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Unidos pela paixão pelos livros, mas também pelo trabalho humanitário que fizeram em conjunto – e onde se conheceram – Inês Matos, Lokas Cruz e Pedro Pedrosa querem fazer mais pela cultura. Ambicionam derrubar muros, democratizar e descentralizar o acesso à literatura e valorizar os autores e artistas. Baseados nesses valores, criaram a Desmuro, uma editora “independente, radical, feminista, queer, progressista, decolonial, anti-poder e anti-carcerária”, tal como se descrevem também. A Desmuro nasceu no início deste ano e já editou o seu primeiro livro flores secas, de Lokas Cruz.
Tudo começou há cerca de um ano, quando Lokas Cruz, médica e activista, pretendia publicar um livro com o seu trabalho poético, mas encontrou desconforto e uma relação demasiado impessoal e afastada com as editoras. “A ideia, inicialmente, seria fazer uma auto-publicação, mas, lentamente, e com as ideias muito ambiciosas e sonhos muito bonitos do Pedro Pedrosa, que fundou uma organização que trabalha em educação para a sustentabilidade, surgiu a ideia de criarmos uma editora e começámos a pensar nisso”, conta Inês Matos, ilustradora e artista portuense. E, pouco tempo depois, a Desmuro estava lançada.
O objectivo desta editora é contribuir para “um acesso livre, vasto e desmurado à literatura e à cultura”, tanto para leitores, como para autores e editores, com obras que, mesmo não sendo “inerentemente políticas”, fazem a diferença. “Sejam livros de ficção, ilustrados, livros infantis ou poesia, são sempre uma ferramenta política para conseguir mudar o mundo — seja pelas imagens ou pelas mensagens que trazem, pela forma como chegam às pessoas. Queremos centrar-nos na ideia, como editora, de que os livros e a literatura podem ser ferramentas para mudar o mundo e que nos permitam aproximar dos valores da justiça social”, sublinha uma das fundadoras.
Por estas razões é que a Desmuro vende apenas livros em livrarias independentes ou em bibliotecas públicas e sociais, com exemplares disponíveis para empréstimo. Actualmente, conta com parcerias com a livraria Flâneur e a livraria Trama, no Porto, e, em breve, haverá também edições disponíveis na livraria Greta, em Lisboa. No entanto, o projecto continua à procura de livrarias independentes em Portugal onde colocar as suas publicações. Além de também estar disponível online, em breve serão lançados e-books e audiobooks do primeiro livro editado.
Outro dos objectivos é contribuir para a melhoria das práticas editoriais em Portugal, nomeadamente, com a implementação de remunerações mais justas para autores e artistas. É por isso que, “ao contrário do que acontece com as demais editoras”, a Desmuro tem um contrato com 20% de direitos associados à propriedade intelectual de cada obra. Na página da editora poderá ser consultada a análise de custo de cada uma das obras, com a descrição do valor a ser oferecido às autoras, ilustradoras, livrarias, custos de produção, entre outros.
O primeiro livro
Flores secas, de Lokas Cruz, foi o primeiro livro editado pela Desmuro. Trata-se de uma série de poemas e textos político-poéticos que “narram as vivências enquanto trabalhadora humanitária nos campos de refugiados na Grécia e no mar mediterrâneo, enquanto activista nas ruas do Porto, bem como, as memórias da vida na sua aldeia de Celorico de Basto”.
O livro tem 12 ilustrações de Inês Matos e está disponível também online. O evento de lançamento aconteceu no dia 6 de Outubro em Celorico de Basto. Segue-se, a 11 de Outubro, a apresentação na livraria Flaneur; a 12 de Outubro em Cabeceiras de Basto, na Livraria Inquietação; e em Novembro e Dezembro será a vez de o livro ser apresentado na Poesia Incompleta e na Livraria Greta, ambas em Lisboa. Para o futuro, a Desmuro caminha sem pressa, estando ainda debruçada sobre o próximo trabalho a ser editado, sendo que está disponível para receber trabalhos e chegar a mais livrarias.