[title]
Em tempos um clube de squash, hoje em dia um aglomerado cultural. Ali atrás do cemitério de Agramonte, entre a Boavista e o Campo Alegre, foi no piso de baixo do Espaço Agra que quatro jovens encontraram a oportunidade perfeita para o projecto paralelo que ambicionavam há algum tempo: um bar de cerveja artesanal, o Radioclube Agramonte – que tem vindo a evoluir para muito mais.
“Eu andava a experimentar fazer cerveja em casa, só porque sim, o Nuno também, e surgiu a ideia de fazermos uma marca de cerveja; um amigo disse-nos que era melhor não, então ficamo-nos pelo bar”, conta Miguel Freitas, um dos sócios. E com o Radioclube a correr tão bem, não existe necessidade de meter a carroça à frente dos bois.
Olhando à volta, respirando o espaço, conseguimos perceber porquê. Às 18.30 de um dia de semana, as mesas da esplanada enchem-se de amigos, ansiosos pelo copo pós-trabalho e do sossego que a área circundante proporciona. Aqui, só se ouve o som dos passarinhos, das conversas alegres e, claro, da música – um elemento medular do RCA. De saco de pano cheio de vinis na mão, Miguel diz-nos: “Eu semanalmente vou fazendo umas escolhas novas, de acordo com o que faz sentido para o espaço”. O Radioclube só passa música em vinil e funciona (qb) na base dos “discos pedidos” ou da jukebox verbal (sem ter de pôr a moedinha). Depois de espiolhar as prateleiras de LPs, pode (com jeitinho) pedir para pôr a tocar aquele que mais tenha despertado o seu interesse.
Mas a ligação à música não fica por aí. Desde o início do RCA, há pouco mais de dois meses, que a componente cultural do espaço foi uma das bandeiras a hastear. Em conjunto com a promotora de eventos Nightshift – projecto de amigos da casa –, todas as sextas-feiras e sábados (e às vezes domingos e feriados) há concertos e DJ sets gratuitos, principalmente de artistas pequenos, e há grandes ambições para o futuro. “Durante as obras, a piscina foi transformada em anfiteatro, deixamos a parte do fundo elevada para ser uma espécie de palco e, agora no Verão, temos ideias de passar uns eventos para lá”, conta-nos Nuno Pereira.
Fora os fins-de-semana e os concertos, nos outros dias continua a haver muito que fazer. De segunda a sexta-feira, o Radioclube abre para almoços, explorados pela “Cozinha do Agra”, em espírito de comunidade, com uma ementa semanal desenhada para se encaixar na singularidade das bebidas e do espaço em si. Há sempre sopa e sobremesa e os pratos principais vão do caril aos baos, da típica açorda às mais leves saladas, tostas e bowls (os preços variam, tipicamente, entre os 8€ e os 14€). De quinta-feira a domingo, pode também prová-los ao jantar. Se quiser apenas petiscar, há várias opções também: húmus (4€), batatas (4€) e katsu sando (7€), por exemplo.
O mais importante é sempre o que vai acompanhar. Enquanto adeptos da cerveja artesanal, esse é o principal foco da ementa do RCA. A carta é rotativa, mas há sempre uma atenção especial a produtores nacionais, como a Musa, a Dois Corvos ou a Fermentage, para além das marcas mais diferentes e raras de outros cantos do mundo. Segundo Nuno, “havia opções mais em conta para nós, mas é mais importante segurar a variedade e estas ligações aos locais”.
A única que não pode faltar é a Pilsner (1,90€/ 3,50€), da Sovina, a recomendação para o cidadão comum, “que vem cá e pede um fino”. Para além da cerveja, todos os refrescos são de selecção cuidada. A parede de torneiras uniformes aloja também cidras bascas e uma variedade de kombuchas, incluindo a variante alcoólica, que muitos engana. “A fermentação fá-la parecer uma kombucha normal, mas tem mais percentagem de álcool que muitas cervejas”, acrescenta Rafael Lopes, outro dos sócios.
E de maneira a tornar o artesanato biodinâmico mais abrangente, há ainda vinhos – nacionais e na sua grande maioria regionais, da zona do Douro –, cocktails de assinatura on tap (“uma moda recente”, diz Miguel) e refrigerantes naturais. O cuidado especial estende-se também ao café – 100% arábica (50% Brasil e 50% Peru), de torragem equilibrada, com notas florais, de baunilha e de chocolate. O expresso fica-lhe a 1,50€.
Sem experiência prévia na gerência de um negócio – tirando o quarto sócio e amigo americano Kevin Bowman, que ainda está à espera do visto –, os jovens embarcaram numa série de formações, de maneira a estarem o melhor preparados possível para a aventura que tem sido o Radioclube Agramonte. Aliado aos seus trabalhos "normais", diários, este é um projecto de paixão, alimentado pela amizade entre os sócios e a crescente comunidade que têm cultivado à volta do espaço.
R. João Martins Branco 180. Seg-Ter 12.00-17.00. Qua-Qui 12.00-01.00. Sex 12.00-02.00. Sáb 17.00-02.00. Dom 17.00-22.00
+ Antonio Mezzero mudou-se para a marginal de Matosinhos. E leva mais do que pizzas