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No primeiro confinamento generalizado, o Espaço Mira, no Porto, tratou logo de expandir a sua programação interdisciplinar para o digital. Apresentaram mais de meia centena de criações de várias áreas e de artistas de diferentes gerações, abordando assuntos como a liberdade, a sexualidade, os feminismos, o racismo e a ecologia. Agora, na segunda temporada do confinamento, voltam a organizar uma mostra online com videoarte, performance, cinema, artes plásticas e formatos híbridos estimulados por estas novas plataformas de exibição. O Mundo que nos Vê arrancou em finais de Janeiro e prossegue até ao último fim-de-semana deste mês nas redes sociais do Espaço Mira, onde ficam arquivadas e disponíveis todas as criações apresentadas desde o início do ciclo.
“O espaço da web é também um espaço de criação e de formação; um espaço cultural. Ele tem de ser humanizado, se não torna-se insuportável. E são as palavras, os sons, os gestos, os corpos, os pensamentos que nos ligam a esse espaço de uma outra forma”, diz José Maia, director artístico do Espaço Mira e curador desta mostra juntamente com João Terras. Apesar de atravessar várias linguagens artísticas, O Mundo que nos Vê conta com uma presença particularmente forte da performance, “reivindicando a presença do corpo em tempos de confinamento” e impulsionando o debate “sobre temas contemporâneos e urgentes”. André Feitosa, António Lago, Beatriz Page, Dori Nigro, Edicleison Freitas, João Sousa Cardoso, Joaku De Sotavento, Paulo Mendes, Paulo Emílio, Pedro Ruiz e Raúl Hidalgo são alguns dos nomes que compõem a comitiva de artistas – portugueses, brasileiros e espanhóis – convocada para esta mostra.
Entre os trabalhos há criações em estreia e também revisitações ou releituras de obras já realizadas que “trazem outras imagens, significados e experiências” tendo em conta o contexto actual, assinala José Maia, que é autor, sob o alter-ego artístico Manuel Santos Maia, do filme É um Outro País (2010-2021), exibido no primeiro fim-de-semana do ciclo. Outras apresentações que merecem destaque, todas elas na área da performance, são A MÚMIA: Na Preceptoria Estética para Ressuscitar os Mortos Esquecidos, de André Feitosa e Edicleison Freitas, sobre a Inquisição portuguesa e o colonialismo, a ancestralidade e a resistência política; 4A ou 4B, de Dori Nigro, um trabalho autobiográfico onde se fala do racismo quotidiano, mas também do orgulho identitário, associados aos cabelos afro; e Santa Barba, “um concerto-performance-ritual” de Paulo Emílio em torno da identidade de género e da sexualidade.
Neste fim-de-semana entram em cena André Sousa, no sábado às 15.00, e João Sousa Cardoso, no domingo à mesma hora: uma actriz irá ler em directo um texto do autor, que “convoca acontecimentos relacionados com a ascensão da extrema-direita”, refere José Maia. O encerramento da mostra, no dia 28, fica a cargo dos artistas espanhóis Beatriz Page, Joaku De Sotavento e Raúl Hidalgo, que trazem questões ligadas à arte digital e ao pós-humanismo.
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