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Num percurso pelas ruas do Porto, numa Noite de Inverno, um autor procura inspiração para escrever e precisa de sair para à rua para o conseguir fazer. Noutra noite, uma Noite de Verão, a história e o cenário são diferentes e contam o momento em que dois millennials se encontram, por acaso, numa estância de férias abandonada e partilham, sem qualquer cobrança ou conflito, os seus medos, ambições e anseios.
Depois de Noite de Primavera, em 2017, e Noite de Outono, em 2021, o dramaturgo e director do Teatro Nova Europa, Luís Mestre, regressa ao Teatro Municipal do Porto - Rivoli para apresentar os últimos dois capítulos da sua Tetralogia das Estações. O espectáculo duplo Noite de Inverno + Noite de Verão estreia nos dias 13 e 14 de Dezembro, a partir das 19.30, e vai ser apresentado no palco do grande auditório.
Os dois espectáculos são a conclusão de um projecto que durou sete anos. “Fui fazendo também outras coisas pelo meio deste projecto, outros espectáculos, mas para mim é importante esta noção de tempo de escrita. Quando surge o momento certo, nós vamos lá e atacamos a escrita, embora eu esteja sempre a escrever na minha cabeça”, explica Luís Mestre à Time Out.
A noite de cada estação
Apesar de as duas histórias terem em comum o facto de acontecerem durante a noite – um aspecto que agrada particularmente a Luís Mestre – elas são bastante diferentes entre si, associadas ao sentimento e estado de espírito de cada estação do ano. “Na Noite de Verão há uma jovialidade, a Noite de Inverno é algo mais profundo. Já Noite de Outono foi sobre o fim de vida de um actor e a Noite de Primavera acaba por estar relacionada com um certo rejuvenescimento e recomeço. Na verdade, as quatro são muito diferentes. Tenho sempre uma ideia para contar uma história e perco muito tempo, no bom sentido, a procurar o veículo certo para a contar. E todas as minhas peças têm veículos diferentes", descreve.
Na Noite de Inverno, um autor precisa de sair à rua, de andar, de sair do confinamento imposto pela pandemia para encontrar de novo inspiração para escrever. O percurso segue desde a rua 5 de Outubro à rua da Boavista, Trindade e Aliados, mas acaba por encontrar uma cidade vazia. Começa, então, a cruzar o que vê com uma ficção que vai pensando à medida que caminha e percorre as suas memórias fracturadas, desenhadas no território delicado entre as esferas pública e privada. “A identidade, as histórias e as suas origens são vagas. A pressão flutua à medida que o drama e os segredos se desenrolam e mudam a distribuição de energia”.
Há uma descrição pormenorizada da acção, do percurso que é feito pela intérprete Teresa Arcanjo. “O facto de haver muitas camadas traz mais movimento à própria palavra. A palavra não se perde nela própria. Há esta ideia de escrita em tempo real e depois a intérprete consegue acabar a viagem. É uma viagem de uma noite, que começa ao final do dia e acaba de manhã já em casa. É-nos dada essa viagem de um autor que tem uma extrema necessidade de sair à rua para andar a pé”, reforça o dramaturgo, acrescentando que se inspirou na ideia do escritor Michel Houellebecq, “que referiu que é absolutamente imperioso um autor sair à rua e caminhar para escrever, e mesmo para a sua própria sanidade mental”. Para ajudar a visualizar todo o percurso e acção, Luís Mestre chegou a percorrer a pé a cidade com a actriz.
Na quarta e última noite, a Noite de Verão, o sentimento e vivências são diferentes. Os dois millennials partilham as suas visões e ideias sobre como vêem o mundo, “mas é uma peça sem conflito”. “Não estão em conflito e nem tentam impor a sua opinião sobre o outro, algo que acontece muito no mundo de hoje, principalmente nas redes sociais. É um espectáculo mais fluido, em que não vemos imposições, em que falam desde a pobreza às questões climáticas”, explica Luís Mestre, acrescentando que “há uma partilha constante” entre os dois.
Além das duas peças, no dia 13 de Dezembro, às 21.30, será feito o lançamento da obra dramática Tetralogia das Estações, sendo que o livro vai ser apresentado por Vanessa Ribeiro Rodrigues, jornalista, professora universitária e documentarista, em conversa com o autor e com Ana Moreira, atriz, realizadora e autora do prefácio.
Praça D. João I (Porto). 13 Dez, Sex, 19.30. 9€
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