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No armazém instalado no Ecocentro da Prelada não tem faltado trabalho por estes dias. “Comecei ontem a arranjar este ferro de engomar e já está pronto. Era o termostato que estava avariado”, descreve Bruno enquanto, em passo rápido, vai mostrando os cantos do espaço. De um lado, explica-nos, há microondas, máquinas de café, ventoinhas, aquecedores e ferros de engomar; do outro, encontra-se mobiliário e muitos computadores. São uma ínfima mas significativa parte das centenas de toneladas de objectos e equipamentos eléctricos que todos os anos são deitados ao lixo na cidade — uns descartados em boas condições, outros deitados fora por desuso, avaria ou desgaste.
“Às vezes chegam aqui coisas praticamente novas, as pessoas é que deitam logo fora. A gente chega aqui e dá logo pelo erro”, explica o técnico que, juntamente com Vítor, o colega, tem recuperado e reparado os vários equipamentos que ali chegam. Tem sido assim desde o mês passado, altura em que entrou em funcionamento o EcoPorto – Centro para a Circularidade da Cidade do Porto, um projecto dedicado à recuperação, reparação e doação de bens, para dar uma nova vida aos equipamentos que são colocados no lixo e que muitas vezes podem ter uma segunda oportunidade antes de chegarem ao fim de linha e irem para a reciclagem — uma fase que já acontece no Ecocentro da Prelada.
Dividido em três valências — a oficina, o armazém e a formação — o EcoPorto quer recuperar os vários equipamentos e doá-los, renovados e reparados, a instituições de carácter social ou aos munícipes e empresas que demonstrarem interesse. Bruno teve formação durante um mês para poder fazer estas reparações e, garante, aprende todos os dias e já tem na manga várias técnicas de reparação para reaproveitar tudo, incluindo guardar peças de equipamentos para arranjar outros. Recuperar, diz, é um desafio que lhe tem dado gosto.
Mudar o paradigma
A iniciativa foi criada pela empresa municipal Porto Ambiente e contribui para a economia circular, indo ao encontro dos objectivos definidos no Pacto do Porto para o Clima. "Estamos a propiciar a todos os cidadãos uma forma de dar outra vida aos electrodomésticos e ao mobiliário que têm em casa e que muitas vezes nem sabem o que fazer com eles e acabam por deitá-los ao lixo”, explica Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto. Agora, acrescenta, estes equipamentos ganham uma segunda vida, de forma a “mudar o paradigma de uma economia que ainda é muito de desperdício para uma economia que faça circular os produtos e que aproveita ao máximo aquilo que eles podem dar”.
Para que estes equipamentos sejam recuperados, os munícipes podem dirigir-se ao EcoPorto e entregar directamente os objectos ou podem optar pelo serviço de recolha da linha Porto. (220 100 220), que permite fazer a recolha dos materiais ao domicílio, em vez de os deixar na rua ou junto aos contentores. Uma vez no EcoPorto, os equipamentos são analisados, catalogados e, mediante o seu estado, são imediatamente disponibilizados para doação (não são devolvidos aos munícipes que os entregaram, uma vez que não se trata de um serviço de reparação) ou, então, são reparados pela equipa de técnicos para, mais tarde, serem doados.
A grande prioridade das doações são as instituições de cariz social. No entanto, os próprios munícipes também podem recolher os equipamentos gratuitamente, sendo que há um catálogo online com tudo o que está disponível, podendo os interessados reservar de imediato esse equipamento ou irem directamente ao armazém para ver o que há. Desde a abertura do EcoPorto, já foram doados mais de 40 objectos, com um peso superior a 150 quilos.
Reparar em casa? Estas oficinas ensinam
Uma terceira valência do projecto é a formação. “Muitas vezes aquilo que nos chega aqui ao Ecocentro são pequenas reparações que podem ser feitas por qualquer um de nós em casa e, portanto, também estamos a promover a parte da formação, porque queremos uma população informada e que seja capaz de dar vida nas suas casas aos electrodomésticos que têm e não deitá-los fora, quando muitas vezes as reparações são muito mais baratas ou muito simples de executar”, acrescenta Filipe Araújo.
Para isso, há uma programação para os próximos meses, com várias oficinas e workshops que permitem aprender a reparar equipamentos e a reutilizá-los de uma forma diferente. No dia 26 de Outubro, das 10.00 às 12.30, há “consertos de Halloween”, no Auditório Porto Ambiente, para as crianças dos 6 aos 12 anos aprenderem a reparar brinquedos como forma de reutilização.
Já a 9 de Novembro, das 10.00 às 13.00, o Repair Café regressa ao Auditório Porto Ambiente. Lá, vai poder aprender a reparar o seu electrodoméstico com a ajuda de uma equipa especializada. A 18 e 20 de Novembro há ainda sessões de capacitação em diagnóstico e reparação de computadores, com formadores da startup Recycle Geeks. Os interessados vão poder aprender a desmontar, diagnosticar e reparar vários computadores fixos e portáteis, para depois serem doados a instituições de solidariedade social.
Entre os dias 14 e 18 de Dezembro, e com a chegada do Natal, têm planeadas oficinas para os mais novos aprenderem a fazer os seus próprios presentes de uma forma mais sustentável, como, por exemplo, fazer uma vela elaborada a partir de restos de velas, um recipiente decorado e ainda o próprio embrulho, sempre com recurso a materiais reutilizados.
Ecocentro da Prelada, Rua Engenheiro Nuno De Meireles (Porto). Seg-Sáb, 8.30-20.00.
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