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A Este tudo de novo. O Kokko é uma viagem gastronómica e sensorial ao submundo asiático

O mais recente projecto do Grupo Romando em Árvore, Vila do Conde, tira partido do que vem do mar e aposta numa carta marcada pelas influências orientais.

Mariana Morais Pinheiro
Escrito por
Mariana Morais Pinheiro
Directora Adjunta, Porto
Kokko
© DR | O Kokko fica em Areia, Vila do Conde
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De repente, somos transportados para uma realidade completamente diferente, caímos sem rede entre as páginas de um dos livros de Ian Fleming. No corpo temos um smoking engomado e feito à medida e estamos prontos para pedir um martini shaken not stirred – bem ao estilo de James Bond –, encostados ao balcão. A breve reminiscência de que o carro ficou estacionado lá fora, numa zona residencial de Árvore, a cerca de quatro quilómetros de Vila do Conde, dá-nos a vaga garantia de que não estamos a sonhar. Pelo sim, pelo não, olhamos por cima do ombro à procura de potenciais vilões e espiões inimigos. Nada nos havia preparado para a sumptuosidade do Kokko, o restaurante asiático do Grupo Romando, que recria a mística e o ambiente dos clubes clandestinos de Xangai dos anos 30 do século passado, “onde se misturavam culturas, prazeres proibidos e uma gastronomia inovadora”, dizem. 

A porta abre-se através de uma espécie de botão-alavanca (bem ao estilo de covil secreto) e deixa antever uma decoração onde cada detalhe foi pensado ao pormenor, para que a ilusão fosse real. Tassel forra os tectos do espaço com milhares de franjas em tecido, criando textura, relevo e dimensão, e proporcionando um ambiente intimista, abafando as conversas que acontecem nas mesas. Ao centro, também suspenso, um imponente dragão chinês marca o espaço. E sobre o balcão do bar, uma grande concha de ferro abriga uma série de ostras com molho ponzu e caviar, pousadas em gelo. Sentadas em cadeiras altas, mesmo ao lado, forradas a tecido brocado com tigres estampados, pessoas bebericam cocktails – como o Just call me Kokko (9€), preparado com tequila Volcán, ananás das Caraíbas, erva-príncipe e gengibre picante – que são servidos por meninas vestidas com kimonos de cores garridas. 

O bar do restaurante
© DRO bar do restaurante

Pelo resto do espaço há jarrões de porcelana, biombos, espelhos dourados, quadros com texturas e pormenores que transformam o Kokko num local com tanto de misterioso como de secreto. Inspirado na “figura enigmática de Kokko, uma mulher que dominou o submundo da cidade com um clube clandestino”, “este projecto partiu da vontade de criar um restaurante asiático que conseguisse ser gastronomicamente interessante, mas também com um lado apelativo e sensorial, que fosse bonito e confortável”, explica Nelson Pena, o proprietário, acrescentando que Kokko é “a personificação de um restaurante, que reflecte um elogio à mulher asiática e à sua emancipação”. 

Uma transformação que demorou três anos

O Kokko ocupa hoje o espaço onde outrora funcionou o Romando Privé, o restaurante asiático que se tornou um fenómeno e se expandiu para locais como o Romando Sushi Café, no centro de Vila do Conde, e para Vila Nova de Gaia, instalando-se no Enoteca 17.56. Fechou as portas durante a pandemia, para reabri-las como Kokko três anos depois, após profundas transformações do espaço (no edifício ao lado funciona ainda o restaurante-mãe do grupo Romando, que há 25 anos se dedica sobretudo à comida tradicional portuguesa). 

Kokko
© DRUm dos recantos do Kokko

“Foram três anos de evolução, em que se fizeram obras estruturais e em que se foram acrescentando camadas ao restaurante. Tivemos escultores cá dentro a trabalhar as madeiras, por exemplo, além de todo o trabalho de pesquisa que foi preciso fazer. As louças foram muito difíceis de arranjar e as jarras foram todas importadas. Foi necessário porque queríamos fazer um projecto impactante, mas com classe”, continua Nelson, em entrevista à Time Out.

Uma cozinha pan-asiática

Mas não foi apenas o espaço físico que sofreu mudanças, optou-se também por uma nova abordagem à cozinha. O Kokko reabriu “mais transversal”, com “mais Ásia e menos Japão”, apresentando uma cozinha pan-asiática, que alia sabores exóticos e técnicas tradicionais, e onde o “lado de mar” está mais presente. “Queremos que este espaço tenha mais profundidade gastronómica”, porque “ou há valor gastronómico, ou o projecto não se consegue assumir no mercado”, assegura o dono, que não esconde a vontade de abrir, no futuro, um espaço em Lisboa. Vai daí, além de toda a influência do país do sol nascente, a carta conta agora também com contribuições das cozinhas de países como a China, a Tailândia ou a Indonésia. 

Kokko
© DRSushi e sashimi servidos no Kokko

O galego Martín Vázquez, ex-chef da Casa Marcelo, restaurante com uma estrela Michelin em Santiago de Compostela, dá uma ajuda no projecto. “Com tantos restaurantes japoneses no grupo, fizemos uma selecção dos profissionais mais capacitados e criativos para este projecto e, com a ajuda do Martín, desenhámos um menu mais fora do comum.” Este arranca com uma série de dim sums cozinhados a vapor e preparados no local. Os mais tradicionais, os har gao (10€), feitos com massa de arroz, têm recheios de camarão, mas há muitos outros, como os char siu bao, uns pãezinhos recheados com porco (12€), as gyosas de frango e cogumelos moreles (9€), ou as bolinhas de edamame e trufa (10€).

Nas entradas frias, conte com bandejas de sashimi (13€), tártaros (16€), tiraditos de robalo (12€), tatakis de salmão com ovo (14€) e ainda com um muito fresco e aromático granizado de robalo (16€). Nas quentes, brilham os gulosos ovos rotos com atum (22€), ao lado do edamame grelhado com sésamo (7€) e da couve chinesa com amendoim (8€). Depois disso, dá-se o verdadeiro festim para os amantes de sushi. Há nigiris de sardinha com pimento ou de salmão braseado com trufa (ambos 8€ / 2 uni.); gunkans com ouriço-do-mar, toro e caviar (20€ / 2 uni.) ou com enguia e sésamo (14€ / 2 uni.); pratos de sashimi (entre 28€ e 65€) e ainda combinados que variam entre as oito e as 24 peças (entre 22€ e 75€).  

Kokko
© DRPreparação do robalo cozinhado em folha de bananeira

“Os produtos do mar são a nossa base. Os ouriços, os bivalves, o pargo e outros peixes brancos vêm do nosso fornecedor, que é o mar que nos abraça aqui em Vila do Conde”, explica Nelson. Da cozinha aberta sobre a sala, chegam ainda pratos como o spaghetti japonês com camarão tigre (32€) e da robata, uma espécie de churrasco japonês, tomahawks de carne Angus (75€) e saborosos robalos cozinhados em folha de bananeira (26€). Para terminar, o yuzu crocante (8€), o fondant de amêndoa tostada (12€) ou o tradicional sticky rice (10€) são algumas das opções que dão a este Kokko um lado que também é doce.

Rua N2 222 r/c (Árvore, Vila do Conde). 912 302 220. Seg-Dom 20.00-01.00

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