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Apesar de ter enveredado pela barbearia em 2014, o bichinho da restauração nunca saiu de Nuno Silva, co-fundador da barbearia Bigorna e, agora, do Bigorna Social Club. Em 2020, aquando da abertura do espaço na Rua Alexandre Braga, fora instalado um mini bar nos bastidores, “mesmo só para completar a experiência do cliente”, conta Nuno. Em 2024 chegou a altura de o alargar.
Das 11.00 às 20.00, as tesouras continuam em acção, mas às 16.00 entram os shakers e os copos. Pode aproveitar para maximizar o relaxamento do corte com um dos sete cocktails da casa, assinados por Lia Igreja, mas Nuno recomenda a ida ao cantinho do Social Club. A atmosfera é umbrosa e clássica, “de maneira a simular os speakeasy”, revela. Estes eram bares secretos, instalados nas traseiras de estabelecimentos como lavandarias e cabeleireiros, onde se bebia ilegalmente, desafiando a Lei Seca imposta pelo governo americano nos anos 20.
Cem anos depois, do outro lado do Atlântico, não há que preocupar. Ao pegar na carta pela primeira vez, não se espante. Segundo o gerente, vários são os “Que peso!” soltos pelos clientes. Para fazer pandã com o balcão, a capa do menu é feita do mesmo ferro. Nas paredes, o tijolo exposto foi pintado de preto, para simular anos de tabagismo em cadeia, irreplicáveis hoje em dia. Os bancos de pele, em bordeaux, são do exacto tom da mesa de bilhar, no centro. Todos os detalhes foram pensados ao pormenor, de modo a potencializar a fantasia.
Os sete cocktails da casa seguem a mesma linha: “clássicos, mas com um twist”. A Margarita (9€) aqui é “fresca e atrevida”, com sal de vinho tinto e pickles; e o Spiced Pear Collins (9€) acrescenta especiarias e um leve perfume de pêra ao original. Já o Cacao Manhattan (9€) e o Old Fashioned de Los Nobles (10€) encheriam de inveja qualquer bartender de Mad Men. O Pompadour e o Back Spin (ambos 10€), à base de calvados e whiskey, respectivamente, são mais fortes. No entanto, o destaque vai para o No Smoking Inside (10€), um cocktail arrojado, inspirado no negroni, que chega fumegante à sua mesa de bar. Além destes, há vinho, claro, de mesa e fortificado, e também cervejas e as mais clássicas bebidas espirituosas.
Para promover o convívio, Nuno diz faltar uma componente quase essencial, mas que já está a ser arquitectada: os petiscos. “Não temos cozinha aqui, nem maneira de a instalar, então serão sempre coisas simples”, revela, “só mesmo para acompanhar a bebida”. Nesse sentido, o Bigorna conta receber, algures nos próximos meses, um evento de showcooking, onde chefs vão demonstrar e dar a provar exemplos do que se pode cozinhar sem fogão.
Durante a tarde, o ASMR das tesouras e a banda sonora tranquila convidam a conversas íntimas entre funcionários, clientes e amigos. Mas, a partir das 20.00, as luzes da frente baixam e o volume aumenta. As cadeiras de salão dão lugar aos bancos do bar; os pentes aos tacos de bilhar. É neste momento que a atmosfera ambicionada por Nuno Silva para o Bigorna Social Club se concretiza completamente. “Não damos grande sinalização ao bar lá fora, só uma plaquinha”, conta, “queremos mesmo que as pessoas fiquem a pensar: 'O que é aquilo ali ao fundo?' e tenham curiosidade de entrar”.
O véu de mistério e exclusividade cai ligeiramente à sexta-feira e ao sábado, com DJs locais nos decks, entre as 19.30 e as 22.30, numa espécie de aquecimento. Para o futuro, há promessas de torneios de bilhar amador, sempre num registo relaxado.
Rua de Alexandre Braga 62. 913 422 588. Ter-Sab 16.00-00.00.
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