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Até há pouco tempo, tínhamos por hábito sentar-nos entre uma multidão de desconhecidos para viver a mesma experiência artística e cultural. A pandemia actual impede-nos de estar aos magotes em teatros ou museus, mas “a necessidade de encontro” mantém-se, segundo John Romão, actor, encenador e programador da BoCA – Bienal de Artes Contemporâneas.
A partir desta segunda 20, e até ao final de Junho, a BoCA passa a habitar o formato online com um programa multidisciplinar que integra performances, conversas ou leituras. Tal como no plano real, os eventos têm hora e local marcados e convidados novos a cada semana. “Continuamos a querer estar juntos à mesma hora e no mesmo espaço, só que é um espaço que não existe”, reflecte.
Há seis actividades semanais que acontecem em dias fixos nas redes sociais da BoCA: às segundas, os artistas dão Homework ao público, escrevendo instruções de performances para serem activadas a partir de casa; às quartas e sextas, diferentes convidados participam em Conversas Online sobre temas como pensamento, imaginação, comunidade ou sustentabilidade; às quintas, faz-se Press Play em vídeos de performances e filmes de artistas e, aos sábados, há Live Streaming de Performances encomendadas para o projecto, com duração entre 10 e 15 minutos.
O domingo é dedicado aos Ecotemporâneos, artistas ou pensadores que escolhem uma fotografia sua na natureza e a relacionam com um livro que tenham em casa. Esta actividade é um exemplo do que torna a BoCA online “numa ramificação do original em vez de uma mera transposição de conteúdos”. “Parte-se da mesma relação entre natureza e literatura, mas a referência é uma fotografia num espaço verde em vez de um jardim”, explica o director artístico da BoCA.
A semana inaugural da BoCA Online arranca com Homework da artista multidisciplinar Cecilia Bengolea, esta segunda às 13.30. Segue-se, na quarta 22, às 20.00, uma conversa entre o coreógrafo Bill T. Jones e Cláudia Galhós, que escreveu o ensaio biográfico de Pina Bausch. Na quinta 23, às 22.00, há uma performance da artista visual Otobong Nkange (em parceria com o Tate Modern) e, na sexta 24, às 19.00, há uma conversa com o escritor Gonçalo M. Tavares. Odete dá corpo à performance de sábado 25, às 19.00, a que se segue uma conversa com John Romão. A actriz Mariana Monteiro fecha a semana no domingo 26, às 16.00, para falar do livro Mulheres, de Eduardo Galeano.
Apesar de asfixiado pela pandemia, o sector artístico orienta-se, cada vez mais, por uma “solidariedade cultural” e uma “política do afecto”. “Devemos cooperar cada vez mais, com outras pessoas, disciplinas e países”, reconhece o programador da bienal, que regressa para a terceira edição em 2021.
Além de novas parcerias com instituições como a Fundação de Serralves ou o Tate Modern, a bienal vai lançar um crowdfunding para apoiar profissionais das artes em situação de carência financeira. Em troca de actividades gratuitas – todas financiadas pela BoCA –, o público pode contribuir para que os artistas tenham condições para viver (e, mais tarde, voltar a criar).
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