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Por estes dias, entrar na Reitoria da Universidade do Porto é como descer às profundezas do oceano, onde os ecossistemas que outrora prosperavam batalham diariamente pela sobrevivência face a uma ameaça sem precedentes: o plástico. Monstros Marinhos, exposição que integra o programa de comemorações dos 20 anos do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) e a campanha Ocean Action Hub, traz um conjunto de esculturas e instalações de Ricardo Nicolau de Almeida ao pórtico de entrada e ao pátrio interior da UP, onde podem ser vistas até 31 de Dezembro.
Entre as peças que compõem a exposição, há um polvo mirabolante com grandes tentáculos que são tubos de plástico; um peixe azul de olhos esbugalhados cujo corpo é um bidão de combustível ou plantas marinhas feitas de redes e cordas de pesca; uma série de rostos humanos coloridos que, ironicamente, ocupam a chamada “sala dos idiotas”; um conjunto de vitrines que mostra um degradé de objectos numerosos e repetidos vindos na corrente, numa componente quase museológica, ou uma instalação site-specific que mostra a variedade de formas e cores do lixo marinho.
Todas as esculturas foram construídas com plástico recolhido de várias praias do Grande Porto pelo artista, que já há alguns anos se dedica à ocean trash art. Natural de Nevogilde, Ricardo Nicolau de Almeida começou por recolher o lixo das praias que lhe serviram de pátio de brincadeira, mas rapidamente estendeu o seu trabalho a toda a orla marítima do Porto – em 2019 apresentou, inclusive, uma escultura feita com materiais de toda a costa portuguesa no Melting Gastronomy Summit.
“Recolho estes materiais e uso-os em instalações para mostrar as peças e para as pessoas terem noção do que aparece e da quantidade [de plástico que vem do mar]”, afirma o artista no vídeo de apresentação da exposição. Além de alertar o público para a dimensão da presença do plástico nos ecossistemas aquáticos e o crescente envenenamento das espécies que os habitam, Monstros Marinhos apela à “necessidade de auto-reflexão e auto-crítica sobre o impacto que estamos a ter sobre o nosso oceano, para que possamos ter um oceano mais limpo”, comenta José Teixeira, curador.
O cruzamento entre arte e ciência é, a seu ver, uma ferramenta eficaz para aumentar a sensibilização ambiental, a literacia para a preservação dos oceanos e, sobretudo, activar a mudança de comportamentos, uma vez que “pode permitir passar a mensagem de uma forma bonita, artística, que mexa com os sentimentos e emoções das pessoas”. A exposição tem entrada livre e pode ser vista de segunda a sábado, das 10.00 às 18.00.
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