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Exposição mostra obras criadas por trios de escritores, artistas plásticos e músicos

'De Casa para um Mundo' reúne 15 trios de conhecidos escritores, artistas plásticos e compositores, que criaram obras multidisciplinares à distância. A exposição fica na Biblioteca Municipal de Cerveira até 13 de Setembro, no âmbito da Bienal de Cerveira.

Escrito por
Maria Monteiro
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“Num eterno domingo/chora a beleza sentada à/janela:/não se pode mostrar a/ninguém”, escreveu Maria do Rosário Pedreira, condensando em 15 palavras a angústia, melancolia e apatia que irromperam pelas nossas vidas durante os meses de confinamento. Depois, a escritora e editora passou os versos a Isaque Pinheiro, artista plástico que os acolheu de braços abertos e lhes deu uma casa feita de latão e aço zincado, pintado e envernizado.

Aberto de segunda a sábado, uma espécie de ready-made com a forma de uma cortina, evoca o mundo visto pela janela e o isolamento social que todos experienciámos nesse período incluindo Carlos Marecos, compositor e intérprete, a par de Maria Marecos, de à janela, de uma casa antiga, peça de piano e electroacústica que completa a obra multidisciplinar criada a seis mãos. 

Este é apenas um dos 15 trios que compõem De Casa para um Mundo, que está até 13 de Setembro na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira, no âmbito da XXI Bienal de Cerveira. A exposição reúne consagrados escritores, artistas plásticos e compositores que criaram juntos à distância. O projecto surgiu por iniciativa do escritor Manuel Novaes Cabral e do artista plástico Sobral Centeno, com o objectivo de combater a inércia e o marasmo do confinamento.

De casa para um mundo
Obra de Isaque Pinheiro, Maria do Rosário Pedreira e Carlos Marecos© Isaque Pinheiro

“A ideia era criar conversas e ligações em dois planos, entre pessoas que estavam afastadas e expressões artísticas diferentes”, refere Fátima Lambert. A curadora e os mentores do projecto fizeram um brainstorming colectivo via Zoom e decidiram seleccionar 15 nomes de cada área, privilegiando diferentes gerações e diferentes linguagens. “Interessava-nos destacar esses artistas, porque o nosso tempo é feito de pluralidade”.

Foi assim que se emparelharam “triplas” como Capicua, Albuquerque Mendes e Ana Seara; Afonso Reis Cabral, Ana Fonseca e Pedro Pinto Figueiredo; Gonçalo M. Tavares, Pedro Calapez e Sérgio Azevedo; Filipa Leal, Zulmiro de Carvalho e António Victorino d’Almeida, entre outros. Apesar da amplitude e diversidade das suas práticas artísticas, todos tiveram o mesmo ponto de partida: um texto de 15 palavras, que poderiam ser manuseadas para criar uma ou duas frases soltas ou uma linha vertical de poesia em verso livre, por exemplo. “Também aí houve um confinamento”, nota Fátima Lambert, que recebeu vários pedidos para aumentar o limite de palavras. 

Mas regras são regras e os escritores tiveram de batalhar para economizar a sua matéria-prima. O mesmo aconteceu com as obras plásticas que se inspiraram nos seus trabalhos. Utilizando desenho, pintura ou técnica mista, tiveram de ser produzidas num suporte bidimensional com o máximo de 100cm x 100cm. “Essa dimensão é quase [a de] uma janela, o que é uma metáfora em si”, ressalva a curadora. Já os compositores tiveram que elaborar uma peça com o mínimo de 15 segundos e máximo de cinco minutos.

De casa para um mundo
Obra de Filipa Leal, Zulmiro de Carvalho e António Victorino D'Almeida© Zulmiro de Carvalho

Embora condicionados (também) criativamente, os artistas criaram obras que “abordam a essa substância de confinamento e a ideia de sair não para o mundo, mas para um mundo incerto e indefinido”. As peças em exposição serão acompanhadas de uma tabela com o texto inicial e respectivo autor, legenda da obra plástica e da composição musical. Esta poderá ser ouvida através de um QR Code que remete para a app da bienal (aconselha-se o uso de fones para ter a experiência completa).

O projecto conta, ainda, com o contributo de cinco designers, que fizeram os cartazes de divulgação do evento “com linguagens estéticas muito díspares”. O casamento de disciplinas poderá não ficar por aqui, já que a ideia é levar a exposição a outras latitudes e, com isso, acolher as abordagens que não couberam aqui. “Queremos que as obras façam o que nós não podíamos fazer quando conceptualizámos a exposição: que se movimentem”.

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