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A Turma apresenta ciclo de espectáculos no Teatro Carlos Alberto

Até 29 de Novembro, o Teatro Carlos Alberto apresenta três espectáculos da companhia portuense A Turma. Falámos com os encenadores.

Escrito por
Mariana Duarte
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Nos idos 2008, nove colegas da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (ESMAE) criavam uma companhia de teatro: A Turma. Hoje, passados 12 anos, ela ainda anda por cá, “mais forte do que nunca”, diz Tiago Correia, um dos seus membros fundadores, que tem dirigido A Turma juntamente com os encenadores Manuel Tur e António Afonso Parra e a cenógrafa Ana Gormicho, todos eles co-fundadores do colectivo.

E é precisamente o trabalho destes quatro criadores que vai estar em foco no Teatro Carlos Alberto (TeCA), no Porto, durante quatro dias, numa mostra que reúne três espectáculos recentes: o premiado Alma, de Tiago Correia (sábado e domingo às 10.30); Airbnb & Nuvens - Uma Rádio Novela (quinta e sexta às 19.00), com texto de Luísa Costa Gomes e encenação de Manuel Tur, em estreia no TeCA; e Wake Up (quinta e sexta às 21.00), um solo de António Afonso Parra criado em colaboração com Luís Araújo a partir de um monólogo de Eric Bogosian, muito recomendável dramaturgo e actor americano (é uma das caras de Uncut Gems, filme dos irmãos Safdie, e de Succession, uma das melhores séries dos últimos tempos).

Esta mostra acontece “num momento de maturidade da companhia”, assinala Tiago Correia, em que se dará “uma nova viragem na sua constituição”: saem Manuel Tur e Ana Gormicho, ficam Tiago Correia e António Afonso Parra. Por agora, o encontro está marcado com os quatro, no TeCA.

A Turma nasceu em 2008, num período em que se formaram e em que existiam, no Porto, várias companhias de teatro de jovens criadores. A Turma é uma das poucas que resistiu. O que é que foi mudando no vosso percurso, para o bem e para o mal, até hoje?

A Turma formou-se quando ainda estávamos no segundo ano do curso de teatro da ESMAE, em 2008, no momento em que começámos também a trabalhar profissionalmente com outras companhias e encenadores, fora d’A Turma, e foi isso que nos permitiu resistir até hoje. No início não tínhamos financiamentos, mas isso não nos impedia de criar projectos, desde que conseguíssemos compatibilizar com a nossa restante actividade profissional. Durante muitos anos foi assim, porque não tínhamos nenhum financiamento. Em 2012 recebemos, eu (Tiago Correia) e o Manuel Tur, um convite duplo para integrar um ciclo de encenadores emergentes da Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012 e esse momento foi muito importante. Desde então, fomos continuando a sobreviver à custa de muita resiliência e através de financiamentos pontuais de teatros e festivais que acolheram as nossas criações, como o Teatro Municipal do Porto, o FITEI, o Teatro Nacional São João, entre outros. Mas ninguém trabalhava a tempo inteiro n’A Turma. Isso só começou a mudar em 2018, quando recebemos pela primeira vez o apoio sustentado da DGArtes, que nos permitiu começar a estruturar a companhia. Foram necessários dez anos para que isso acontecesse. Tivemos a sorte e o mérito de sempre ter vivido do teatro, de termos conseguido desenvolver, cada um de nós, uma carreira no meio teatral. Porque cada um de nós resistiu individualmente, A Turma resistiu. E é por isso que muitas estruturas não resistem.

Esta mostra no TNSJ foi um desafio lançado pela instituição? Por que é que escolheram estes três espectáculos e não outros?

A Turma sempre se definiu como uma estrutura de pensamento e linguagens múltiplas, assentes no trabalho de dois encenadores diferentes que se desenvolviam em paralelo. O [António Afonso] Parra teve também a iniciativa de criar o Wake Up e cada um de nós preparava assim uma nova criação para 2020. Quando o Nuno Cardoso [director artístico do TNSJ] soube dos três projectos (aparentemente sem nada em comum) fez-nos esta provocação de nos juntarmos num só palco, numa espécie de mostra d’A Turma, para assumir precisamente essa multiplicidade de linguagens. E seriam três estreias absolutas. A Ana Gormicho seria o elo em comum, no desenho de um espaço cénico que permitisse a coexistência dos três projectos. Então, os projectos não fazem parte de um ciclo, existem por si só, têm equipas artísticas diferentes e são a primeira aposta de cada um dos três encenadores para este biénio.

A Ana Gormicho adaptou a cenografia de cada um dos espectáculos para esta mostra?

Dado que cada trabalho tem especificidades próprias e circula também independentemente pelos teatros do país, a Ana Gormicho teve que desenvolver uma proposta de espaço cénico que duplamente permitisse a sua existência independente e a sua coabitação num mesmo palco. São três cenografias independentes, articuladas num mesmo espaço cénico, aqui em pleno, no Teatro Carlos Alberto.

Wake Up parte do monólogo Wake Up and Smell the Coffee, de Eric Bogosian. Além de ser um texto muito autobiográfico, vai beber directamente à América e ao contexto em que o autor se move. Porquê esta escolha e o que é que procuraram no processo de reescrita e readaptação do texto?

O Wake Up and Smell the Coffee é um texto bastante autobiográfico do Eric, sim, mas que nos toca a todos. A crítica ao modelo americano de vida adequa-se sem grande esforço ao nosso próprio modelo. O Atlântico é uma fronteira física apenas. Suprime-se através de uma adaptação, fazendo com que o Wake Up possa parecer que foi escrito para aqui, Portugal, em 2020. A escolha do texto justifica-se perante a pertinência do mesmo, quando reflectimos naquilo que vemos diariamente à nossa volta. As referências são universais e os visados neste ataque – chamemos-lhe assim – constituem a própria humanidade, o que, feliz ou infelizmente, existe à escala global. No caso do Alma, estamos perante um texto original de Tiago Correia sobre a juventude contemporânea, uma peça para um jovem elenco que recebeu o Grande Prémio de Teatro Português da SPA em 2018 e que procura reflectir sobre a melancolia de uma juventude à mercê das suas fantasias e ilusões.

Airbnb & Nuvens – Uma Rádio Novela vai ser apresentada em estreia absoluta. Qual a ideia por trás deste espectáculo e como surgiu esta colaboração com a escritora e dramaturga Luísa Costa Gomes?

Este espectáculo teve como título, durante bastante tempo, aquele que é agora o seu subtítulo: uma rádio novela. É uma ideia antiga, há muito pensada, de expor cenicamente toda a mecânica radiofónica e sonora. O convite à Luísa não tardou muito e o encontro foi muito feliz, pois a Luísa há muito que pensava em escrever (ou adaptar) uma rádio novela. Não é um texto, nem um espectáculo datado, muito menos nos remete para uma época específica. Podemos defini-lo como uma espécie de variações, mais ou menos sintonizadas (usando a nomenclatura radiofónica), sobre a suspeita de um crime ou uma espécie de chá-das-cinco sobre regras de etiqueta e protocolos de hospitalidade, ou uma historieta passada num elevador de um prédio portuguesmente endividado.

Teatro Carlos Alberto. Rua das Oliveiras, 43. De quinta 26 a domingo 29. 10€.

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