[title]
Numa família de 16 irmãos, Gastão Celestino Teixeira foi o único a herdar o vício do pai pelo rio. Abraçou-o de tal forma que, ainda hoje, todas as manhãs, excepto nas de domingo, “porque um homem também tem de dedicar um tempo à família”, parte da Madalena, onde vive, em direcção à Ribeira. À sua espera tem O Lobo do Mar, um barco azul que utiliza há mais de 20 anos para resgatar os corpos de quem cai ou se atira ao Douro.
Desde que aqui chega, por volta das 09.00, até à hora de regresso a casa, pelas 19.00, o olhar está sempre atento (mesmo durante esta conversa). Quando nota algo que não pertence às águas do rio, assume a missão de o resgatar. Enquanto tiver forças é um trabalho que quer continuar a fazer, revelou o homem que se recusa a perder um corpo para o rio e que há muito perdeu a conta aos que já resgatou.
Apesar do colete da Protecção Civil que lhe deram pela ajuda, o seu trabalho é totalmente voluntário. Nunca recebeu nenhuma compensação financeira pelo que faz e conta que também nunca o pretendeu. Por instantes fica com os olhos marejados e relembra a impotência que sentiu quando o motor do seu barco avariou e se viu incapaz de suportar o custo.
Para quem sofre quando não consegue chegar a tempo (numa missão que não lhe dá muita margem de manobra), não poder sair de terra é ainda pior. Por sorte, emprestaram-lhe um motor e, entretanto, amigos e familiares conseguiram juntar o dinheiro de que precisava.
Em 2016 foi distinguido com a Medalha de Mérito de grau ouro pela Câmara Municipal do Porto. Apesar da felicidade que sentiu pela “honra”, explica que as verdadeiras medalhas são outras. Como a vez em que um jovem de 16 anos saltou da ponte Infante D. Henrique. “Quando me avisaram, peguei no barco e fui até lá. Resgatei-o com vida e penso que ainda hoje vive. Depois, o pai veio cá agradecer-me e dar-me um abraço. São essas as medalhas que tenho”, concluiu.
+ Herói local. António Bessa, o pintor do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa