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O conceito (e o desejo) é uma “cidade da proximidade”, com mais e melhor acesso à cultura. A histórica Livraria Lello vai avançar com três novos projectos culturais e turísticos em diferentes zonas da Baixa do Porto, num investimento total de 60 milhões de euros. No plano está um projecto no edifício contíguo à livraria com um elevador, uma sede com escritórios na rua das Galerias de Paris e ainda um circuito criativo na Rua do Loureiro, junto à estação de São Bento e ao Time Out Market Porto.
"Chegámos à Livraria Lello em 2015, resgatámos a livraria do fluxo turístico e vendemos agora cerca de um milhão de livros por ano. Os projectos têm que crescer numa lógica de que todos eles fazem parte do mesmo ar e todos eles são capazes de proporcionar valor para a cidade”, refere Pedro Pinto, sócio maioritário da Livraria Lello, durante a apresentação que decorreu esta quinta-feira.
Um edifício com mais acessos e mais programação cultural
O primeiro projecto da livraria, cujas obras começam já na próxima segunda-feira, dia 4 de Novembro, está localizado nos números 149/152 da Rua das Carmelitas, no edifício ao lado da Livraria Lello. Com assinatura do arquitecto Álvaro Siza, o espaço vai ter um auditório para programação cultural, casas de banho, uma zona de bilheteira e ainda um elevador de vidro que vai ligar os dois edifícios e que permite a pessoas com mobilidade reduzida subirem até ao primeiro andar da livraria.
“Se na Livraria Lello vivem os livros, aqui vão viver e habitar todos os seres dos livros”, acrescenta Pedro Pinto, sublinhando que este novo edifício vem resolver o problema de fluxos, uma vez que, actualmente, os visitantes entram e saem da livraria pela mesma porta, e solucionar problemas de acessibilidade e de dificuldade de programação cultural a acontecer em simultâneo com o funcionamento da livraria.
O projecto inicial para este edifício, que previa uma torre de 21 metros com elevador no edifício vizinho, foi chumbado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. Depois de algumas alterações e já aprovado, o elevador vai mesmo ser construído, mas com uma altura inferior à que tinha sido pensada inicialmente. “O elevador vai existir, não vai existir é na cota que o arquitecto Álvaro Siza inicialmente projectou, mas essas infra-estruturas estão lá”, acrescenta o dono da Lello, sublinhando que está previsto que as obras estejam concluídas em 2026.
Escritórios na rua das Galerias
Na Rua das Galerias, dos números 148 ao 152, no edifício contíguo à livraria, vão também nascer escritórios para os funcionários da Lello. Este segundo projecto, com mil metros quadrados e um investimento de mais de cinco milhões de euros, surge para acompanhar o crescimento da Lello ao longo dos próximos anos. A livraria conta actualmente com 70 colaboradores, mas prevê aumentar esse número para 120 em 2026 e 200 em 2027.
O projecto está a cargo do arquitecto Nuno Valentim, responsável também pela obra de reabilitação do Mercado do Bolhão, e, além dos escritórios, vai também contar com uma área cultural com um palco para receber concertos, exposições e peças de teatro, uma cozinha partilhada e uma mesa de chef.
“É um espaço para acolher os funcionários no centro da cidade, para lhes dar todas as condições de trabalho que merecem, mas não deixando também de abrir o espaço à cidade”, refere o arquitecto. A sede da Fundação Livraria Lello, que está actualmente no Mosteiro de Leça do Balio, em Matosinhos, vai manter-se, esclarece Pedro Pinto.
O circuito criativo São Bento-Loureiro
No terceiro projecto desta “cidade da proximidade”, a Livraria Lello vai até à Rua do Loureiro para criar um circuito criativo, com assinatura do arquitecto Álvaro Leite Siza, estando ainda por revelar ao certo os detalhes dos projectos que aqui vão viver. Esta rua, admite Pedro Pinto, “é uma paixão”, sendo que a instituição comprou aqui vários prédios há cerca de oito anos.
Num investimento de 30 milhões de euros, o projecto abrange, para já, oito edifícios, sendo que há dois edifícios que ainda estão para aprovação. “Decidimos encarar cada um como lombadas de livros, prontos para contar uma história diferente”, sublinha Francisca Pedro Pinto, filha dos administradores e também responsável por desenhar o programa para este projecto. Este vai contar com a colaboração de artistas nacionais e internacionais, incluindo um projecto sobre o escritor Dante, um projecto ligado ao património material e imaterial português, com colaboração de Pedro Abrunhosa, e ainda um outro projecto com o artista italiano Maurizio Cattelan.
Nesta rua histórica também se vai voltar ao passado, com uma interpretação contemporânea. Foi aqui que habitou a histórica Confeitaria Serrana e a antiga Ourivesaria Cunha e é também aqui que volta a nascer uma ourivesaria, que vai ter em exposição e em loja peças em filigrana feitas pelo arquitecto Álvaro Siza. “O projecto assenta muito numa base cultural e no ADN do que foi aquela rua e do que é o Porto. Algumas pessoas até questionam se isto será rentável, sob o ponto de vista económico. Nós sempre tivemos os pés bem assentes no chão, temos é que ter criatividade para que as coisas, no mínimo, sejam sustentáveis”, refere Pedro Pinto.
As obras para este projecto já estão adjudicadas, mas ainda falta resolver “um pequeno problema” que está a impedir que possam ser já iniciadas, refere o responsável, acrescentando que espera que a empreitada comece ainda este ano.
Além destes três novos projectos, a Livraria Lello tem ainda planos para o Teatro Sá da Bandeira — sendo que está neste momento em litígio com a empresa inquilina —, e ainda um projecto pensado para a Rua do Cativo, em que será lançada uma call mundial com seis arquitectos vencedores do prémio Pritzker.
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