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Danny O'Donoghue no regresso ao Porto: “Vão ver uma nova camada da banda”

Os irlandeses The Script actuam na sexta-feira, 10 de Maio, na Queima das Fitas. Em entrevista à Time Out, o vocalista fala sobre Portugal, os desafios na música e o futuro.

Ana Catarina Peixoto
Jornalista, Porto
Danny O'Donoghue, vocalista dos The Script
DRDanny O'Donoghue, vocalista dos The Script
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Já são presença assídua em território português e este ano estreiam-se num evento feito de e para estudantes. A banda irlandesa The Script está de regresso a Portugal para um concerto na Queima das Fitas do Porto, na sexta-feira, dia 10 de Maio, e traz algumas novidades: pela primeira vez, vão aparecer em palco em quarteto. “Não queríamos um trio novamente, é difícil preencher o lugar do Mark [guitarrista da banda, que morreu no ano passado, aos 46 anos]. Estamos a experimentar outras configurações. Vai ser e parecer diferente, reorganizamos algumas músicas. Vão ver uma nova camada, mais recente, dos The Script”, explica Danny O'Donoghue.

Em entrevista à Time Out, o vocalista da banda de pop rock fala sobre o que o motiva a cantar (e a escrever) sobre temas como amor e perda, descreve o desafio de vencer a superficialidade na música dos dias de hoje e desvenda um pouco do que será o concerto no Queimódromo do Porto, onde vai partilhar o palco com o baterista Glen Power, o baixista Ben Sargeant e um novo guitarrista. Na lista de músicas estão sucessos como “Breakeven”, “The Man Who Can’t Be Moved”, “Superheroes” e “Hall of Fame”, mas também outras músicas que têm marcado o percurso da banda criada em 2007 , que já vendeu mais de 30 milhões de singles em todo o mundo. 

Estão de volta ao Porto, desta vez para actuarem na Queima das Fitas do Porto. Portugal já é um destino familiar para vocês?
Sim, já aí estivemos várias vezes. É sempre uma data que ansiamos na agenda da nossa digressão. Um dos últimos concertos que demos antes de terminarmos a nossa última tour foi no festival MEO Marés Vivas e divertimo-nos imenso. O público é muito semelhante ao público irlandês. Vocês adoram cantar, gostam de uma boa bebida e é sempre muito divertido. 

Têm tempo para visitar as cidades onde actuam?
Há uns anos, no início, não tínhamos oportunidade para fazer quase nada. Mas agora, nas últimas duas, três vezes em que estivemos aí, tivemos o dia anterior ou o dia seguinte livre para conhecer e ver a cidade. É isso que planeio fazer, porque torna-se chato estar apenas sentado no hotel o tempo todo. Quero encontrar um sítio perto onde possa passear, fazer uma caminhada e sentir um pouco a cidade. Quero ir a um parque, a um mercado e sentir a energia do sítio. Gosto muito disso. Depois, mais tarde, quando contamos algo no concerto, nem que seja o facto de termos estado num café local, o público também adora.

A Queima das Fitas é direccionada para um público mais jovem, sobretudo estudantes. Vocês têm um público muito fiel, que vos acompanha há vários anos, mas também têm fãs jovens, que começaram a acompanhar-vos recentemente. Como é que fazem a gestão desta diferença de públicos no momento em que pensam num concerto?
É de loucos, porque mesmo nos últimos meses a "Breakeven" (2008), a "The Man Who Can't Be Moved" (2008) e a "Hall of Fame" (2012) aumentaram mais do que nunca a audiência no streaming. Uma parte positiva da nossa música é que tentamos não pensar que estamos velhos. Faz tudo parte da condição humana: falar de amor, de perda, das coisas que são importantes para o ser humano – e não sobre dinheiro e carros. Claro que podemos gostar disso, mas não mais do que nos importamos com o amor, a força e a importância de ultrapassar as dificuldades.

Se for um concerto em nome próprio, pensamos sempre que a setlist tem de ser uma mistura, porque temos de começar em grande e depois, a meio do concerto, tentamos acalmar um pouco para relançar no final e terminar com entusiasmo. Mas quando estamos em festivais, com jovens ou mais velhos, o público quer cantar, dançar, beber e divertir-se. Num festival não há lugares sentados e vemos as coisas um pouco assim. O nosso problema é que temos muitas músicas lentas conhecidas e temos de as tocar. A "Breakeven" é lenta, a "The Man Who Can't Be Moved" também, mas depois temos de incluir algo pelo meio, como a "Superheroes", que aumente a energia, e depois voltar a acalmar um pouco. Tentamos ter essa energia. Mas um concerto dos The Script é o mesmo dos 6 aos 60 anos.

Falava há pouco dos temas das músicas. Nos tempos conturbados que vivemos actualmente tornou-se mais importante terem também músicas com uma mensagem positiva e de força? 
Sim, particularmente com a música, porque é como uma injecção directamente na nossa alma. Há tanta superficialidade à nossa volta que olho para a música como se fosse uma religião. Olho para a música para procurar conforto, da mesma maneira que alguém vai à igreja para sentir conforto e conexão com algo maior do que aquilo que é. Sou um grande crente nas letras que mostram que “todos os dias, todas as horas, transforma a dor em poder" ["Superheroes"], e se eu sentir isso, mas cantar sobre ter carros e dinheiro, então estou a fazer a mim próprio um mau serviço. Passamos todos por maus momentos, mas o ser humano é incrivelmente resiliente e conseguimos ultrapassar a maior parte das coisas. E é importante recordar as pessoas disso. Por vezes podem é não querer ouvi-lo – às vezes as pessoas usam a música como um escape e, pelas dificuldades da vida, não querem falar e ouvir sobre essas coisas.

Penso que é importante um equilíbrio. A maior parte das músicas que ouço tem uma certa melancolia: são tristes mas a pensar em dias melhores, sobre estarmos preparados para o pior mas sempre a desejar o melhor. Decidi que se estou a ouvir um podcast ou algo online quero que seja algo positivo, porque já ouço muita negatividade. E sinto-me muito melhor ao fazê-lo. 

Recentemente, explicou num vídeo que, por exemplo, o conceito de "Hall of Fame" foi inicialmente inspirado a partir do nome de uma rádio de música clássica. O vosso processo criativo funciona de forma semelhante ou depende do dia?
Pode acontecer de formas diferentes. O melhor método ultimamente, para mim, é pensar primeiro na letra e no que quero dizer emocionalmente. Uma canção é uma ideia e aquilo com que se apoia essa ideia é a música. Nove em cada dez vezes, a letra vem primeiro, porque define o tom emocional, define o ritmo. Mas posso fazer da forma oposta e criar na mesma uma óptima canção. A "Hall of Fame" começou com o piano e depois eu escrevi em cima do ritmo.

Gosto de ter um ponto de partida. Uma coisa que fazemos muito na nossa banda – e o Mark era incrível nisso – é fazer alguns trocadilhos com as letras. Algo como a "Six Degrees of Separation". Ouvimos e conhecemos a expressão "seis graus de separação", e pensamos: e se tornássemos a letra e a música sobre uma separação e falássemos sobre esses seis graus? Achamos uma ideia brilhante. Podemos separar-nos em seis pedaços diferentes e depois há as diferentes fases que passamos. Adoro fazer isso. 

Há algumas músicas que criaram a pensar já na forma como as vão tocar ao vivo e que até soam melhor em concerto do que propriamente gravadas no estúdio?
Normalmente as que menos esperamos que funcionem tão bem ao vivo são as que toda a gente canta. A vida é cheia de ironias [risos]. As que fazem mais sucesso e as que o público mais canta são as músicas em que me sinto mais emocional. 

E vão tocar alguma canção nova no concerto no Porto? Estão a trabalhar em algumas novidades?
Estamos sempre a escrever e a trabalhar em alguma coisa, mas não temos para já nada planeado. O que vão ver de certeza no Porto é a primeira vez que os The Script vão aparecer em palco em quarteto. Éramos um trio – eu, o Glen e o Mark Sheehan – e desde que perdemos o Mark não queríamos fazer um trio novamente, é difícil preencher o lugar dele. O que estamos a fazer agora é experimentar outras configurações. Vamos experimentar um quarteto em palco: o Glen atrás de mim, o Ben de um lado e o novo guitarrista do outro lado. Vai ser e parecer diferente; reorganizámos algumas das músicas e a setlist. Vão ver uma nova camada, mais recente, dos The Script.

Têm 17 anos de carreira. Como tem sido o percurso dos The Script até aqui?
Ainda estamos a tentar descobrir quem somos, o que vai funcionar e o que não vai funcionar, o que queremos dizer emocionalmente. O que sempre tentamos fazer foi escrever músicas e tentar escrevê-las do coração. Às vezes somos apanhados por uma ideia de uma canção que não sobrevive ao teste do tempo, mas sinto que quanto mais velho estou mais valor dou à canção.

Muitas vezes sinto que tenho de escrever, que se não deitar tudo cá para fora isso vai matar-me. Sinto que esse sempre foi o ponto de partida e sempre foi o que tentamos fazer ao longo dos anos. Tivemos sucesso algumas vezes, falhamos noutras tantas. Mas o verdadeiro teste a um artista é continuar a fazê-lo, independentemente de qualquer coisa.

Sentem que isso é um desafio maior nos dias de hoje, com o mercado e a indústria da música em constante mudança?
Sim, é mesmo, porque não definimos quais são os gostos das pessoas. É um pouco mais difícil hoje em dia, mas o jogo continua a ser o mesmo: captar a imaginação com uma canção. Talvez hoje em dia seja mais visual, mas quando retiramos o visual e ouvimos apenas a música, há uma razão para a qual a música mais antiga está a ser mais tocada em plataformas de streaming do que música nova. Talvez por causa do assunto, talvez as pessoas não estejam a dedicar-se de corpo e alma a nova música. Não me interpretem mal, há música nova incrível, há artistas brilhantes, mas é muito interessante ver que, se não cuidares da canção, a canção não vai cuidar de ti.

Queima das Fitas do Porto: Queimódromo, Estrada Interior da Circunvalação. 4-11 Mai, 20.00. 13€

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