[title]
Imagine um mergulho no mar, a saber a sal e a algas, tão impactante quanto refrescante. Assim são grande parte dos pratos do Escama – Sea Cuisine, o novo restaurante na Rua de Mouzinho da Silveira, no Porto, aberto em meados de Fevereiro, com uma cozinha bem feita, muita atenção aos produtos que vêm do oceano e carregada de sabor.
A decoração do espaço dita um tom industrial-amazónico. Estruturas em metal guardam uma garrafeira com cerca de 70 referências de vinho — predominam aqui vinhos de pequenos produtores, sobretudo orgânicos e frescos, com pouca intervenção humana e alguns de séries limitadas, dos quais só se produzem cerca de 2000 ou 2500 garrafas. E as muitas plantas de folhas largas e viçosas, troncos de árvores incrustados nas paredes de pedra e candeeiros de palhinha, que aquecem o ambiente com as suas cores quentes, dão-lhe um lado mais exótico e tropical. Mas são as garrafas de vidro transparente sobre as mesas que nos levam de volta à beira-mar.
Dentro delas há areia e seixos da praia e um menu enrolado no gargalo, como se de uma mensagem à deriva ou de um mapa do tesouro se tratasse. Pão com azeite e manteiga de ostra (6€/duas pessoas); um saboroso hummus de tremoço, abrilhantado por espuma de cerveja, malagueta e cebolinho (3€); escabeche de mexilhão e anchovas (4€); salmão fumado caseiro com funcho e creme de rábano, muito leve e aromático (4,5€); e ostras ao natural com flor de sal e lima (6,5€) compõem este portentoso couvert.
Depois, robalo com ananás, limão e um toque de Malibu (7€), sopas de peixe com cevadinha, enguia fumada e algas (8€) e tarteletes de cavala fumada com tártaro de beterraba e creme de rábano (11,50€) são servidos como entradas ainda antes dos pratos principais.
Vasco Amaro, um dos sócios deste Escama e de mais dois restaurantes na Ribeira, o Terra Nova e o Taberna Rio, conta que desta vez a aposta foi outra. "Queríamos começar a trabalhar mais com o público português e encontrar um espaço maior, num edifício com alguma história, que nos permitisse fazer mais coisas. Este tem capacidade para 60 lugares e um piso superior que poderá ser usado para jantares privados ou eventos vínicos, por exemplo”, diz, acrescentando que esperam em breve ter também uma esplanada.
Aqui para o Escama trouxe Rafael Gomes, chef do grupo e com uma série de passagens por cozinhas de restaurantes com estrelas Michelin no currículo. “Ele começou por desmontar carcaças de animais e acabou a trabalhar com o Gordon Ramsay”, ri.
Entretanto, chega à mesa o arroz do mar com cantarilho ao vapor, sapateira, lingueirão, ouriço-do-mar, berbigão, vários tipos de alga e espuma de sapateira a fazer lembrar a espuma das ondas (29€) — um prato que equivale a um belo mergulho de cabeça. Muito bom é também o pregado na brasa com batata trufada, espargos brancos, tupinambur, couve em pickle braseada e mostarda em grão (26,50€) e o cordeiro assado na brasa com crumble de raz-el-hanout, uma mistura de especiarias marroquinas, com batata doce e puré de alho negro (25,50€).
Depois, a muito aconselhável tarte de citrinos com gelado de tangerina (7€) e um bojudo e crocante profiterole de chocolate com mousse de chocolate e cognac (9€) para rematar a refeição. Se quiser entregar o leme ao chef, escolha os menus de degustação com quatro (45€) ou seis momentos (60€), que incluem muitos destes pratos e que podem ser harmonizados com quatro bons vinhos (25€). Apanhe este barco, entre na onda e deixe-se levar.
Rua de Mouzinho da Silveira, 203 (Baixa). 913 595 551. Qui-Seg 12.00-15.00; 19.30-22.15.