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Como transformar ‘O Monstro da Vergonha’ num monstrinho?

É grande e ocupa muito espaço, mas só por agora. Tânia Carneiro explica como superar a vergonha que nos tira a voz e pinta as bochechas de encarnado.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
O Monstro da Vergonha
Ilustração de Ana OliveiraO Monstro da Vergonha, de Tânia Carneiro
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A Benedita tem sete anos e, como muitas outras crianças, já experienciou episódios de timidez extrema. Para a ajudar, a mãe decidiu contar-lhe uma história de coragem sobre uma menina, muito parecida com ela, que vive com uma espécie de gigante terrível, que faz malvadezas como roubar palavras e pensamentos. Assim nasceu O Monstro da Vergonha, o primeiro livro da psicoterapeuta Tânia Carneiro, que ensina os mais novos a lidar com sentimentos como o embaraço e o medo.

“No primeiro confinamento, a minha filha, que tinha aulas de teatro, precisamente como no livro, não queria fazer por zoom e escondia-se. Mesmo connosco, quando tentávamos fazer umas representações lá em casa, tinha muita vergonha e ficava só a ver”, recorda Tânia ao telefone, antes de contar o quão crucial foi escrever uma história em que Benedita pudesse ter o papel principal. “Ela sentiu que eu estava realmente interessada em ajudá-la a resolver o problema. Foi mesmo importante, porque ela tinha já uma série de sintomas que a estavam a inibir de fazer coisas.”

Com ilustrações de Ana Oliveira, este novo livro infanto-juvenil, para crianças a partir dos quatro anos, mostra-nos como a vergonha não é apenas uma emoção, mas uma mistura de sentimentos, entre receio, tensão e apreensão. E faz mais: lembra-nos como, em diferentes alturas da vida, todos nos sentimos frustrados, tristes, ansiosos perante o desconhecido ou situações de maior exposição – tal como a protagonista, que fica com vontade de se esconder quando estão muitas pessoas à sua volta ou perde a voz quando de repente se vê no centro das atenções no meio de uma sala.

O Monstro da Vergonha
Ilustração de Ana OliveiraO Monstro da Vergonha, de Tânia Carneiro

“Quando apresentei a história na Sociedade Portuguesa de Psicossomática, onde trabalho, gostaram imenso e sugeriram-me tentar publicar. Na altura, achei logo que poderia ser útil para outros miúdos”, conta a psicoterapeuta, que foi encaminhada por uma amiga para a editora Jacarandá. “Na hora de escolher a ilustradora, adorei a Ana, que conseguiu retratar os vários momentos e o que é isto da vergonha de uma forma espectacular.” Associada à baixa auto-estima, ter vergonha é, no fundo, como nos explica, não querer pôr a nu aquilo que pensamos que os outros vão ver.

A solução passa, diz Tânia, por confrontar. Só assim os envergonhados, grandes e pequenos, serão capazes de perceber que, ao contrário do que imaginam, há pessoas que gostam deles na mesma. Por outro lado, é fundamental haver apoio de quem está de fora, como o pai da protagonista, que a abraça para a arrancar do lugar feio que é a tristeza, ou a sua melhor amiga, com quem se sente livre. “O segredo – disse a minha mãe – é levar o aconchego dos mimos para as situações difíceis”, lê-se nas páginas coloridas de O Monstro da Vergonha (12,90€), que, mais dia, menos dia, se transforma só num monstrinho.

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