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Quem percorre as ruas do Porto pode já ter reparado e até conhecer alguns espaços geridos por artistas independentes – galerias, ateliers, estúdios, livrarias, entre outros. Mas quantos espaços destes existem na cidade? Em que zonas estão localizados? Têm aumentado ou diminuído ao longo do tempo? Há alguns anos, responder a estas questões era difícil, mas a artista plástica Filipa Valente quis ajudar na tarefa. Assim nasceu o Campos Magnéticos, um arquivo-vivo que procura organizar, mapear e divulgar uma rede informal de espaços geridos por artistas e curadores independentes no Porto.
Uma das fases do projecto, apoiado pelo programa municipal Criatório, passa pelo mapeamento deste universo, com o desenvolvimento de uma plataforma digital que reúne os vários espaços que existiram e existem na cidade. "Estes espaços acabam por, no fundo, contar uma história paralela da história das artes no Porto. Muitos deles não estão documentados da melhor forma e, por vezes, não é fácil encontrar toda esta informação compilada, não há nenhum sítio onde possamos aceder a esta rede de forma actualizada e conhecer as várias localizações", explica Filipa Valente à Time Out.
Filipa assume-se uma "coleccionadora nata", com listas de tudo e mais alguma coisa. Um dia, ainda enquanto tirava a licenciatura, começou a olhar para os espaços geridos por artistas independentes no Porto. Anotou os nomes, procurou por eles e desde aí nunca mais parou de acrescentar espaços à lista. A ideia dos Campos Magnéticos surgiu quando a artista ainda fazia parte da Galeria Ocupa e, mais tarde, começou a desenvolver a sua dissertação de mestrado à volta do tema.
Actualmente, a plataforma conta com uma rede de 157 espaços criados entre 1980 e 2024, incluindo alguns locais que, entretanto, fecharam portas. A ideia é reunir o presente e olhar para o futuro, mas também documentar o passado e perceber de que forma é que esta rede informal tem evoluído ao longo dos anos, como é que acompanhou a história e o que é que isso indica sobre a situação artística no Porto.
"Acaba por acontecer quase como um micro-clima na cidade do Porto. Surgem muitos espaços também associados a determinados acontecimentos políticos e culturais não só na cidade, mas também no país, desde a implantação da República ao período do Estado Novo. Há alguns espaços que nascem mesmo no início do século XX como reacção a estas questões. Depois, a própria proximidade ali nos anos 90 com a abertura de Serralves, com a Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, entre outros, também vai acabar por motivar muitos destes artistas a juntarem-se e a criarem estas iniciativas", explica a responsável.
Na plataforma é possível filtrar a pesquisa de acordo com o estado dos espaços, a década da inauguração, a tipologia (desde espaços expositivos a oficinas e laboratórios) e o formato. Apesar de a definição de espaços independentes ser "um grande guarda-chuva que alberga uma série de espaços de índoles diferentes e objectivos variados", há um ponto em comum entre todos: "Oferecem aos artistas um espaço privilegiado de debate e de encontro de diversas comunidades. São espaços livres, onde muitas vezes as pessoas podem encontrar-se, debater sobre várias questões, apresentar trabalhos que muitas vezes não têm lugar noutros espaços institucionais".
Visitas guiadas, uma exposição e uma publicação
Desde que este projecto foi iniciado, em Outubro do ano passado, Filipa Valente tem ouvido o feedback da comunidade. Da parte dos artistas, explica, há o reconhecimento da necessidade de fazer este levantamento "para que as histórias não se percam". Há também quem esteja a conhecer estes espaços pela primeira vez e um aspecto que considera essencial: o mapa tem ajudado alguns artistas ou estudantes na procura de um espaço para exporem os seus trabalhos. "Ainda é muito difícil entrar nesta rede institucional. Aqui, se calhar, têm uma primeira rede com a qual podem contactar", explica.
A maior parte dos espaços encontra-se localizado na zona do Bonfim, mas estão também a começar a aparecer na zona de Campanhã, cada vez mais na periferia da cidade. No centro histórico do Porto já não existem muitos destes espaços. É o caso do Caldeira 213, na Rua dos Caldeireiros, que era atelier, galeria e bar, mas que fechou portas.
Além do mapeamento e documentação, o projecto inclui ainda as "expansões de campo", um conjunto de percursos mensais para visitar e conhecer alguns destes espaços independentes, mas também para abordar e retratar a história de locais que já fecharam portas na cidade. A próxima próxima caminhada acontece este sábado, 16 de Março, a partir das 15.00, e será feita por quatro espaços: começa no Espaço Instituto, na Rua dos Clérigos, seguindo-se o Painel, Caldeira 213 e Uma Certa Falta de Coerência. A participação é livre.
Para Junho deste ano está também programada uma exposição no Espaço Mira e ainda o lançamento de uma publicação.
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