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A cozinha de Antonio Mezzero ganhou uma nova morada e uma nova vida em Matosinhos. "Já queria ter feito isto há 13 anos", sublinha o pizzaiolo e chef italiano, que no início de Março mudou o seu espaço da Avenida Menéres para mais perto da marginal de Matosinhos, na Avenida General Norton de Matos. Mais do que uma pizzaria, trata-se de agora de "um verdadeiro restaurante italiano" – com uma nova carta que vai além das pizzas, mas que continua a tê-las como o principal cartão de visita. Há também pastas e, em breve, saladas e risottos.
O espaço tem uma lotação de 55 lugares e está ainda a ser preparada uma esplanada, onde serão servidos pratos mais leves. Mezzero quer casar a gastronomia italiana com a portuguesa e aliar a tradição que guardou da sua infância (passada, primeiro, em Cápua, na região de Nápoles, e mais tarde na Alemanha) à modernidade, sempre com um toque português – até porque diz sentir-se tão ou mais português que muitos. Os preços vão manter-se os mesmos, mas agora "há mais conforto, diversidade e qualidade".
Começamos pelos antipasti. Acompanhamos na cozinha, aberta aos mais curiosos e situada junto a um imponente, mas elegante forno de pizzas dourado, a preparação do carpaccio de polvo (14,50€), um prato com polvo pescado no Norte, acompanhado de creme de tomate seco, azeite, pimenta preta e “um cheirinho” de alho a vapor. "O alho é o melhor casamento com o peixe", aponta o chef. Enquanto explica o prato, Mezzero destaca a importância do empratamento. “Nem sempre chega só ter boa comida. O ser bonito também abre o apetite”, reforça.
Na mesa é ainda servida uma tábua de charcutaria italiana com queijo e focaccia (antipasto misto, 21,50€). A tábua tem o formato de uma bota, numa referência à forma de Itália, para "representar o produto da melhor maneira". Há mortadela, paio e presunto fumado, burrata, tomate fresco, cebola semi picante, presunto culatello e focaccia, sendo que todos os produtos são importados de Itália, à exceção do peixe e do marisco (que são portugueses).
É nos pratos principais que mais se nota a fusão entre a gastronomia italiana e a portuguesa de que Mezzero fala. Na carta mantêm-se as pizzas, especialidade da casa que já ganhou vários prémios, incluindo o campeonato de Pizza Napoletana Specialità Tradizionale Garantita em Itália, em 2018. “Não quero competir com nenhum chef italiano ou português, quero ser um chef grande em Portugal e o que fiz nas pizzas quero fazer aqui também. É juntar os dois, harmonizar a gastronomia portuguesa e a gastronomia italiana”, contextualiza.
Na mesa, é servida a paccheri artigianali al baccala (24,50€), um prato de massa curta artesanal (ideal para absorver o molho), com alcaparras, lombo de bacalhau vindo diretamente de Aveiro (com três horas de fervura), azeitonas taggiasche, molho de tomate, orégãos e azeite.
Há ainda massa paccheri alla amatriciana (24,50€), com bochecha de porco curada com pimenta preta, cebola, molho de tomate, pecorino burrata e pesto caseiro em massa de pizza. Este prato, com a base da massa de pizza a ser cortada com uma tesoura na altura em que é servida, foi um dos vencedores do prémio inovação no Madrid Fusion, que se realizou em Fevereiro deste ano. "Com a massa com bacalhau [estes] são talvez os pratos que mais me lembram a minha infância”, acrescenta Mezzero. A acompanhar, há "o melhor vinho branco de Veneza", Pinot Grigio.
No final de Abril serão incluídos na nova carta vários pratos de risotto, incluindo o risotto de camarão, e também várias saladas.
Para sobremesa chegam dois pratos: o cannolo siciliano (7,50€), uma bolacha crocante com creme caseiro de pistácio doce e granel de pistácio salgado, e a zuppa inglese, um bolo com creme pasteleiro feito à maneira italiana, com cacau 70% em metade do creme e ainda um licor especial e lascas de cacau. Este último prato vai ser adicionado à carta em breve.
"Estou a lutar para ser um grande chef"
Depois de se ter dedicado de corpo e alma à confecção de pizzas durante 13 anos, Antonio Mezzero sentiu que chegou a altura de incluir outros desafios: "A paixão é a mesma. É acordar as coisas que tenho de infância”, sublinha o chef, com a ambição de criar ainda mais pratos de assinatura. Até porque, alerta, actualmente não faltam pratos de gastronomia italiana, mas é preciso criar uma identidade e conceitos diferenciados.
“Cada chef tem a sua identidade. Hoje estou a lutar para ser um grande chef. Não para competir com os outros, mas para chegar a um ponto em que estou a assinar os meus pratos. Nós, chefs, temos que lutar para ter o nosso prato assinado. Ninguém vai tirar o passaporte da massa italiana ou da pizza italiana. Não temos que assinar por baixo que é italiano, temos que nos identificar a nós próprios: eu sou italiano e faço esta massa com este tipo de molho”, refere.
E apesar deste novo passo, o chef italiano faz questão de trazer à mesa uma pizza de mortadela e pistáchio para deixar uma garantia: “Só para mostrar que o Antonio continua a fazer pizzas”. Mas agora, há outros amores a acompanhar.
Avenida General Norton de Matos, 35 (Matosinhos). Ter a Dom, 12.00-14.30, 19.00-22.30.
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