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A histórica Ourivesaria Âncora vai fechar no centro do Porto (e não é a única, a Casa dos Linhos também)

Aberta há mais de 100 anos, a ourivesaria vai sair da rua 31 de Janeiro e está à procura de um novo espaço. Também a Casa dos Linhos vai fechar portas no centro do Porto.

Ana Catarina Peixoto
Jornalista, Porto
 Ourivesaria Âncora
© DRA Ourivesaria Âncora abriu portas na rua 31 de Janeiro há mais de 100 anos
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"Não estamos a dizer adeus, mas sim um até já, porque nos iremos reencontrar em breve". A mensagem publicada na página da Ourivesaria Âncora dá conta de que a histórica loja vai ter de fechar portas e sair do espaço onde está há mais de 100 anos, na rua 31 de Janeiro, na baixa do Porto. "A icónica fachada, que apaixonou milhares de portuenses e turistas, é um marco histórico do comércio tradicional da cidade, mas os ventos de mudança, empurrados pela pressão imobiliária, levam a que tenhamos de encerrar ali a nossa actividade, mas não pagam décadas de memórias acumuladas", acrescenta na mensagem o proprietário, Fernando Pato.

Segundo avançou o Jornal de Notícias, a Câmara do Porto confirmou ter recebido um Pedido de Informação Prévia (PIP) para “obras de alteração/ampliação para serviços”, sendo que o projecto de reconversão do edifício prevê a construção de uma unidade hoteleira. “Neste edifício onde estamos já somos a única loja que resta. Estamos rodeados de lojas vazias e o projecto que aqui vai ser implementado não prevê a existência de lojas”, contou ao JN o proprietário, acrescentando que "no final do mês, no dia 31 de Janeiro, a chave da loja vai ser entregue ao proprietário do prédio, que depois irá desenvolver o projecto imobiliário que considerar que é o adequado aqui para a zona".

A Ourivesaria Âncora foi fundada em 1923
DRA Ourivesaria Âncora foi fundada em 1923

A Ourivesaria Âncora vai, assim, fechar portas nesta rua, mas a situação será provisória: “Vamos fechar provisoriamente a loja e vamos reabrir aqui nas proximidades, porque a Ourivesaria Âncora não vai morrer, a Ourivesaria Âncora vai ter uma segunda vida e esperamos continuar a atender os clientes e a receber com todo o prazer todos os clientes que ao longo destes anos sempre nos visitaram”, garante o proprietário. 

O debate sobre o futuro do comércio tradicional no Porto está aceso e são vários os casos que vão surgindo de lojas históricas que estão a ser obrigadas a sair do local onde estão há vários anos. Algumas arranjaram moradas provisórias enquanto preparam um novo espaço, como o Armazém dos Linhos, outras continuam à procura de nova morada e vão resistindo no sítio original, como A Cafezeira, e outras acabaram mesmo por fechar portas de forma permanente, como foi o caso da Livraria Latina.

Casa dos Linhos sai da rua de Fernandes Tomás

Também a Casa dos Linhos, loja fundada em 1860, especializada em retrosaria e bordados artesanais, vai ter de sair do edifício que ocupa na Rua de Fernandes Tomás. Este é um dos espaços comerciais reconhecidos pelo programa municipal Porto de Tradição e preserva tradições que abrangem todo o país, com peças certificadas e que valorizam o trabalho das bordadeiras e um autêntico museu com painéis bordados que retratam a história da cidade do Porto e da própria loja.

A Casa dos Linhos foi fundada em 1860
DRA Casa dos Linhos foi fundada em 1860

Felisberto Carvalho e Estela Pinto, os actuais gestores do espaço, pegaram no negócio em 2011 e decidiram revitalizar a loja, prometendo ao descendente do fundador preservar as características originais do espaço. Na semana passada, indica o JN, o negócio perdeu uma longa disputa judicial com o senhorio, que exige uma renda quase nove vezes superior à actual, rondando os cinco mil euros. Mas a disputa já decorre há vários anos: em 2014, o casal recebeu uma carta do senhorio para proceder ao aumento da renda, ao abrigo do Novo Regime de Arrendamento Urbano. “Na altura seria para passar para 2000 euros mensais. Não aceitámos”, referiram os proprietários ao jornal Público

Em 2017, os gerentes receberam uma nova carta, desta vez com a denúncia do contrato, alegando que, na altura da transferência das quotas, em 2011, não foi dada preferência ao senhorio. O caso foi para tribunal e no dia 13 de Janeiro o Tribunal da Relação deu razão ao senhorio. Felisberto Carvalho e Estela Pinto dizem não ter condições para acompanhar o valor da renda pedido e têm mais alguns dias para saírem do número 660 da Rua de Fernandes Tomás, bem no centro da cidade, junto ao Mercado do Bolhão. 

Os gestores procuram, por isso, um novo espaço acessível para que possam continuar a história de 165 anos desta casa, considerada um símbolo da identidade portuense. “A Casa dos Linhos não vai fechar. É para continuar. Em que moldes é que não sei”, garantiram.

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