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David Bruno: “O disco tem esta estética porque o Prince esteve na minha terra, Vilar do Paraíso”

O novo disco do produtor de Gaia, ‘Paradise Village’, vai ser apresentado num concerto gratuito no GaiaShopping, esta sexta-feira, 8 de Novembro.

Hugo Geada
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Hugo Geada
Jornalista
Novo disco de David Bruno é inspirado pelas suas vivências em Vilar do Paraíso
Margarida LimaNovo disco de David Bruno é inspirado pelas suas vivências em Vilar do Paraíso
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“Achas que o Pedro Abrunhosa é mentiroso?”, pergunta David Bruno. Esta questão surge no contexto do quarto disco a solo do músico de Gaia, Paradise Village, que vai ser lançado na sexta-feira, 8 de Novembro. O trabalho vai ser apresentado, no mesmo dia, no GaiaShopping, às 21.30, com entrada gratuita.

O novo álbum é baseado em Vilar do Paraíso, freguesia gaiense onde mora desde 2018. Na faixa Nando Manuel podemos ouvir um discurso do cantor de Tudo O Que Eu Te Dou” – que também viveu nesta freguesia –, feito durante uma campanha em que apoiava o candidato Elísio Pinto.

“Tenho trazido aqui músicos de todo o mundo. Tem sido uma coisa discreta, mas tem acontecido”, começa por dizer Pedro Abrunhosa. “Estiveram cá alguns dos músicos dos Rolling Stones, em minha casa, onde partilhamos jantares. Esteve o Prince com os seus músicos todos. Esteve cá a Shakira”, enumera. Apesar de não ter “badalado” estes convidados ilustres, garante que ficaram “fascinados com todo o cenário”.

“Será que mentiu? Se mentiu, eu não quero saber a verdade”, confessa David Bruno.

Isto não é só música, é antropologia

À semelhança dos seus trabalhos anteriores, o produtor continua a trabalhar como um verdadeiro antropólogo musical, a criar canções sobre os locais que mais o marcaram. O Último Tango Em Mafamude abordou as vivências nesta freguesia (foi-lhe atribuída a medalha de mérito cultural de Mafamude por ajudar a divulgar esta pequena região); em Miramar Confidencial imaginou um thriller policial nesta vila costeira e Raiashopping é uma ode à infância em Figueira de Castelo Rodrigo.

Agora, Vilar do Paraíso serve de mote para as novas canções. Segundo o gaiense, tudo começou devido a um “sentido de justiça”. “Estava em casa quando li a notícia que a Junta de Freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso ia separar-se”, explica. “Isto coincidiu com o momento em que recebi a medalha de mérito cultural da Junta. Pensei: ‘eu não mereci ser homenageado por Vilar do Paraíso. Aconteceu por arrasto. Nunca fiz nada por este sítio. Por isso, decidi que estava na altura de mudar isso.”

Com o passar do tempo conheceu cada vez melhor esta localidade e rendeu-se às suas particularidades. “Vilar do Paraíso é o que Mafamude era há uns anos. É um espaço muito suburbano”, diz. Moro numa casinha que parece da aldeia. Há uma paz enorme. Tenho um pátio com uma horta onde planto pepinos, tomates, salsa… Há ovelhas no percurso pedestre que costumo fazer todas as terças-feiras de manhã.”

A curiosidade levou-o a pesquisar mais sobre a freguesia. Descobriu que Camilo Castelo Branco escreveu um livro, Fanny Owen (que mais tarde inspirou um livro com o mesmo nome de Agustina Bessa Luís e o filme Francisca de Manoel de Oliveira), que se passa aqui. Mais tarde, também descobriu que Abrunhosa viveu nesta zona e deparou-se com o vídeo supracitado. “Percebi que havia muita história aqui, não são só velhas a usar panamás”, afirma.

Da mesa do café para o disco

Por exemplo, uma das melhores músicas deste trabalho, Redlaine, foi inspirada por uma conversa que ouviu num café (cujo nome não revelou para não magoar os sentimentos das mesmas dez pessoas que estão sempre neste estabelecimento). “Estava a passar uma rapariga ao lado de um café – daqueles que ainda tem a tradição dos vizinhos juntarem-se antes do jantar para beber um copo – e um homem ficou a olhar intensamente. Um dos amigos dele virou-se e disse: ‘Tens de ter calma, a olhar assim para as miúdas qualquer dia vamos ter que te pôr um açaime’, recorda. Primeiro, ri-me, mas depois comecei a pensar: ‘o que rima com açaime?’”

No meio deste cenário, começou a imaginar carros a acelerar e pessoas a viver no limite. Eureca: açaime rima com redline (as rotações máximas recomendadas por minuto para um motor). “Redline, baby, Redline / Para tua segurança vou ter que por um açaime”, canta David sob uma batida descontraída e um baixo sensual, um instrumental que não estaria desenquadrado na banda sonora do Grand Theft Auto: Vice City.

O artista reconhece que esta freguesia não é o local mais apelativo, mas existe um charme que o apaixona. “A narrativa deste disco é uma homenagem a Vilar do Paraíso. É um prazer morar num sítio com proximidade a negócios locais, onde podes ir a pé a qualquer sítio e que ainda tem este sentimento de comunidade. Até podes viver rodeado por coisas podres, mas eu acho isso bonito”, elogia.

Para divulgar o disco e dar a conhecer este cenário, a primeira acção de promoção, que aconteceu na terça-feira, 5 de Novembro, foi uma excursão, de acesso livre, à localidade. Entre as actividades, esteve um encontro-convívio na Barbearia Serpents, onde foram servidos cocktails e se ouviu o disco. Mais tarde, aconteceu um jantar no restaurante Café Paraíso, seguido de um digestivo no Mozart Piano Bar. “Até podia dizer: ‘isto é mesmo bonito, venham conhecer’, mas não, não é bonito. Sabes o que tem de bom, porém? Viver realmente relaxado e descomprometido.”

Para ilustrar as histórias que está a cantar, David optou por incluir sons resgatados dos anos 80 e de estilos como o yacht rock, com batidas acentuadas, guitarradas ferozes, drum machines a marcar o ritmo e coros soul. O que levou o produtor a adoptar estas tonalidades? Os ilustres convidados que já pisaram o solo desta freguesia. “O disco tem esta estética porque o Prince esteve na minha terra, Vilar do Paraíso. O Pedro Abrunhosa morou aqui. É para dar continuidade ao espírito deles, justifica. Haverá coisa mais bonita do que fazer uma música que seja altamente show off para mostrar uma coisa que não tem show off nenhum?”

Tocar lá [no GaiaShopping] é realmente o concretizar de um sonho

O músico refere que um dos principais elementos diferenciadores neste álbum são os back vocals de Helena Neto, que também trabalha com os Expensive Soul. “Para mim ela é A convidada deste disco. A Helena dá um toque refrescante e orgânico às minhas músicas. É a primeira vez que tenho alguém realmente a cantar nas músicas e sem auto-tune”, reforça.

“Em 2023, participei na música de uma banda do Porto, os Fatspoon, que é a Erótico & Sensual, e a Helena fazia os coros. Disse-lhe que gostei muito do trabalho dela e, sem compromisso, enviei as demos de umas músicas para ver se ela queria participar. A primeira coisa que me disse foi: ‘como é que sabias que eu sou de Vilar do Paraíso?’ Ela viveu sempre aqui, revela. Senti que era um sinal dos deuses.”

A cantora vai fazer parte da banda que o vai acompanhar na tour de apresentação do disco, que vai chamar-se Coração de Inox. Ainda em palco estarão os fiéis Marco Duarte, guitarrista, António Bandeiras, DJ e hype man, e Mohammed, teclista. O primeiro concerto é já na sexta-feira, 8 de Novembro, no GaiaShopping.

“Nunca me imaginei a tocar lá. É realmente o concretizar de um sonho”, assume. “Já toquei em grandes festivais e salas de espectáculos, mas dou mais importância a estes sítios locais e que fizeram parte da minha vida. Foi muito especial ter tocado no Auditório Municipal de Gaia com o autarca Patrocínio Azevedo na fila da frente antes de ser preso porque foi ao Norte Shopping buscar uma mala com 100 mil euros num saco da Zara”.

GaiaShopping (Vila Nova de Gaia). 8 Nov (Sex). 21.30. Entrada livre

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