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Em “tempos de resistência e de discussão” está a nascer um Clube de Teatro Activista no Coliseu do Porto

A sala de espectáculos criou um espaço livre para o pensamento e debate, com o teatro como veículo condutor. As inscrições decorrem até 10 de Novembro.

Ana Catarina Peixoto
Jornalista, Porto
Coliseu do Porto
© João OctávioColiseu do Porto
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Um espaço para todos, independentemente da classe social, idade, origem e ideologia. Um grupo democrático que se quer disponível para ouvir, conhecer, debater livremente e, acima de tudo, fazer pensar sobre causas e problemáticas sociais, utilizando o teatro como veículo condutor. No Coliseu do Porto está a nascer o Clube de Teatro Activista, um projecto que une a arte e o activismo, tão intrinsecamente ligados à história desta sala de espectáculos portuense. O clube vai ter sessões semanais entre 14 de Novembro de 2024 e 3 de Julho de 2025, sendo que as inscrições para o projecto decorrem até este domingo, dia 10 de Novembro, e há 25 vagas disponíveis. 

“Vivemos um período de enorme polarização e exigência e temos de ter um pensamento crítico e de intervenção. É aqui que o Coliseu se quer posicionar e sempre se posicionou: conhecer, pensar, agir, ir para a rua, falar para a cidade. Queremos que o Coliseu saia para a rua e que promova o pensamento”, sublinha Miguel Guedes, presidente do Coliseu do Porto. O objectivo é que este clube possa dar origem a várias manifestações artísticas, a ter lugar tanto nesta sala de espectáculos, como um pouco por toda a cidade. 

O lançamento deste Clube de Teatro Ativista marca o início das comemorações dos 30 anos da Associação Amigos do Coliseu do Porto, cuja origem é também um exemplo de activismo popular espontâneo na defesa deste espaço – quando, em 1995, esteve prestes a ser vendido à IURD para ser uma igreja. Miguel Guedes destaca o teatro como "uma das manifestações artísticas mais fundamentais para que se consiga, pela intervenção e pela metáfora, promover a reacção, o conhecimento e o debate". 

“Há um respeito pela nossa história de activismo e de emancipação cultural. Os grandes comícios da liberdade aconteceram no Coliseu do Porto. Estamos ligados a toda essa história de liberdade e democracia e é esse desígnio de interesse público que temos sempre que cumprir em tempos particularmente exigentes, de resistência, de mudança, de discussão e de escolhas", sublinha à Time Out.

"Há uma ideia de inimigos e de trincheiras e estamos a perder capacidade de diálogo"

Na direcção artística e orientação deste projecto está o actor, encenador e professor Pedro Lamares, juntamente com Filipa Godinho, directora do serviço educativo do Coliseu do Porto e que vai estar a cargo da coordenação geral. O actor portuense tem assumido um compromisso social no seu trabalho e no Clube de Teatro Activista não vai ser diferente. “É um trabalho sempre com preocupações sociais, em que trataremos questões como a violência racial, a xenofobia, o problema da habitação, várias questões de exclusão social e de grandes desequilíbrios económicos e sociais”, explica.

Pedro Lamares
DRPedro Lamares é o director artístico do Clube de Teatro Activista

Desde o poético ao dramático e noticioso, as sessões vão utilizar e explorar diferentes tipos de texto, mas ainda antes desse processo será trabalhada a coesão do grupo, tão importante quanto o trabalho artístico que se faz a seguir. "Vamos utilizar metáforas teatrais para tentar, no fundo, desfazer um pouco os princípios sociais em que vivemos: competitividade, individualidade, urgência, ansiedade, pressão do tempo. Começamos a tentar desfazer esses conceitos através dos exercícios teatrais de coro. Depois, serão introduzidos textos, exercícios de voz, aparelho fonador, oralidade”, sublinha Pedro Lamares. 

A partir da responsabilidade colectiva criada, serão escolhidos os temas a serem abordados – “olhando para o mundo, trabalhando a inversão da alienação e combatendo a ideia das fake news, informando-nos, lendo os jornais, procurando conhecer o que está a acontecer no mundo, ouvir o contraditório”. Porquê um Grupo de Teatro Activista? Pela importância de se falar, debater e manter a via do diálogo e da discussão aberta, responde-nos. 

"O que estamos a viver é muito perigoso pelo sectarismo e a polarização. Há discursos que estão a sair da toca e a voltarem a legitimar-se através do espectro político. Há uma ideia de inimigos e de trincheiras e estamos a perder capacidade de diálogo. Estamos num belíssimo momento para nos lembrarmos que somos os agentes políticos da nossa sociedade e que temos a responsabilidade de lutar pela manutenção dessa democracia. Não me parece que seja a chamar monstros aos outros e fechando a hipótese de diálogo que nos consigamos organizar como sociedade. A arte pode ter um papel essencial nesse processo”.

Qualquer pessoa, com ou sem experiência artística, que tenha mais de 15 anos, pode inscrever-se até 10 de Novembro neste clube através de um formulário. Há uma mensalidade de 45 euros, sendo que para as pessoas em situação de desemprego é feito um desconto de 50% e de 20% para os Amigos do Coliseu. As sessões acontecem todas as quintas-feiras, entre as 18.30 e às 21.00.

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