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Do The Yeatman à Quinta Nova. Hotéis Relais & Châteux têm novidades

Rota do Douro é um dos roteiros da associação francesa. Uma nova carta gastronómica e um projecto de expansão são algumas das novidades dos dois hotéis.

Ana Catarina Peixoto
Jornalista, Porto
Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
Francisco NogueiraQuinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
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Um hotel bem junto ao movimento da cidade e outro nas entranhas do silencioso Alto Douro Vinhateiro podem parecer mundos totalmente diferentes. Mas, apesar das visíveis diferenças, há valores em comum: a gastronomia, o vinho, a história, o acolhimento e, agora também, a integração de ambos num dos roteiros da Relais & Châteaux, uma associação francesa de hotéis e restaurantes de luxo em todo o mundo, que comemora 70 anos e que conta actualmente com 13 membros em Portugal. A rota do Douro é um dos itinerários desta associação e nela estão incluídos destinos como o The Yeatman e a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, ambos com novidades este ano.

No The Yeatman, hotel localizado em Vila Nova de Gaia, o spa reabriu há um ano com um novo conceito e novas marcas e há desde Abril uma nova carta no restaurante gastronómico, liderado pelo chef Ricardo Costa, com propostas que destacam os peixes e os mariscos da costa atlântica. Mais para o interior, a histórica Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo renovou a sua adega, tem uma nova sala para experiências vínicas e está a trabalhar num projecto de expansão, com mais alojamentos, um novo restaurante, piscina e spa.

The Yeatman: um spa renovado, uma nova carta e um evento com sete chefs

Começámos a viagem no The Yeatman. Apesar de estar localizado num ambiente citadino, em Vila Nova de Gaia, o sossego impera mal se chega à entrada do hotel de cinco estrelas, rodeado de antigas caves de vinho do Porto e com vista panorâmica sobre o rio Douro. “O The Yeatman, entre mais de 500 hotéis membros da Relais & Châteaux, é o segundo hotel com maior inventário de quartos da lista”, aponta Rui Silva, director da Relais & Châteaux na Península Ibérica, salientando que a associação e o hotel partilham valores como a “qualidade, a tradição, a autenticidade, a sustentabilidade, a boa cozinha, os bons vinhos e uma hospitalidade calorosa”.

Percorrer os corredores dos nove pisos deste hotel é percorrer também a história da cidade, da região, do país e do vinho. Claire Aukett, directora de Marketing, vai mostrando os cantos da casa e explica que houve "a necessidade de criar também um hotel mais cultural". A prova disso são as nove exposições que existem nos espaços comuns, "que contam, em quadros, a história do país e da cidade, mas também com pisos inteiros dedicados às regiões vinícolas em Portugal”.

Os detalhes vínicos também estão em cada canto – desde as sinaléticas em forma de garrafa de vinho aos mapas das regiões vínicas do país afixados nas paredes e ainda o facto de que cada quarto tem o nome de um produtor nacional de vinho. “O vinho é a nossa primeira história para contar”, acrescenta a responsável. E esta ligação hotel-vinho existe desde o primeiro dia deste espaço, em 2010, quando o The Yeatman abriu portas com 82 quartos. 

THE YEATMAN
© DRThe Yeatman

Em 2018, o hotel ganhou mais quatro pisos e mais 26 quartos (109 no total), todos com vista para a cidade do Porto, e ainda uma segunda garrafeira. Mas já lá vamos. Primeiro, Sónia Paiva, manager do spa, faz uma visita guiada ao espaço que existe desde 2010 e que conta com dois pisos. “Temos um spa aberto a todos”, sublinha, acrescentando que 50% dos clientes não são hóspedes e chegam propositadamente para usufruírem dos tratamentos. 

Há cerca de um ano, o spa foi renovado e mudou o seu conceito, fruto do crescimento e da necessidade de um maior foco na saúde e bem-estar. Por isso, há agora nova tecnologia, mais sustentável, espaços mais iluminados e dez salas de tratamento no total, distribuídas por dois pisos e baptizadas com nomes de castas nacionais. Uma das novidades deste ano foi a abertura de duas novas saunas: a sauna de infravermelhos e a sauna de haloterapia com uma parede com sal dos Himalaias. "A ideia nesta última sauna é relaxar e respirar um pouco, descongestionar as vias aéreas”, acrescenta a responsável. Na área de bem-estar, há ainda uma sauna tradicional, banho turco, banho romano, duche experiencial, fonte de gelo natural e camas de pedra aquecidas.

Spa do The Yeatman
DRO spa do The Yeatman foi renovado ano ano passado.

Também a carta de tratamentos foi renovada, tendo agora marcas como a Vinoble, a Gentleman’s Tonics, com uma gama de produtos masculinos, a Vinylux, a Natura Bissé e ainda a Ilá, uma marca que produz cosméticos de forma artesanal com o objectivo de nutrir as necessidades de cada indivíduo. O grande “best seller” deste spa, acrescenta Sónia Paiva, é a massagem de assinatura The Yeatman (50 minutos, 130€), mas há ainda outras massagens e tratamentos.

Segue-se a entrada no verdadeiro mundo do The Yeatman: o vinho. Elisabete Fernandes é directora de vinhos e conhece como poucos as duas garrafeiras que, garante, "são o coração do hotel”. Nestes dois espaços há cerca de 1400 referências, sendo que 96% são vinhos portugueses das várias regiões. Contas feitas, aqui estão armazenadas cerca de 30 mil garrafas, sendo que a garrafeira roda três vezes por ano. A garrafa mais cara é uma Taylor, de 1896, que custa cerca de 5 mil euros.

Ao longo da visita à garrafeira, que está dividida por tipos de vinho e região, Elisabete Fernandes explica como funciona tudo, incluindo a diversa agenda vínica do The Yeatman. Há os já tradicionais jantares vínicos, que acontecem todas as quintas-feiras com um produtor parceiro, e o mais recente projecto: o Taste & Toast, uma viagem pelos sabores tradicionais portugueses num evento que reúne sete chefes e uma selecção de vinhos exclusiva. O primeiro evento acontece a 17 de Maio, com os chefs convidados Noélia Jerónimo, Óscar Geadas, Diogo Rocha, Kiko Martins, Ricardo Nogueira Mugasa e António Vieira.

A nova carta do restaurante gastronómico

“Somos vinho, mas também somos comida”. O mote está dado para o próximo local a visitar: o restaurante gastronómico do The Yeatman, liderado pelo chef aveirense Ricardo Costa, que conta já com duas estrelas Michelin. Nesta visita, é apresentado o novo menu de degustação (250€), onde se destacam os peixes e os mariscos da Costa Atlântica.

A viagem gastronómica começa no Dick’s Bar & Bistro do hotel, onde são servidos os aperitivos, enquanto o som do piano ecoa pela sala. A primeira entrada servida é o suspiro LYO, uma reinterpretação do típico frango assado português; seguindo-se o cozido português, feito com couve, terrina do cozido e o respectivo caldo, que são uma viagem à infância. A seguir vem a sanduíche de atum, com alga nori e gengibre; o lagostim crocante, recheado com creme de crustáceos e especiarias; e, por fim, a santola com caviar e churros verdes com clorofila de espinafres. 

De seguida, a próxima entrada é servida e provada na cozinha, onde os clientes podem observar toda a máquina a funcionar e ganhar um novo fôlego para o resto da refeição. É aqui que o chef Ricardo Costa serve uma novidade: uma fina bolacha de camarão da costa, feita com farinha de arroz, ovos, temperos e camarão. 

A experiência prossegue na sala, com os pratos principais. O primeiro a chegar é um cremoso de ouriço-do-mar com moreia, caldo dashi de inspiração japonesa e harmonizado com saquê. Segue-se zamburinha galega com sumo de maçã verde e jalapeños temperados com yuzu. Há ainda salmonete regado com óleo de cebolinho, combinado com daikon, puré de couve-flor tostado e kimchi, e ainda o pregado, que regressa ao restaurante gastronómico maturado à Bolhão Pato. A carta inclui também enguia, que reinventa os sabores da caldeirada típica de Aveiro, com molho de escabeche, romesco e curcuma.

Cremoso de ouriço do mar com moreia, com caldo dashi, de inspiração japonesa, harmonizado com saquê
DRCremoso de ouriço do mar com moreia, com caldo dashi, de inspiração japonesa, harmonizado com saquê

Por fim, são servidos os últimos dois pratos: bacalhau acompanhado com puré de grão-de-bico, grelos, óleo de nabiças, molho de mão de vitela e um toque de cominhos e o leitão assado com batata, alface e creme de milho, sendo este o único prato de carne presente no menu e também um regresso às raízes de Ricardo Costa. Para terminar, a sobremesa. A tripa de chocolate de Aveiro e os ovos moles de Gaia são algumas das (indispensáveis) opções. 

The Yeatman - Rua do Choupelo, 345 (Vila Nova de Gaia). Quarto executivo duplo, em época baixa: 335€ por noite, com pequeno-almoço incluído.

Quinta Nova: o silêncio, o vinho, o Douro (e a expansão)

Da cidade para o silêncio do Douro, a segunda paragem do roteiro da Relais & Châteaux é a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, localizada entre a Régua e o Pinhão. Ainda antes, há uma viagem num dos três barcos da Douro à Vela, empresa que opera no Douro há mais de 10 anos com um serviço de viagens de barco privadas e personalizadas. O barco que nos transporta chama-se “Entre Margens” e é o mais antigo do Douro, com 68 anos, garante o dono da empresa, António Pinho.

O serviço de passeios de barco pode ir de almoços privados a bordo a sunsets ou visitas a quintas, sendo que um passeio do Ferrão até ao Pinhão, ida e volta, tem um custo mínimo de 250€ por pessoa. Quase 100% dos clientes são estrangeiros. O objectivo, acrescenta o responsável, “é que o cliente não se sinta apenas um mero turista” e possa apreciar o Douro da melhor forma possível, sobretudo em silêncio: “Isto tem de ser visto e olhado em silêncio. As pessoas gostam de ver história e o Douro tem muita história”. 

Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
Francisco NogueiraQuinta Nova de Nossa Senhora do Carmo

E é também de história que está repleta a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. Com mais de 250 anos, e com uma vista para hectares e hectares de vinhas, esta foi a primeira quinta em Portugal a abrir um enoturismo com um hotel dedicado ao vinho e tem uma das adegas mais antigas da Região Demarcada do Douro. O edifício principal desta quinta tem 11 quartos – alguns na casa senhorial e outros na zona do terraço –, um restaurante e dois espaços comuns, sendo que no exterior há uma capela mais recente, um museu e uma adega.

No restaurante encontram-se vários pratos portugueses tradicionais, adaptados às vivências e à história do chef André Carvalho. A refeição é sempre uma viagem acompanhada por vinho, podendo optar pelo menu Degustação 4 Momentos (74€ por pessoa) ou pelas várias opções individuais presentes na carta.

A Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo tem mais de 250 anos.
Francisco NogueiraA Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo tem mais de 250 anos.

Depois de uma visita pela casa, feita por Jorge Eiras, director de hotel, segue-se o Wine Museum Centre Fernanda Ramos Amorim. Aqui vive um acervo único de 500 peças que representam a história do Vinho do Porto e do Douro, entre os séculos XIX e XX. Marta Teixeira, coordenadora de Enoturismo, é quem recorda a história e o percurso das vindimas tal como era feito antigamente e também nos dias de hoje, com tecnologia mais avançada. 

Um pouco mais à frente está a adega, de 1764, que no ano passado teve o seu interior renovado, mantendo toda a estrutura exterior, uma vez que se trata de património protegido. “Agora temos uma adega do século XVIII, mas projectada para o século XXI”, conta Marta Teixeira, explicando que a adega precisava de uma intervenção não só para poder armazenar mais vinho (e com melhor qualidade), mas também porque estava obsoleta, uma vez que foi pensada inicialmente apenas para Vinho do Porto.

Agora, a nova adega conta com 32 cubas de cimento, instaladas em duas cotas e com uma capacidade de 246 mil litros. Há ainda dois lagares tradicionais em granito para a pisa a pé que foram recuperados e 51 cubas de inox com capacidade de vinificação total de cerca de 560 mil litros. Um dos aspectos mais importantes destas cubas é que estão preparadas para receber as uvas seleccionadas manualmente em três tapetes de escolha: um para brancos, um para rosés e um para tintos. 

A adega da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo foi renovada recentemente
DRA adega da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo foi renovada recentemente

Actualmente, a Quinta Nova tem 15 referências no mercado, produzidas nos seus 85 hectares de vinha plantada. São cerca de 600 mil garrafas produzidas anualmente. Os clientes podem fazer uma visita regular ao museu e à adega (18€) ou optar pela visita mais prova de vinhos (32€).

A par da nova adega, abre este mês a Winery Lounge, uma sala dedicada a actividades privadas e exclusivas com os clientes. O espaço conta com uma equipa profissional e pretende ajudar a saborear e descobrir mais sobre os vinhos portugueses através de provas exclusivas, visitas guiadas e a experiência de criar o próprio lote de vinho. “É também uma tentativa de um processo de democratização do vinho. No geral, as pessoas não têm formação e esta é a nossa tentativa de aumentar a proximidade com os clientes”, reforça Manuel Queirós, director de turismo da Quinta Nova.

Para o futuro também já há planos em marcha, sendo que neste momento decorre um processo de licenciamento das obras de expansão da Quinta Nova, dentro do terreno já existente, e com uma duração estimada de três anos. Este projecto inclui mais seis quartos e uma villa com dois quartos, um restaurante bistrô com o conceito de “farm to table” e, numa segunda fase, a construção de um spa e de uma piscina em comprimento. 

Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo – Covas do Douro (Pinhão). A partir de 290€ por noite e por quarto, em época baixa, com pequeno-almoço incluído.

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