sem consentimento”, acrescenta.
Mas a espera valeu a pena. Da cozinha semiaberta saem óptimos petiscos que Ana Leão, João Baião e Cristiano Barata, o trio maravilha, preparam. Tiras crocantes de orelha de porco katsuobushi para roer; paratha, uma espécie de pão do Médio Oriente mas com massa folhada e acompanhado por labneh, grão e amba de dióspiro para partilhar; biqueirão fumado sobre um brioche artesanal da padaria Garfa, inusitadas espetadas de couve, bifanas do cachaço e tartes de marmelo são algumas das coisas boas que aterram sobre as mesas que, depois da refeição, podem ser rebatidas para dar espaço a um pezinho de dança.
Ao fundo, uma arca frigorífica envidraçada, com as paredes repletas de ilustrações de Carlos Roxo, chama à atenção. “É onde temos os barris armazenados para que a cerveja saia sem desculpas nenhumas”, ri David Rodrigues, responsável pelo espaço na Invicta. “Temos uma cultura de cerveja muito grande, mas em muitos cafés as máquinas de cerveja, os barris, os CO2 estão, normalmente, encostados a uma máquina de lavar copos ou a uma máquina de fazer gelo, que produzem calor, quando é o oposto que se deve fazer. A cerveja deve estar no local mais fresco possível”, explica, acrescentando que têm muito cuidado com o seu armazenamento. “É por isso que temos uma arca só para os barris e toda a tubagem vai pelo chão até aqui às torneiras. Antes de sair, a cerveja passa ainda por uma outra máquina que reduz a sua temperatura em mais dois ou três graus.”
Torneiras são 15, oito ocupadas com as cervejas da casa e as restantes com convidadas. Apesar de em Lisboa, tanto na Fábrica em Marvila, como no espaço que têm na Bica, estarem mais associados “à noite”, conta David, a ideia é, aqui, ocuparem também “o fim do dia” dos portuenses. “Esta localização puxa muito pelo movimento ao fim do dia, há muita gente que vem para o jardim ver o pôr-do-sol. Queremos atrair as pessoas a virem até cá, beber uma cervejinha, comer um petisco, ouvir um DJ set...”
E não há melhor sítio para o fazer. “Um dos sócios fundadores da Musa, o Nuno Melo, é do Porto e adora as Virtudes. Sempre teve aquela esperança de que o nosso bar fosse lá parar… E foi”, conta Bárbara. “Sempre que estava no Porto, passava por lá e tinha alertas no Imovirtual e Idealista. Um dia esse alerta chegou. O nosso espaço estava disponível.”
Passeio das Virtudes, 28. Seg-Qui 16.00-00. Sex 16.00-01.00. Sáb 14.00-01.00. Dom 14.00-00.00.
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