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O interesse pela língua gestual veio da curiosidade, explica Ana Bela Baltazar. Esta despertou quando visitou uma associação de surdos e, pela primeira vez, ficou a conhecer pessoas que viviam com esta incapacidade. Ao conviver com elas e com os desafios que enfrentavam, o interesse foi aumentando. Quando teve a oportunidade de fazer formação, agarrou-a.
Vinte e sete anos depois pouco lhe falta fazer na área. Já trabalhou como intérprete em conferências, palestras e workshops, e como oradora e formadora em seminários. De tudo o que fez e faz, o que lhe dá mais gozo é traduzir a informação na RTP. “É muito exigente e obriga-me a acompanhar as notícias, a própria língua gestual e os gestos que vão surgindo, para fazer um bom trabalho”.
Outra área da qual gosta bastante é a de tradução nos tribunais, porque sente que sem a sua presença “na grande maioria das situações a verdade não vinha ao de cima”. O único dicionário online de língua gestual portuguesa é um dos seus últimos projectos. Surgiu oito anos depois do lançamento de um outro em papel, também da sua autoria, e já pode ser consultado, gratuitamente, no site da Infopédia.
É composto por mais de 5300 entradas, acompanhadas por um vídeo demonstrativo, uma descrição escrita do gesto e uma imagem com a configuração correcta das mãos. Apesar do grande número de entradas, Ana já fala na possibilidade de o dicionário ser aumentado, uma vez que “a língua gestual está em constante desenvolvimento e sofre alterações”.
A também psicóloga clínica acredita que, nos últimos anos, o conhecimento do país sobre a língua gestual “deu um salto exponencial”, graças, em parte, “ao investimento das televisões, pelo que agora raramente se vê um programa sem intérpretes”. Mas diz que ainda há muito para aprender – “isso consegue-se com educação” – e salienta que muitas das conquistas foram conseguidas por causa de obras como o dicionário”.
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