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As máquinas entraram pela primeira vez há três anos no antigo Matadouro Industrial de Campanhã. Começaram por retirar o entulho acumulado, derrubar o que já estava obsoleto e preparar o espaço para a nova (e diferente) vida que se avizinha. É nestes 26 mil metros quadrados de área edificada que continuam as obras para reconverter o antigo complexo num centro empresarial, cultural e social. O “projecto âncora” para a zona oriental do Porto já tem nome: M-ODU. E deverá estar pronto para abrir portas ao público em 2026.
“As coisas estão avançadas. A parte principal do Matadouro estará pronta ainda este ano. A única derrapagem é relativamente ao edifício que vai fazer a ponte pedonal que liga à zona do Estádio do Dragão e isso tem uma razão técnica: verificou-se que o muro de apoio vai ter de ser reforçado. Estava a fazer uma 'barriga', algo que não era expectável", explicou Rui Moreira esta quinta-feira, durante uma visita à empreitada no antigo matadouro, acompanhado pelo arquitecto japonês Kengo Kuma.
As obras deverão estar concluídas até ao final de 2025, sendo que os espaços serão depois entregues para serem equipados e adaptados às actividades que vão receber, um processo que "levará entre 12 a 15 meses", assume o autarca.
E o que vai ser possível encontrar no M-ODU? Empresas, espaços comerciais, galerias de arte, museus, auditórios e espaços para acolher projectos de coesão social e ligados à comunidade local. A reconversão do antigo Matadouro faz parte de um plano maior da autarquia para revitalizar e valorizar a zona oriental da cidade, que inclui outras infra-estruturas, como o já inaugurado Terminal Intermodal de Campanhã.
“A cidade tem de mudar por aqui. Já não vai mudar pela parte mais consolidada, o centro histórico não vai mudar muito. Havia nas pessoas daqui um sentimento de desespero, de abandono, as pessoas sentiam que ninguém olhava para elas. O que temos feito nos últimos anos, por um lado, é fazer com que as pessoas acreditem que há um futuro para este território”, acrescenta o autarca, sublinhando que o projecto do antigo Matadouro vai fazer “uma ligação entre o contemporâneo e a memória do edifício”.
O projecto de reconversão, feito em parceria com o gabinete portuense de arquitectura Ooda, foi elaborado pelo arquitecto japonês Kengo Kuma, responsável também pelo Estádio Olímpico de Tóquio e pela reformulação do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, em Lisboa. A obra contou com um investimento de mais de 40 milhões de euros assegurados pela Mota-Engil, a empresa que ficou encarregue da reconversão e exploração deste espaço por um período de 30 anos, regressando depois para as mãos do município.
Do empreendedorismo à cultura, o futuro de Campanhã
O programa de intervenção no antigo Matadouro prevê a reconversão integral do complexo industrial, mantendo a sua memória histórica e natureza arquitectónica. Serão preservados os 11 edifícios independentes, sendo que a relação entre os espaços interiores e exteriores dos escritórios será feita através de zonas ajardinadas. Contas feitas, da área de 26 mil metros quadrados do terreno, o projecto vai manter cerca de 20.500 metros quadrados, dos quais cerca de 60% (12.500) serão destinados a espaço empresarial e 40% (quase 8000) serão explorados pelo município do Porto.
A área gerida pela Mota-Engil será, sobretudo, para acolher escritórios e uma zona de restauração e cafetaria. “Temos inúmeras empresas interessadas e inúmeros potenciais inquilinos”, adiantou Carlos Mota Santos, presidente da construtora. Os escritórios poderão acolher entre 1200 e 1600 pessoas por dia.
Já na área gerida pela autarquia haverá espaços culturais e de dinamização social, nomeadamente o Museu das Convergências, onde vai estar a colecção particular de Távora Sequeira Pinto – com mais de 1100 peças de pintura, escultura, mobiliário, têxteis, objectos de uso quotidiano, entre outro tipo de peças e obras.
O antigo complexo será também a casa de uma extensão da Galeria Municipal do Porto e haverá ainda um acervo e depósito de obras de arte, um espaço educativo, outro espaço de cultura e de práticas sociais e uma área para o projecto Ateliers Municipais, destinado a artistas residentes na cidade do Porto. Num dos edifícios vai ainda ficar instalada a nova esquadra da PSP.
Segundo a autarquia, os trabalhos tanto na Galeria como nos ateliers artísticos, na esquadra da PSP, na nave central e no espaço educativo deverão estar concluídos no próximo ano. Já os trabalhos e a instalação dos equipamentos no Museu das Convergências e no espaço das práticas sociais estão previstos para 2026, ano em que o M-ODU deverá abrir ao público.
O projecto inclui ainda a construção de uma ponte pedonal que vai passar por cima da Via de Cintura Interna (VCI), uma das vias mais movimentadas da cidade, para ligar directamente o acesso do complexo do Matadouro à estação de metro do Estádio do Dragão. A ligação será feita a partir do actual edifício, passando por um novo edifício com uma escadaria que faz, depois, a ponte de ligação à estação do metro. Segundo Carlos Mota Santos, a empreitada para esta travessia "começa entre o final de 2024 e o início de 2025".
Salta também à vista no projecto de Kengo Kuma a enorme cobertura que vai ligar o antigo edifício ao novo edifício de remate e cobrir toda a praça central. A cobertura será de chapa metálica perfurada e vai permitir a passagem de luz. O arquitecto japonês admite que um dos maiores desafios no projecto foi "preservar o edifício". "Não foi fácil, mas tentamos encontrar a beleza neste edifício simples e conseguimos preservar grande parte do edificado. O novo edifício vai dar um novo entusiasmo à cidade”, assegura, acrescentando ainda que tentou optimizar ao máximo a sustentabilidade do projecto, com a "luz e ventilação natural".
Ainda este ano, a zona do jardim do antigo Matadouro vai ser inaugurada, de forma a receber um conjunto de iniciativas enquanto a obra decorre.
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