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O palco é um terminal, um espaço sem localização concreta, onde crescem do chão grandes raízes que tudo engoliram e onde o tempo está suspenso. Quatro actores e dois músicos habitam este terminal, contam as suas histórias e perspectivas e, sem saberem, vão adiando o fim do mundo e tentando encontrar uma saída. Vivem num impasse: estarão a caminhar para o fim de linha da humanidade ou em direcção a um novo futuro? Terminal (O Estado do Mundo) é uma criação da companhia Formiga Atómica que é apresentada entre esta quinta-feira, dia 24 de Outubro, e domingo, 27, no Teatro Nacional São João (TNSJ).
Com texto de Inês Barahona e encenação de Miguel Fragata, a obra constitui o segundo espectáculo de um díptico iniciado em 2021 com O Estado do Mundo (Quando Acordas). As duas peças são diferentes, direccionadas para públicos distintos, mas com uma visão comum. “Trata-se de uma preocupação, de uma inquietação em abordar a crise climática e pensá-la tendo em conta o papel e a responsabilidade do teatro”, explica Miguel Fragata à Time Out. Este segundo espectáculo, acrescenta, é dirigido a um público mais adulto e aborda “esta ideia de resposta, de saídas deste impasse em que a humanidade se encontra”.
Cada uma das quatro personagens representa uma perspectiva e olhar diferente perante a crise provocada pelas alterações climáticas. Há o homem da mala, que representa aqueles que olham para o sistema e acreditam nele; a cidadã comum, que está agarrada a uma ideia de passado e imagina apenas uma perspectiva utópica para o futuro; a mulher sem raiz, consciente da necessidade de mudança, mas que quer fazer o seu caminho sozinha; e ainda o cidadão que se aproxima da figura do activista, que reconhece o problema e a necessidade de mudar e não vê outra forma de saída a não ser começar tudo de novo. Todos juntos vão tentar resolver este impasse, acompanhados da música ao vivo de Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves.
Um terminal para “imaginar outra forma de viver”
A obra partiu de um extenso processo de pesquisa em 27 cidades de norte a sul do país, passando pelos Açores e ainda por duas cidades francesas para ouvir e conversar com as comunidades sobre as mudanças ocorridas nos seus territórios. “A pesquisa permitiu-nos perceber, no terreno, de que forma é que as pessoas olham para a crise climática. Foi uma pesquisa em que levámos a cabo muitas actividades, convocando pessoas de várias áreas diferentes, que desenvolveram várias propostas e permitiram-nos ouvir, de facto, como é que se posicionam perante esta questão”, explica o encenador.
A narrativa nasce inspirada nesse trabalho de campo. Não pretende, no entanto, oferecer uma resposta concreta, nem criticar comportamentos específicos, mas sim aproveitar o poder do teatro para fazer pensar e reflectir e oferecer uma abordagem mais simbólica e metafórica, que permite “falar sobre o problema, sem nunca o especificar concretamente”.
“Ficou claro para nós que era contraproducente falar a um público adulto – com consciência da problemática e com sensibilidades diferentes, que podem ir desde a recusa, à negação, a uma aceitação e consciência do problema – de uma forma muito directa, porque poderia resultar na necessidade de fuga, de não querer pensar sobre o assunto", sublinha Miguel Fragata. A narrativa tem "uma espécie de ancestralidade" e inspiração mitológica nas grandes histórias fundadoras da humanidade, “para imaginar o caminho preferível e esta espécie de nova cosmogonia em que o homem se pode posicionar".
Terminal (Estado do Mundo) está, de alguma forma, relacionado “com uma ideia de fim, mas não necessariamente enquanto fim do mundo”. “Talvez o fim de uma certa visão ou perspectiva da humanidade, porque a crise climática é também uma crise de imaginação, na medida em que estamos todos com grande dificuldade em imaginar uma outra forma de viver, um outro sistema”, acrescenta.
Praça da Batalha (Porto). 24 Out-27 Out, Qui e Sáb, 19.00; Sex, 21.00; Dom, 16.00. 10€-40€
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