[title]
Há rapazes de vestido e maquilhagem e raparigas de cabelos curtos e rostos carregados e, olhando as imagens de relance, pode ser difícil distinguir quem é quem. Mas, mais que a individualidade, importa observar o colectivo de jovens do Porto que vivem à margem de construções e preconceitos sociais e de género. “O facto de poderes ser quem és, encontrares-te a ti próprio e exprimires-te de qualquer forma é uma preciosidade”, começa por dizer Pauliana Valente Pimentel, fotógrafa e autora de Ask The Kids, exposição patente até 15 de Setembro no Maus Hábitos.
A artista esteve dois meses em residência artística naquele espaço, no âmbito do programa municipal InResidence, e foi dali que partiu para a criação. Os dez retratos que compõem a exposição mostram jovens entre os 18 e 25 anos que, de alguma forma, fazem do Maus Hábitos a sua segunda casa - seja ao passar música, organizar festas temáticas ou dançar. “Eles começaram a ser quem são aqui, porque podem fazer o que querem e ninguém os olha de lado”, reconhece.
O foco sobre os jovens não é novo no trabalho de Pauliana Valente Pimentel. Nos últimos anos, desenvolveu projectos como Quel Pedra (2016), sobre um grupo de jovens transgénero em Cabo Verde - e que lhe valeu a nomeação ao prémio Novo Banco -, ou O Narcisismo das Pequenas Diferenças (2018), um trabalho sobre os jovens dos Açores e a sua estratificação social na ilha. Em Ask The Kids, debruçou-se novamente sobre a juventude, aquilo que a move e por onde se move, mas, pela primeira vez, usou o Instagram como porta de entrada.
“Hoje em dia, é este o meio em que eles mostram onde andam e o que fazem”, comenta a fotógrafa, que fez “uma espécie de casting através do que visualizava no Instagram”. No entanto, a selecção baseou-se, mais que no aspecto físico, nas suas actividades, interesses e potenciais. “Boa parte dos jovens que vêm aqui e fazem coisas aqui estão ligados às artes e têm muito que dizer”, nota a fotógrafa.
Depois de realizados os contactos, Pauliana Valente Pimentel partiu para a intimidade que caracteriza a sua obra. “Muitos deles só conheci no momento em que me deram a morada para ir fotografar a casa deles”, recorda a artista. Face ao curto tempo de criação, alguns retratos resultaram de encontros de apenas uma tarde. “É um momento em que puxo muito por eles ao entrar na casa e no quarto deles, e estar disposta a ouvi-los e a desconstruí-los”, explica.
Algumas imagens foram feitas em casa, outras no Maus Hábitos ou em exteriores, sempre numa “dinâmica de colaboração” entre as duas partes. “Tento sempre perceber quem é a pessoa, onde costuma estar ou o que costuma fazer”. Mas, se durante o processo a artista mergulhou nas histórias e realidades de cada um para criar retratos intimistas, o resultado final não contempla qualquer referência às suas identidades. “É importante que cada um possa imaginar o que quiser, porque jovens são jovens em qualquer parte do mundo”, remata.
+ Galerias de arte que tem de conhecer no Porto