[title]
Desde 2018 que a Mostra Estufa tem funcionado como um laboratório e um trampolim para novos projectos de circo contemporâneo e as suas diferentes linguagens, técnicas e dramaturgias. Programada pela companhia Erva Daninha, em co-produção com o Teatro Municipal do Porto, esta iniciativa põe o foco em criações que encontram aqui a sua primeira vez em palco e que, na sua maioria, “vão continuar a ser desenvolvidas no futuro”, diz Vasco Gomes, director artístico da Erva Daninha em conjunto com Julieta Guimarães, também responsáveis pelo Trengo, festival de circo no Porto.
Nesta terceira edição da Estufa, os trabalhos apresentados têm “uma forte relação com o movimento, a música e a instalação plástica”, assinalando o lugar que a multidisciplinaridade ocupa nas correntes estéticas actuais do circo. Em Fome de Lama, o artista brasileiro Douglas Melo parte do trabalho de Josué de Castro – médico, professor, cientista social e activista no combate à fome no Brasil – para explorar o “equilíbrio interno e externo do Homem” na corda bamba. Esta peça conta com sonoplastia de The Bboy Wanna Be DJ e com cenografia de Tânia Cunha, ilustradora e animadora 2D e 3D.
Segue-se Entre-Lugar, de Joana Martins, artista e co-criadora da companhia de circo e dança Coração nas Mãos, sediada em Vila do Conde. Neste espectáculo com música ao vivo de André Marques, o trapézio é o protagonista, em diálogo com o chão e um emaranhado de corda. Por fim, entra em cena Leonardo Ferreira com Errance /Frequência #1, “uma atmosfera flutuante num cosmos hipnótico-dramático” onde o performer formado no Centre National des Arts du Cirque/ CNAC (uma das mais bem cotadas escolas de circo da Europa) mostra a técnica e linguagem que tem vindo a desenvolver no mastro chinês, em cruzamento com a dança e a acrobacia.
“Olhando para estes três trabalhos, temos aqui três técnicas bastante distintas”, nota Vasco Gomes. “Nos intervalos entre cada apresentação, vamos ter vídeos que relatam o processo de montagens e a chegada dos artistas ao teatro”, acrescenta o programador. “O público muitas vezes não imagina o quão meticulosas são estas montagens e todas as dinâmicas de ocupação de espaço.”
Apesar de não ser uma área completamente esquecida, o circo contemporâneo ocupa uma presença muito menor nas instituições culturais do que o teatro, a dança ou até a música. Ainda “é difícil” ter “um circuito nacional que entre dentro destas programações”, assinala Vasco Gomes. Para o artista e programador, uma das barreiras é o preconceito de que “tudo o que é circo tem de ser para um público jovem ou infantil, e que tem de ser adaptado para uma linguagem que possa ter uma escola” a assistir. “Isto limita muito a criação e o próprio circuito.”
Ainda assim, aponta Vasco Gomes, “as coisas estão a crescer”. “Há espaços com o Teatro Municipal do Porto, que nos tem apoiado na Mostra mas também à companhia nas co-produções. E há exemplos como nós pelo país, de projectos a crescer e a dar resposta ao público – porque o público tem vontade e interesse em ver circo contemporâneo.” Também por isso, a Mostra Estufa desempenha um papel importante na “projecção” dos artistas de circo, procurando trazer-lhes uma visibilidade que permita que sejam “reprogramados noutros lugares”. “Felizmente isso tem acontecido. Os projectos que programamos têm tido continuidade.”
Teatro Municipal Campo Alegre. Quinta 19 e Sexta 20 às 19.30. Bilhetes: 7€